CAÇAPAVA e região

Minha querida Praça da Bandeira !!!

PraçaImagem inesquecível da minha adolescência, a Praça da Bandeira por volta das onze e meia, meio dia, quando  saíamos do período matinal.  Imagino como num filme em plena primavera, céu de um azul infinito, Ray Charles no OAP Bandeirantes cantando “I can’t stop loving you”  e a toda aquela  geração,  tomando conta da praça, com seus uniformes de saias pregueadas azul marinho ou plissadas bordô que por sinal eram dobradas no cós para nos mostrar alguns generosos e sensuais centímetros acima dos joelhos,  numa acirrada competição entre elas e para a rapaziada um desorientador colírio graças a Mary Quant.  Comentei  a respeito com Sérgio Fujarra, e ele relembrou que naquela época, o carro não fazia parte do nosso dia a dia, andávamos muito a pé, de bicicleta ou de charrete quando íamos para o Clube Jequitibá.

Ali foi o começo de tudo.  Coloridas manhãs, nostálgicas tardinhas e os silenciosos  finais do período noturno. Conheço casais que começaram nesta época e estão juntos até hoje.  O grande aprendizado de vida, as amizades, os flertes, as fofocas, pegar na mão pela primeira vez, o inesperado beijo na boca, enfim éramos simples e felizes aprendizes.

Voltando ao colégio. Os desfiles de 07 de setembro e 14 de abril, a fanfarra com seus marciais que sentíamos de longe no estomago. Os troféus conquistados graças ao know how do nosso saudoso Boy,  a comissão de frente e porta bandeira da escola a qual tive a honra de participar. As festas Juninas, os inesquecíveis “Jogos de Inverno”, tudo sob a batuta do nosso carismático Raif Mafuz e o inesquecível corpo docente, que sempre contava com os mais sérios e simpáticos professores e professoras.

Vinha  galera de todo o Vale do Paraíba, inclusive de São Paulo e Rio. O Pierrinho, além do “Brasinha”, cria o “Asgaf”. Os aniversários de 15 anos, terninho, gravata “Bat Masterson” e pra finalizar os glamorosos bailes de formatura: smoking, Lancaster, Cuba libre, Old Eight, Minister, Orquestra Tabajara, e outras coisas dos anos dourados. Terminei  a 4º série ginasial em 1968, o ano que nunca mais vai acabar. 

Vietnã, estudantes e queima de sutiã em Paris,  “Primavera de Praga”,  beatniks na Europa, hippies nos Estados Unidos, Martin Luther King, 60 mil no Central Park, os 100 mil da UNE no Rio, Pasquim, AI-5, Tropicália, Chacrinha (lembra Ruy do Pandeiro, tomamos café com ele num boteco na São João com a Ipiranga) os festivais da Record em São Paulo e na taiada com Erasmo, Vanusa e outros, nos famosos “Fecovap”. Enfim, tudo muito rápido.  Em 63 Kennedy sai de cena, em 64 entra Castelo em Brasília e sai de cena em 67 numa colisão aérea no nordeste.  

Juram até hoje que  o exímio aviador  acrobata não viu o pequeno avião,  e por falar em acrobacia, no início do ano letivo, com toda aquela neblina política, a nossa querida  professora de português Carmem Silva, me incumbe valendo nota,  entrevistar o nosso saudoso e grande intelectual, professor  e folclorista  Francisco Pereira da Silva, “Chico Triste” que por sinal não tinha nada de triste e sim  muita seriedade, conhecimento e sensibilidade sobre a tensa realidade do país.

Fiquei honrado e sabia do risco do emocionante dever de casa, o que ouvi e gravei foi um sincero e lúcido desabafo sobre o truculento estado policialesco em que vivamos. Hoje, entendo porque o achavam triste.

“O mundo não merece gargalhadas” –  C. Drumond

wagner veiga peqWagner Veiga, é artista plástico, caçapavense e muito meu amigo!