Comandante Niltinho

Comandante Niltinho: O Brevê !!!

Cap4 – Paulistinha, do Aero Clube de Tupi Paulista
 
Eu sinto que esta na hora de contar, como tudo isto começou, isto é, como aprendi a voar!
 
Tem gente que nasce com o dom e faz as coisas tudo certinho, e ai, tudo bem, acaba aprendendo a voar direitinho e coisa e tal.
 
Para mim, no entanto, que nasci sem o dom de voar e  nada fiz de certinho, foi muito mais difícil e caro. A única coisa que eu tinha era a necessidade de aprender a voar, pois não aquentava mais aqueles pilotos, que me faziam  gastar dois vôos, só porque não gostavam de dormir na fazenda, hora em função do medo da malária, hora por causa das muriçocas (e como tinha!).
 
Como a minha fazenda era de varjão, na beira da Ilha do Bananal, passava seis meses debaixo dágua, e neste período eu só ia de avião, dependia tremendamente deste meio de transporte.
 
O bom mesmo seria ter um mas, como o avião é incapaz de voar sozinho e eu sabia que não ia tolerar por muito tempo alguém voando para mim, só restava então tornar-me piloto!
 
Só que esta idéia quase matou meu pai, e o pior, ele era meu sócio, e era tão contra, que isto me afetou tremendamente na hora em que mais precisava de tranqüilidade para poder aprender a voar!
 
Sofri tanta pressão que acabei fazendo justamente aquilo que ninguém deve fazer: comprar um breve!
 
E foi isto mesmo que fiz, pois acabei recebendo o breve sem merecer, sem ao menos saber como pousar um avião!
 
Mais tarde acabei pagando muito caro por isto e esta é a história que eu vou contar a vocês!
 
Estava com vinte e nove anos, quando tudo isto começou, não tão velho para começar a voar, pois o que limita na aviação não é a idade e sim o exame de saúde, este sim, tem o poder de tirar qualquer piloto da circulação, com vinte ou setenta anos!
 
Peguei minha primeira esposa e minha filha Marluce que tinha uns quatro aninhos e fui para Tupi Paulista aonde morava meu saudoso sogro!
 
Lá tinha um aero clube, daqueles bastante modesto, que lutava com as dificuldades financeiras habituais, sobrevivendo graças a amantes da aviação como o Doutor Ulisses, grande instrutor, (a quem devo minha formação), o Sr. Guerra do cartório e outros mais.
 
Confesso que neste momento a minha intenção era de fazer um bom curso, queria aprender a voar, pois sentia a necessidade de sair dali como um bom piloto, sem a intenção de fazer o que acabou ocorrendo, dou a minha palavra de honra.
 
Logo que chequei paguei o curso à vista (felizmente nesta época chovia na minha roça), e com isto, acredito eu, adquiri certa moral entre todos, e logo fiz amizade com o instrutor, Doutor Ulisses!
 
Ele não só ensinava-nos a voar como também a respeitar o avião! Nunca me esqueço que a primeira coisa que ele fazia quando chegava na pista era fazer todo mundo sentar na grama embaixo das asas do Paulistinha e aí passava-nos suas experiências, necessárias para fazer de nós não apenas pilotos, mas grandes pilotos, com responsabilidades, respeito ao passageiro, respeito para com o avião!
 
Ele nos ensinava a conversar com o avião! Dizia, que quem não o escutasse, nunca seria um bom piloto!
 
Não é necessário você comandar o avião. Ele voa muito melhor sozinho, desde que você seja capaz de estabilizá-lo, o que só fui entender muito anos mais tarde, quando vim voar nos garimpos!  Aí sim, vi o quanto era importante sentir o avião! Quem não for capaz de senti-lo, seria um mero empurrador de manetes e não um piloto!
 
E assim fui levando a minha vidinha de aluno, acordava lá pelas oito, tomava um belo café da manhã que o sogro patrocinava, ia para o aero clube, pegava umas aulinhas teóricas, estudava até a tarde,e depois ia para a pista fazer uma hora de vôo no cap4, o famoso Paulistinha!
 
O tempo foi passando, e enquanto isto a fazenda ficou sob os cuidados de meu pai, que, não agüentando o aumento dos encargos, reagiu botando-me contra a parede, concedendo-me uns dias de prazo para retornar, caso contrário, romperia comigo!
 
Meu amigo, vejam só em que situação me meti! Já tinha sido aprovado nas provas teóricas, só me faltando mesmo, as quarenta e cinco horas das provas  práticas, porem cadê o tempo?
 

 

Fazendo uma hora por dia, iria gastar no mínimo sessenta e cinco dias, aí meu pai já teria me deserdado! Sem alternativas, tratei de encontrar uma saída, fui falar com doutor Ulisses!
 
Dr. Ulisses, na pescaria, sua segunda paixão!
 
“ – Você está louco Niltinho? Você tem até agora umas cinco horas, não fez nenhuma manobra e quer marcar presença no próximo exame! Simplesmente você vai ser reprovado, agora eu vi, você é maluco mesmo!
– Mas doutor Ulisses, já lhe contei que o problema é familiar! Só me resta uns vinte dias! Estou entre a cruz e a espada, me entenda, por favor! Vamos fazer o seguinte: o senhor me inscreve para o exame em Marilia, que vai ser justamente daqui a vinte dias, e até lá me ensina a pousar e decolar, largando de mão essa tal de manobras, que o resto eu me garanto!”
 

Maldita hora em que eu convenci a fazer isto pois, só mais tarde é que fui entender que na aviação, não se pode queimar etapas, o custo é caro, envolve vidas humanas, e vai por aí afora!
 
No outro dia começamos a fazer pouso e decolagem apenas, e, lá pelo final da outra semana, disse:
 
“ – Acho que estou pronto para solar o avião (fazer o primeiro vôo sozinho)!
– Você esta com esta coragem toda? Se tiver, amanhã eu solo você!
 
Não dormi a noite toda, pensando no meu primeiro vôo! Como seria? Só sabia que não teria comemoração, não teria o famoso “banho de óleo” enfim, aquelas coisas gostosas que fazem parte da aviação!
 
Pensava no dia seguinte! Será que ia dar conta de trazer para pouso aquele aviãozinho? E alem do mais, sozinho! Decolar é fácil, isto eu já sabia! Pousar não, aquela noção de profundidade demora para o cérebro adquirir, leva um tempão danado para você pegar o jeito, porem eu confiava no meu taco e no dia seguinte fui fazer o que tinha treinado a noite inteira!
 
Levantei cedo, como havia combinado com meu instrutor, e fomos para pista! Lá chegando ele me disse:
 
“ – Vamos fazer mais uns pousos e decolagens!
– Está pronto? Perguntou-me depois de umas seis operações!
– Estou! Respondi.
– Então vou sair do avião que, daí em diante será só seu.”
 
Posicionei-me, soltei os freios, dei todo motor, aí ele começou a correr, a correr, e senti tanto medo, que tive vontade de abortar a decolagem!
 
Só pensava naquilo tudo que já havia passado, meu pai, a fazenda, a vergonha, a confiança que Doutor Ulisses estava me dando, enfim uma porção de coisas, que acabaram por me ajudar a criar coragem e não desistir!
Levantei a cauda do bicho e em seguida levantei seu nariz, e quando vi, já estava voando!
 
Meus amigos, não tenho palavras para dizer o que senti naquele momento, mas é alguma coisa inexplicável!
 
Voar, não é próprio do ser humano e por isto, você vê o quanto que o homem é importante, conseguindo fazer uma maquina que proporciona a ele equiparar-se com os pássaros!
 
Naquele momento mágico, senti-me o “Todo Poderoso”!  Estava voando mesmo! E sozinho, que maravilha!
 
Procurei aproveitar ao máximo aquele momento, dei várias volta em redor da cidade, subia, descia, fiz tudo aquilo que achava que os pássaros fazem quando voam pela primeira vez!
 
Eis que, de repente, chegou o momento de descer e, aí comecei a ficar nervoso, olhei para baixo, avistando o aeroporto lá longe, senti um frio na barriga!
 
Tinha ido longe demais, esqueci do tempo, olhei para a vareta que marcava a gasolina, estava bem baixa!
 
Que merda, havia esquecido de abastecer, talvez este foi o primeiro susto que levei, e, para não agravar a situação, tratei de voltar rapidinho para pista!
 
Quando chequei, avistei meu instrutor lá embaixo me aguardando, talvez pensando ter mais um manicaca para sua coleção.
 
Reduzi o motor, girei base e coloquei o nariz do avião para baixo, só ouvia o zunido do vento que passava pela carenagem, marquei bem o inicio da pista e quando vi, já tinha passado a cerca da cabeceira da pista, aproximando-se a hora mais difícil do pouso: o arredondamento!
 
Olhava para o chão e tentava medir a altura em que estava! Se estivesse alto demais, teria que baixar o nariz e tentar controlá-lo, para que ficasse na posição de três pontos!
 
E é como ele estava, pensei eu! Esperei o toque com a pista e veio um violento tranco, que até hoje não sai de minhas lembranças! Parecia que eu tinha caído do terceiro andar  de um prédio  e devo ter dado mais uns dois pulos daqueles!
 
E foi assim que fiz o meu primeiro pouso solo! Que alívio, ao sentir que estava rolando macio! A alegria era tanta que deixei-o ir quase até o final da pista.
 
Quando voltei para a cabeceira, lá estava doutor Ulisses muito alegre afinal, aquilo tudo estava errado e, naquele momento, fiquei tão agradecido por ele ter confiado em mim, que desci do avião e lhe dei um grande abraço!
 
Devo dizer que ele mandou-me fazer mais   alguns pousos, estes sim, bem melhores, e após guardarmos o avião no hangar, fomos comemorar, apenas nós dois, o vencer daquela primeira etapa!
 
No outro dia, tive que enfrentar a etapa mais difícil, que seria o exame prático perante, a um membro do DAC! Isto sim foi difícil pois ainda não sabia voar direito, obrigando-me a enrolar o membro do DAC, o que, infelizmente, também consegui!
 
Parti logo cedo para Marília, com a intenção de conhecer o aero clube de lá, sem ainda ter a menor idéia de como eu iria conseguir me arrumar,
 
Chegando lá fui procurar o instrutor, logo fizemos uma boa amizade, o que sempre me foi muito fácil, ainda mais quando é de meu interesse! Aí meu amigo, saia de baixo, sem dúvida sou capaz de deixá-lo pelado, sou imbatível!
 
Morar em Goiás naquela época, causava grande curiosidade, e estar junto de um “rico fazendeiro”, dono de muitos mil bois falando em comprar um avião, muito mais ainda!
 
Senti que aquelas lorotas que dizia, deixava o instrutor extasiado, seus olhinhos brilhavam, não sei se era por causa da cerveja que corria solta na mesa, lógico que tudo  por minha conta ou se era a oportunidade de mandar às favas aquele empreguinho, onde não ganhava quase nada, e ir voar em Goiás, ganhar muito dinheiro e talvez até comprar um avião, junto com aquele rico fazendeiro que agora passava a ser seu amigo?
 
Quando senti que ele estava no ponto, joguei a rede:
 
“ – Quero fazer uma proposta para você! Uma grande proposta que poderá mudar a sua vida, para muito melhor. você sabe vou vir fazer o exame aqui em Marília, porém  estou com um pequeno problema,  que talvez o meu amigo aqui me ajude.
 

 

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‘);} – Que problemas são estes, goiano?

– Sabe como é, sou muito ocupado, minhas fazendas em Goiás exigem muito do meu tempo, vim para cá tirar o brevê e não estou dando conta! Por absoluta falta de tempo, sinto que se você não me ajudar, não vou dar conta de passar na prova e aí meus planos de comprar um avião e levar você para Gurupi, serão atrapalhados!
– Vamos montar um táxi aéreo juntos! Enfim, só preciso passar neste bendito exame, pra dar tudo certo! O que me diz, comandante? Talvez ele já estivesse esperando aquela proposta, pois não demorou a responder:
– Olha lá goiano, você cumprirá mesmo sua palavra? Você vai mesmo comprar um avião?
– Sem dúvida. Após minha aprovação no exame, sigo para São Paulo, com a fim de comprar o avião!
– Combinado, vou te ajudar então, disse-me!.
Não falei para vocês que o baixinho aqui era fogo?
 
O pacto estava feito só faltava agora ele cumprir a sua parte. Como? Eu não tinha a menor idéia!
No outro dia logo de manhã, ele levou-me para conhecer os aviões do aero clube, e que diferença meus amigos.
 
Para começar, os aviões eram todos de uma geração mais nova, eram os famosos P56, motor mais possante, todos eles muito bem cuidados!
 
Fiquei gelado, imaginem vocês! Se no Cap4 – Paulistinha, que tinha um motor menor eu estava com medo de voar, que diria pegar logo de cara, no P56 com um motor mais possante, freios diferentes, etc. Sentei no chão e tive vontade de chorar!
 
“- Não vou dar conta mesmo seu instrutor, não vou não! Este avião é muito diferente dos nossos!
 
Ele olhou-me, pensou e disse:
 
“ – Voce è rico mesmo, mande trazer o Cap4 de Tupi e voe nele! Pelo menos com ele você esta mais familiarizado, não é mesmo?
– Grande idéia, meu jovem, para que servem as amizades? Vou já ligar para Doutor Ulisses!
 
No começo doutor Ulisses achou a idéia um pouco complicada imagine vocês, deslocar um pau velho daquele para Marília, um aviãozinho que mal dava conta de voar ao redor da pista, fazer uma viagem tão distante daquela, mais de  200 quilometros! Uma loucura!
 
Somente após ter assumido as responsabilidades perante o presidente do aero clube, é que me foi permitido fazer o translado! Que viagem maravilhosa para o doutor Ulisses,  que não tinha oportunidade de fazer um vôo tão distante!
 
Aquilo caiu como uma luva, mal sabia ele que uns dias mais tarde, estaria voando para Goiás num Cardinal novinho que comprei em São Paulo!
 
 
Quando o Cap4 chegou a Marília, o instrutor deu uma olhada e viu a carniça que era: o que tinha de arame dava para cercar uma fazenda!
 
“ – Negativo Goiano, não vou voar neste aviãozinho! Olha só o estado em que se encontra, nem freio tem! Vamos voar no nosso!”
 
Foi difícil convencê-lo do contrário, porém consegui, mais uma vez!
 
Como existiam muitos alunos para serem examinados em Marília, para somente um examinador do DAC, decidiu-se então, fazer o seguinte: o instrutor de Assis, examina os alunos da cidade de Lucélia, o instrutor de Lucélia examina os alunos de Tupã, e assim por diante.
 
Quando vi aquilo, imaginei que teria que dar um jeito para que o instrutor de Marília examinasse o aluno de Tupi Paulista que seria eu, caso contrário, ia dar  zebra!
 
No primeiro dia permaneci afastado, varias vezes escutei meu nome mas, quando via que o instrutor não era aquele que queria, caia fora. Lá pelo segundo dia, já de tardezinha, botei as cara e fiquei ao lado do meu amigo só faltando falar: “- Quero ser examinado por este aqui! Meu Deus! .E não é que deu certo?
 
“ – O instrutor de Marília, examina o aluno de Tupi Paulista”! gritou o cabra do DAC.
 
Botei as mãos aos céus e agradeci a Deus, e aquele gesto, acabou por fazer todos que ali estavam, sorrirem, mas somente eu e meu amigo instrutor sabíamos dos verdadeiros motivos! Que felicidade!
 
Subindo no velho cap4 e colocando o bicho para rodar,  notava que o instrutor estava impaciente, talvez em função de nunca ter voado num destes aviõezinhos!
 
Eu na frente e ele atrás, tinha hora que não sabia quem estava no comando, se eu ou ele, inclusive, até hoje, não sei se fui eu mesmo que decolei o avião!
 
Quando nivelei o avião, pensei comigo, só falta ele quiabar o nosso trato e pedir que eu fizesse alguma manobra, pois aí meu amigo, estaria ferrado mesmo! Assim sendo, tratei logo de puxar uma conversa:
 
“ – Naõ sei se falei para você que sou natural aqui de Marília, nascido no bairro do Pombo, você não quer me levar lá em cima?
– Sem duvida, goiano (ele não parava de me chamar assim!)! E lá fomos nós rumo ao bairro do Pombo, no maior bate-papo do mundo. Mostrou-me a cidade inteira, pois nunca tinha feito um voo panorâmico como aquele!”
 
Ficamos mais ou menos uma hora voando assim, conversando animadamente, e, sinceramente, continuava a não saber quem é que estava, de fato, pilotando a aeronave!
 
“ – Vamos para pouso, disse ele”.
 
O mais engraçado foi o pouso. Acredito que ele estava com medo do avião estolar (perder a sustentação), e assim sendo, enquanto eu puxava o manche para trás ele empurrava para frente!
 
E assim fomos nesta peleja até tocarmos no chão, ficando aí, até hoje, a dúvida: afinal, quem pousou, foi ele ou eu? Taxiamos para o pátio e, ao descermos da aeronave, ele se dirigiu para o examinador do DAC e disse:
 
“ – O aluno está aprovado!
 
Que alivio senti naquele momento! Dei-lhe um forte abraço e me despedi, deixando-o a pensar que nunca mais veria o goiano falastrão.
 
Retornamos com o paulistinha, para Tupi, e lá chegando,  agradeci ao Doutor Ulisses, e logo me mandei para São Paulo, para comprar um avião!
 
Vocês acreditam? Não tinha a menor idéia qual avião seria o ideal para mim pois só depois de muito tempo é que vim a entender que avião é como caminhão, para cada necessidade  tem o seu modelo! Ideal, para mim só interessava saber  se cabia no meu bolso!
 
 
Pois foi assim que acabei achando um Cardinal, que é um 
Cessna, pequeno executivo para quatro passageiros com o piloto, sem montante, motor de 180 hp, passo de hélice variável, que gastava apenas 36 litros de gasolina por hora! Uma graça de avião e foi paixão à primeira vista, e minha condição para comprar o avião, seria uma só, falei para o dono dele: teria que mostrá-lo para meu instrutor em Tupi Paulista e teria que passar por Marília pois lá eu tinha um negocio inacabado (vocês sabem muito bem que negocio é este, não é?).
 
O Cardinal que acabou acidentado no Rio Araguaia
 
Eu tinha agora a obrigação de cumprir a minha parte no acordo com o instrutor que facilitou minha aprovação no exame prático, lembram-se?
 
E lá fomos nós, no dia seguinte cedinho, rumo a Tupi com escala em Marília. Não sei porque, o nosso piloto (que era o dono do avião), subiu para dez mil pés, provávelmente para mostrar o quanto era bom aquele avião ou ele próprio, não sei!
 
Na realidade tinha bem poucos aviões como aquele no Brasil, e ele me proporcionou boas histórias, que contarei mais à frente.
 
Quando olhei para trás, vi a Marines (minha esposa na época e que me acompanhava), quase desmaiada! Levei um susto, e perguntando para o piloto o que estaria acontecendo, recebi como resposta que iríamos baixar o nível de vôo pois ela estava sentindo falta de oxigênio!
 
Não deu outra e lá pelos seis mil pés, ela já estava bem melhor! Neste dia aprendi que após dez mil pés, te cuida garoto, porque o oxigênio fica muito rarefeito e pode desacordar um piloto em segundos.
 
Voamos mais um pouco, avistamos Marília, que bela cidade aquela, deixando-me orgulhoso de ali ter nascido! O aeroporto, uma maravilha, mas não deixava de pensar em nossas pistas de pouso de Goiás! Que diferença, meu Deus!
 
São Paulo é São Paulo mesmo! Pousamos e eu fui logo dizendo para que me esperassem no restaurante, pois ia à procura de meu amigo e logo retornaria. Moço, que susto ele levou quando me viu:
 
“ – Goiano, o que você está fazendo aqui?
– Ora, vim cumprir a minha parte no trato que fizemos,  uai” Você cumpriu o seu, não? Vamos lá para fora que vou lhe mostrar o avião que comprei, e estou passando aqui para pegá-lo!”
 
Aquilo pegou meu amigo de surpresa, e,quase chorando, agarrou-me pelo braço e, levando-me para um canto no aeroporto, foi logo me dizendo:
 
“ – Rapaz, quando contei aquela história para minha mulher, quase cai no cacete, desconjurou a idéia de mudar para aquele fim de mundo, meu sogro entrou no meio, minha sogra me fez jurar que eu não iria tirar a sua querida filhinha de perto dela, e que dali para frente às coisas iriam melhorar e que estavam ate pensando em dar aquela casinha para eles morarem!
 
Então senhor goiano, você esta liberado do nosso trato! Agradeço-lhe ter vindo aqui, mas, pelo amor de Deus siga a sua viagem em paz, que Deus te proteja, e não se preocupe comigo pois vou ficar bem! Vá com Deus que, para mim, o senhor já deu a prova que é um homem de palavra!”
 

E foi assim meu amigo que consegui o meu brevê e fiquei livre do compromisso com o instrutor que muito me ajudou!

Comandante Niltinho
é piloto de garimpo