Vinícola Aurora: trabalho escravo e o preço que a empresa vai pagar junto ao mercado
Os órgãos que participaram da operação realizada em 22 de fevereiro – Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT) e as polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF), afirmaram que os trabalhadores teriam sido enganados após receberem promessa de emprego temporário, salário de 4 mil reais e, ainda, alojamento e refeições pagas, para trabalhar na colheita de uva em Bento Gonçalves, no RS, em condições degradantes. Veja o que se sabe.
Os 214 homens foram recrutados na Bahia pela empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton – algumas das mais importantes produtoras da região (veja as notas das empresas no final do texto). As produtoras rurais dizem que não tinham conhecimento sobre a situação relatada pelos trabalhadores.
Agressões físicas e psicológicas
Nos depoimentos, os trabalhadores relataram episódios de violência, tais como surras com cabo de vassoura, mordidas, choques elétricos e ataques com spray de pimenta, além de más condições de trabalho e de alojamento. Eles denunciaram ainda práticas como vales, multas e descontos nos salários, o que levou o MTE e o MPT a considerarem a situação como um regime de trabalho análogo à escravidão.
Os homens trabalhavam na colheita de uva de domingo a sexta, das 5h às 20h e sem pausas – apesar de serem forçados a assinar no ponto que folgavam também aos domingos. Eles começaram a trabalhar no início de fevereiro, porém, surpreendidos com as péssimas condições de trabalho, tentaram ir embora do Rio Grande do Sul, mas chegaram a ser ameaçados e espancados. Um dos trabalhadores afirmou, em entrevista, que o combinado era receber R$ 4 mil após 45 dias. Porém, eram abatidos do montante descontos que não foram previamente combinados. Assim, ele disse que percebeu que estava sendo explorado.
A desculpa da empresa
A Vinícola Aurora pede desculpas aos trabalhadores resgatados no RS e, envergonhada, diz em carta aberta à população, estar trabalhando em um programa de mudanças para qualificar a relação com os parceiros e assumir o controle de todos os processos de produção
Os trabalhadores, que prestavam serviços para as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi, estavam em um alojamento onde viviam sob ameaças e vigilância armada e de onde só podiam sair para trabalhar, segundo disseram ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho e Emprego, que investigam o caso, situação inadmissível no país.
Certamente as empresas envolvidas, vão pagar, e caro, pela inobservância, deliberadas ou não, de regras tão elementares nas relações entre capital e trabalho, principalmente nos dias de hoje, com todas as mudanças sociológicas ocorridas e em ocorrência no complexo destas relações.
Desculpas, após serem pegas em flagrante específico, tendem a se caracterizar no meio dos consumidores, em tentativa de evitar perdas e prejuízos consequentes, o que agrava, ainda mais, o potencial de culpa das empresas envolvidas.
Não é possível se apresentar uma desculpa tão tosca e esfarrada quanto esta, nos dias de hoje e não sofrer as penas que o mercado lhes reserva, que é o não consumo!