Teresa Cristina !!!

A mulher de D.Pedro II, princesa napolitana Teresa Cristina de Bourbon (1822-1889), foi lembrada na Academia das Belas Artes de Nápoles no lançamento do livro Uma imperatriz napolitana nos trópicos, de Aniello Angelo Avella. Narra os 50 anos que a princesa passou no Brasil. A história foi reconstruída a partir de documentos e correspondências particulares.

Una napoletana imperatrice ai tropici – Teresa Cristina di Bourbone sul trono del Brasile, que acaba de ser lançado na Itália pela Exòrma (www.exormaedizioni.com), traz um relato das atividades arqueológicas daquela que nasceu como princesa do Reino das Duas Sicílias, se casou com o brasileiro D. Pedro II por procuração em 30 maio de 1843, e foi a responsável por trazer ao Brasil centenas de relíquias diretamente das escavações de Pompeia e Herculano, além de achados etruscas da região de Veio, hoje no acervo do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio.

O livro é interessante porque desvenda, tanto aos brasileiros como também aos italianos, a vida tida como opaca de uma grande mulher. Tão grande intelectualmente quanto seu marido D. Pedro II.

A historiografia brasileira, ainda hoje, assume uma postura semelhante àquela italiana de até poucos anos atrás. A Itália passou por um processo de Unificação concluído há 150 anos. A historiografia tradicionalmente premia os vencedores e pune os derrotados. Neste caso, o derrotado é o reino de onde vinha Teresa Cristina, irmã de Ferdinando II, rei das Duas Sicílias, derrotado nas guerras entre 1820 e 1861, antes da Unificação, através da ação do Reino de Savoia e também da ação de revolucionários como Garibaldi.

O Reino das Duas Sicílias, ou a Dinastia dos Bourbon de Nápoles, saiu derrotada, e a historiografia italiana, até poucos anos atrás, sustentava que eram reacionários, que Nápoles era governada de maneira despótica, que era atrasada e por aí vai.

Há uma parte de verdade e outra de mentiras. Em decorrência das celebrações da Unificação, se está refletindo muito sobre todos esses conceitos e o processo de construção da Itália. Os problemas atuais decorrem de distorções que aconteceram no processo de Unificação, existentes até hoje. Muitos estudiosos reviram a tese de que Nápoles era uma capital atrasada.

Em certos setores, era muito avançada: as primeiras ferrovias e locomotivas foram feitas na cidade, assim como nela foi construído o primeiro navio a vapor do Mediterrâneo. A cultura napolitana, no século XVIII, era riquíssima. Vários pensadores napolitanos iluministas da época influenciaram fortemente a Revolução Francesa, como o filósofo Filangieri, que muito falou de direitos humanos e condenou a escravidão.

No campo da arqueologia, as grandes escavações de Pompeia e Herculano foram feitas no final do século XVIII, sob os cuidados da dinastia dos Bourbon. Então, o julgamento da história brasileira sobre a imperatriz também deriva desse preconceito em relação aos Bourbon de Nápoles. O livro pinga os is nessa obscura e olvidada parte da história do Brasil e Itália.

 
Esta é a última foto da familia no Brasil, em 1889, antes da partida para o exílio. Da esquerda para a direita: Imperatriz Teresa Cristina e Príncipe Dom Antonio (sentados), Princesa Isabel, Imperador Dom Pedro II, Príncipe Dom Pedro Augusto, príncipe Dom Luiz, conde d’Eu Gaston d’Orleans e príncipe Dom Pedro de Alcântara.