GERAL

Sócrates e as três peneiras !!!

Ao ser indagado por um de seus alunos se gostaria de saber “as últimas”, o filósofo Sócrates reagiu perguntando a ele se estas notícias haviam passado pelas três peneiras antes de serem apresentadas a ele e a quem quer que fosse. A dúvida estampada no rosto de seu interlocutor fez então com que o sábio ateniense lhe explicasse quais eram tais elementos de filtragem, conforme seguem as explicações do mestre:

– Primeiro você tem que ter certeza de que o que está dizendo é a verdade. Você tem certeza disso? Quais foram as fontes que lhe passaram esta informação? Elas são fidedignas?
Ao que seu aluno lhe respondeu que ouvira de fulano, que por sua vez, escutara de sicrano, cuja fonte de onde ouvira era por ele ignorada.

– Caso tenha passado por esta peneira, uma segunda refere-se a ideia de que ao apresentar tal informação você esteja fazendo o bem para a pessoa ou pessoas as quais se refere. Se sua informação de algum modo causar prejuízo, dor, ressentimento ou problema, que sentido há em passá-la adiante?
O jovem ainda não havia pensado dessa forma, ou seja, não imaginara as repercussões que “as últimas” podiam ter em relação aos sujeitos nela descritos.

– E, ainda, se a informação for verdadeira e, se ao ser passada adiante ainda representar uma ação que reverta positivamente para as pessoas as quais se refere, deve-se ainda observar se ao comunicar para tantos outros indivíduos os fatos, se isso irá redundar como algo bom e positivo para a comunidade como um todo…
É claro que se não havia peneirado a informação nas duas etapas anteriores, o aluno não cogitara sequer a possibilidade de pensar em repercussões da notícia para a comunidade, para a coletividade.

E quantas não seriam as situações das quais pouparíamos tantas pessoas de situações constrangedoras se nos ativéssemos as peneiras de Sócrates, não é mesmo?

Até mesmo porque, como ouvi na mesma reunião da qual participava ao escutar a primeira história, tornar pública uma história que não seja verdadeira, trabalhada em prol do bem das pessoas envolvidas e buscando uma repercussão positiva para todos, causando prejuízo a alguém pode até gerar arrependimento por quem agiu dessa forma, mas uma vez realizada, a reparação torna-se muito difícil.

É como pensar no caso de uma mulher que buscou o apoio do padre de sua igreja devido a uma dessas inconfidências sem sentido que apregoara para alguns conhecidos e que descobrira depois ser uma informação falsa. Denegriu o nome de outra pessoa e estava arrependida. Foi aconselhada a rezar pedindo penitência e, ao mesmo tempo, a ir para casa e retornar a igreja soltando as penas de um travesseiro ao longo de seu caminho de retorno ao templo.

Ao chegar disse ao padre que rezara as orações pedidas e que jogara todas as penas do travesseiro ao longo de sua jornada de volta a igreja. Não entendera muito bem porque tivera que assim agir e gostaria de uma explicação. O religioso então lhe pediu que na volta para casa recolhesse todas as penas que havia espalhado em sua vinda. Ela então disse que seria impossível pois provavelmente o vento as levara todas, espalhando-as sabe-se lá por onde…

Pois é, explicou-lhe então o padre, é isso o que acontece com as inverdades que você pronunciou a respeito daquela outra pessoa, a esta altura já estão na boca de tantas e tantas pessoas e sobre isso não é mais possível fazer muita coisa, não é mesmo?

Por isso mesmo é que devemos aprender com as peneiras de Sócrates e nos precavermos para não sairmos por aí, a jogar ao vento as penas que podem muito bem ferir pessoas que não merecem isso… Já pensou como seria se você fosse alvo de inverdades e tivesse que correr atrás de esclarecê-las como tal? Como seria?

Obs. Ouvi estas histórias na homilia do pároco da igreja de Santo Agostinho e como as achei deveras valiosas, decidi escrevê-las e torná-las públicas neste texto para que todos possamos refletir a respeito das mesmas, independentemente da religião que professemos, pois cabem para todos nós!
Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado

Membro da Academia Caçapavense de Letras


Escutei estas histórias e achei pertinente trazê-las a tona para desenvolver uma breve reflexão: