O 6º RI na Rendição em Respício-Fornovo
Em 09 de Abril de 1945, meu pai, o então 2º Sgt Franklin Queiroz, encontrava-se, juntamente com o 6º RI em Castelnuovo, de onde se deslocou para Porreta Therme, Montese, Zocca, Formigene, Parma e Collechio, participando das negociações de rendição e, posteriormente, do aprisionamento de toda uma divisão alemã e outra italiana.
Um dia antes da ofensiva contra Fornovo, em 27 de abril, o Major Cordeiro persuadiu Dom Cavalli, Vigário de uma aldeia próxima, a levar aos alemães a sugestão de que se rendessem. O Vigário caminhou 6 km até Respício, nas proximidades de Fornovo, e reuniu-se com oficiais alemães. Perguntado sobre o poderio e a localização das forças brasileiras, o Vigário disse que os alemães estavam cercados e deviam se render.
Um dos mais velhos desses oficiais, que aprimorara o seu italiano durante um período em que servira como Embaixador da Alemanha em Roma, pediu ao Vigário que obtivesse por escrito as condições para a rendição e voltasse com este documento.
Na manhã de 28 de abril, Zenóbio telefonou a Mascarenhas, que se achava em Montecchio, propondo que o 6º RI recebesse mais um Batalhão. Mascarenhas, apoiando-se na avaliação que Castelo fez da situação, declarou que esse Batalhão adicional não seria necessário. Por isso, o Movimento de Cerco e o ataque foi efetuado por três Batalhões, como anteriormente planejado.
A principal ofensiva foi desencadeada pelo Major Gross, que avançou da região de Collecchio, pelo sul. Quando se encontrava a 6 km de Fornovo, encontrou forte resistência, repelindo violentos contra-ataques às 2100 h do dia 28 e às 0100 h do dia 29.
Como resultado desse entrevero, na manhã do dia 28, antes de ser desfechado o ataque do 6º RI, Nelson de Mello redigiu um ultimato de rendição incondicional e, por meio de Castelo Branco, pediu a aprovação de Mascarenhas. O Vigário levou esse ultimato aos alemães e voltou com uma mensagem, assinada pelo Major Kuhn, Chefe do Estado-Maior da 148ª Divisão, dizendo que a resposta seria dada após consulta a seus superiores.
Enquanto isso, nas proximidades de Fornovo, o 3º Batalhão do Major Silvino, e o Esquadrão de Reconhecimento, do Capitão Pitaluga, atacavam pelo Sudoeste. Escreve Wondolowski: Os brasileiros, muito decididos, estavam esmagando todas as tentativas alemãs de romper o cerco. Pode-se acrescentar que os brasileiros ainda dispuseram de tropas para mandar a Piacenza e a um bolsão ao Norte de Cremona e, assim, não precisaram de toda a sua força para a missão de bloquear a Rodovia 62.
Enquanto os alemães adiavam a decisão, o 6º RI procedeu de acordo com o plano. Às 2230 h, após os homens de Gross repeliram forte contra-ataque inimigo, o Major Kuhn e dois outros oficiais alemães cruzaram as linhas brasileiras para negociar os pormenores da rendição. Gross os conduziu ao Posto de Comando do 6º RI, em Collecchio.
Nelson de Melo, sabedor de que a missão dos três alemães fora autorizada pelo Comandante da 148ª Divisão, General Otto Fretter-Pico, dirigiu-se rapidamente a Montecchio para falar com Mascarenhas. Este ordenou a Brayner e Castelo que se entendessem com os negociadores alemães. Por isso, sob a chuva, os dois oficiais foram levados a Colecchio.
Castelo Branco descreve: numa sala de uma vivenda de campo, fui apresentado a três oficiais alemães do Estado-Maior de uma Divisão. Pediram condições para a rendição. Dissemos que só podia ser incondicional. Falaram em honra militar e em princípios de humanidade… e aceitaram a rendição!
São alguns milhares de homens, dois generais e etc. Como resultados dos termos impostos na reunião de Collecchio, que durou toda a noite, modificados apenas pela insistência de Mascarenhas de que depusessem imediatamente as armas (a 29 de abril e não a 30), a primeira Divisão germânica a capitular na Itália se rendeu aos brasileiros.
Nada menos de 14.779 alemães e italianos 148ª Divisão de Infantaria da Wehrmacht, da 90ª Divisão Panzergrenadier e das 1ª Divisão Bersaglieri “Italia” e 4ª Divisão Alpini “Monterosa”, estas últimas , do Exército Republicano Nacional fascista, se tornaram prisioneiros em dois campos próximos, instalados pelos brasileiros.
O General alemão Otto Fretter-Pico e o General italiano Mario Carloni foram escoltados até Florença pelos Generais Falconiere e Zenóbio, que os entregaram ao Comando do 5º Exército norte-americano, juntamente com 6,0 milhões de liras, também capturadas pelos brasileiros.
Numa luta, nos arredores de Fornovo, 5 brasileiros foram mortos e cerca de 50 foram feridos. O evento ocorrido foi algo notável em operações de guerra: a rendição de uma Divisão alemã inteira e mais duas divisões italianas, à uma única Divisão aliada, a brasileira!