GERAL

Internet na escola em discussão: Sim ou Não ???

Nos Estados Unidos há campanhas e movimentos em andamento questionando o uso da internet como ferramenta educacional. Argumenta-se que a quantidade de horas que uma criança ou adolescente passa diante das telas do computador, plugado a algum site ou a uma rede social é excessiva e que as escolas não devem contribuir com esta carga maciça de exposição a web e as tecnologias, incentivando os alunos a utilizarem outros recursos e aprenderem com o apoio de diferentes metodologias.

Como parte deste movimento há várias escolas que já bloquearam o acesso a sites e redes sociais, permitindo apenas a navegação por espaços virtuais recomendados pelos professores. Criou-se, com isso, um empecilho ao uso, por exemplo, de blogs de apoio aos alunos criados pelos próprios professores. Em contrapartida, dizem os defensores destas ações, evitam-se excessos que podem ser prejudiciais tanto aos docentes quanto aos estudantes, como a superexposição, a sobrecarga de trabalho, os relacionamentos extra-escolares que podem de algum modo prejudicar o andamento das ações dentro da escola ou criar ainda maiores constrangimentos – como ações ofensivas contra os docentes, assédio de professores ou alunos, bullying ou ainda pedofilia.

É uma guinada conservadora dizem os mais liberais. É um controle necessário e sadio, contestam os mentores destas ações. 

O que sabemos desde já é que o bloqueio aos sites e redes sociais ocasiona stress na relação entre a escola e os estudantes, além de ser tecnicamente problemático, já que tais impedimentos muitas vezes travam a navegação mesmo para sites “politicamente corretos”. Outro dado interessante refere-se ao fato de que para muitos educadores além da superexposição ao mundo virtual, o uso dos computadores e da web nas escolas por parte dos estudantes tem focado principalmente nas redes sociais, em games ou mesmo em páginas de sexo.

Há argumentos interessantes sendo colocados em discussão em ambas as frentes que se opõem nesta queda de braço. Não podemos deixar de perceber que o cerceamento quanto ao uso da internet nas escolas constitui, entretanto, uma clara ação de censura. Há mecanismos legais de impedimento previstos nas leis americanas e, igualmente, nas brasileiras, que restringem o acesso a pornografia, bebidas alcóolicas, drogas, pedofilia, terrorismo e tantas outras ilicitudes, em especial no que tange aos menores de idade. Isso não pode ser deixado de lado. Do mesmo modo, a própria censura, desmedida e aplicada sem um planejamento e estudo sério, constitui igualmente uma violência contra as pessoas. O que fazer então?

Não se pode desconsiderar a lei e permitir o livre acesso a qualquer conteúdo pela web nas escolas. Não se pode, igualmente, desconsiderar o avanço das tecnologias e o seu emprego cada vez maior em todas as frentes de atividade humana, inclusive na educação.

Devem ser estipuladas regras claras de uso das tecnologias, em especial, da internet, nas escolas. Por exemplo, o uso dos computadores deve estar sempre atrelado as atividades escolares e ter acompanhamento dos professores. Parece simples, e realmente é, mas muitas vezes não é o que acontece, infelizmente. 

Outra necessidade, que os computadores e o acesso a rede nas escolas, inclusive por wi-fi e, se possível, no tocante aos telefones celulares e demais tecnologias móveis já criadas ou que venham a ser inventadas, ocorra sempre em locais de movimento e que tenham algum tutor ou responsável realizando o monitoramento para evitar abusos e o acesso a sites proibidos.

Talvez tenhamos que, inclusive, repensar a forma como hoje são realizadas as pesquisas e trabalhos escolares, pedindo sempre uma busca que mescle os elementos da tecnologia com outros meios, como livros, jornais, filmes, músicas, revistas, pesquisas de campo…

Como o acesso as tecnologias é crescente fora da escola, com as crianças e adolescentes ficando cada vez mais tempo diante destes recursos, compete a escola orientar e estimular a utilização dos demais recursos e meios de aprendizagem e, ao mesmo tempo, ensinar os alunos a usar as tecnologias e a internet para fins especificamente educacionais e culturais. É difícil? Certamente que sim e nem tampouco devemos crer que este trabalho e orientação tenham eficiência total, mas pode contribuir para que o problema seja menor do que é.

E as redes sociais na escola? Se fizerem parte de alguma atividade educacional, como parte de ações encadeadas pelos professores, o uso pode ser permitido, certamente. Para o uso estritamente pessoal dos alunos, como nas corporações, no mundo do trabalho, as restrições são necessárias. Depois da aula, em casa, o aluno pode acessar o facebook, o orkut, o youtube e qualquer outra rede social de seu interesse, mas na escola, o foco deve ser pedagógico, voltado para a pesquisa, trabalhos, tarefas e projetos.

A discussão é válida, mas deste cabo de guerra somente sairão vitoriosos se ambos fizerem concessões e entenderem limites, estipularem bases operacionais, valorizarem as tecnologias dentro de uma perspectiva pedagógica e utilizarem estes recursos em paralelo com as demais metodologias e ferramentas educacionais. Para que tudo isso aconteça é prioritário, no entanto, que haja consenso e que os profissionais da educação estejam plenamente preparados para o uso das tecnologias fazendo uma clara previsão de sua utilização em seus planos de ação pedagógica. Somente assim poderemos realmente caminhar para um amanhã de mais e melhores frutos no tocante as tecnologias na escola.

Obs. Para mais informações sobre o tema leia o texto “Escolas dos EUA debatem acesso à internet” e “Danos pela proibição provocam recuo“, publicados pelo Estadão em 02/10/2011. 

Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de Letras