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Desmentida a morte do “Homem de Honra brasileiro”!!!

Quem já assistiu ao filme “Homens de Honra”, de 2000, sabe que aquela história é baseada em acontecimentos reais: na vida do primeiro negro (Carl Brashear) a se tornar mergulhador de resgate da Marinha americana, no início dos anos 50. O que ninguém faz idéia é que um brasileiro tenha vivido grande parte daqueles episódios. Inclusive, na escola de mergulho de resgate foi ele o único a se aproximar e ficar amigo de Carl, quando todos os aspirantes brancos americanos o hostilizavam e até perseguiam. 
 
No filme, o natalense Alberto José do Nascimento – hoje com 91 anos – seria aquele único aspirante que, logo nas primeiras cenas da escola de mergulho, permanece no alojamento após a entrada de Brashear, enquanto todos os outros se retiram, sentindo-se ofendidos e dizendo que “não dividem o mesmo espaço com um negro”. Porém, não é feita nenhuma referência à presença de brasileiros na turma. O personagem que representa o potiguar foi substituído por um americano gago. “Fui eu quem fiquei no alojamento, então aquele cara do filme está me representando. Agora, aquela gagueira, todo o resto que acontece ao personagem é fantasia. Um cara como ele não entraria nunca em uma escola de elite feito aquela. Ali só entravam os melhores”, diz. 
 
Alberto conta que foi ele quem participou junto com Carl Brashear do salvamento de um colega preso no fundo do mar. Inclusive, Nascimento recebeu todos os méritos quando a maior participação no feito foi do marinheiro negro. O filme retrata esse episódio, mas o aspirante que estava ajudando Brashear, na ficção, era outro, que, inclusive, acabou fugindo. Ainda assim, ele foi condecorado com medalha de honra. “Teve esse salvamento, mas ele não aconteceu assim. Não houve medalha e também não foi um americano que participou da operação, e sim eu. Como no filme, Brashear ficou muito irritado diante da injustiça”, lembra o ex-mergulhador potiguar. 
 
Nascimento desconhece episódio de disputa com o comandante. Alberto fala que desconhece o episódio em que Brashear venceu o comandante, diante dos outros aspirantes, numa disputa para ver quem ficava mais tempo com a cabeça submersa na água. “Acho difícil de ter acontecido, até porque o filme mostra que o episódio se deu num bar, com todos juntos. “Os americanos não ficavam no mesmo espaço que Brashear nem falavam com ele. Uma vez fizemos um rateio para uma festa e não deixaram ele participar. A segregação racial era muito forte nos EUA nessa época. Nos ônibus, os negros só podiam ir na parte de trás. Já lá na escola da Marinha, os americanos se referiam a ele como negro filho da p.”. 
 
Para Alberto José do Nascimento, o filme retrata bem a determinação de Brashear de se tornar mergulhador da Marinha americana. A parte técnica (equipamentos e situações vividas naquele tipo de ambiente) está impecável, segundo ele. 
 
Porém, ele presenciou o episódio do teste final da escola. Para conseguir ser aprovado como mergulhador de resgate, os aspirantes tinham que montar, no menor tempo possível, várias ferramentas pequenas (parafusos, porcas, ruelas) em uma peça maior jogada ao fundo do mar. O detalhe é que as sacolas com as ferramentas de todos os brancos foram jogadas fechadas. A de Brashear foi rasgada e suas peças espalhadas no fundo do oceano para que ele não completasse a prova. “Aconteceu daquele jeito do filme: ele ficou por mais de nove horas embaixo d’água, quase congelou, mas somente subiu com a peça montada”. 
 
O ex-marujo Alberto José do Nascimento, integrou a turma 56 da escola e tem muita história para contar. E não é conversa de pescador não, é de mergulhador mesmo. 
 
Ele se aposentou aos 39 anos e, com o dinheiro que juntou, abriu uma firma de salvamento em alto mar no Rio de Janeiro, onde morou por 40 anos. Chegou a ter três navios, mas deixou seu negócio naufragar por mau gerenciamento. “Vendi os navios fiado e perdi tudo. Hoje vivo da aposentadoria”, diz, mas sem se lamentar. Ao lado de Brashear, nos Estados Unidos, Alberto e todos os outros não passavam de meros coadjuvantes, mas ele garante ter sido um dos dez melhores da turma, aprovado com 75% de aproveitamento. “No curso eu estava sempre no topo, e no Brasil não sei de ninguém que tenha feito mais salvamentos que eu”. 
 
Para integrar a turma 56 da escola de mergulho de resgate da Marinha americana — considerada a melhor do mundo — Alberto teve que passar por uma seleção rigorosa, disputando com vários marinheiros brasileiros. Somente ele e outro passaram. 
 
Na época ele servia na Marinha do Rio de Janeiro, onde chegou com 17 anos de idade, depois de ter deixado Natal. Nos Estados Unidos, Alberto ficou somente por quatro meses — o tempo de duração do curso. Voltou àquele país uma segunda vez para fazer outro curso de capacitação. 
 
O ex-marujo voltou para Natal já tem quase 20 anos. É na paz da cidade de Extremoz, no Rio Grande do Norte, que ele vive com suas lembranças e histórias que dariam um livro. 
 
O filme “Homens de Honra” retrata o preconceito contra as pessoas negras. Oriundo de uma humilde família negra, que vivia em uma área rural em Sonora, Kentucky, ainda garoto Carl Brasher já adorava mergulhar. Quando jovem, se alistou na Marinha esperando se tornar um mergulhador. 
 
Inicialmente Carl trabalha como cozinheiro, uma das poucas tarefas permitidas a um negro na época. Quando resolve mergulhar no mar em uma sexta-feira acaba sendo preso, pois os de sua cor só podiam nadar às terças. Mas sua rapidez ao nadar é vista por todos e assim ele se torna um “nadador de resgate”, por iniciativa do capitão Pullman (Powers Boothe). 
 
Quando Brashear entra na escola de mergulhadores, encontra o comandante Billy Sunday (Robert De Niro), um instrutor de mergulho áspero e tirânico que tem absoluto poder sobre suas decisões. No princípio Sunday faz muito pouco para encorajar as ambições de Brashear. O aspirante a mergulhador descobre que o racismo nas forças armadas é um fato quando os outros aspirantes brancos – exceto Snowhill (Michael Rapaport), se negam a compartilhar um alojamento com um negro. 
 
Mas a coragem e determinação de Brashear impressionam Sunday e os dois se tornam amigos quando Brashear tem de lutar contra o preconceito e a burocracia militar, que quer acabar com seus sonhos de se tornar comandante. 
 
Um incidente atinge seriamente a perna de Carl, que para não ser reformado pede que lhe amputem o membro. Ele começa aí uma nova luta para provar que pode voltar a mergulhar. O abnegado marujo consegue e, negro e amputado, torna-se comandante em 1968, aposentando-se nove anos depois, em 1970. Brashear está hoje com 77 anos, a mesma idade do ex-colega potiguar Alberto José do Nascimento. A diferença é a fama e os muitos dólares. “A história foi romanceada para dar mais emoção”, disse o Nascimento.
 
Semana passada, a Revista Sociedade Militar publicou que o nosso “Homem de Honra” Alberto José do Nascimento, havia falecido, orgulhoso por ter realizado, nos anos 50, pela Marinha do Brasil, o Curso de Mergulho na U.S. Navy juntamente com o negro americano Carl Brasher, eternizado no filme *Homens de Honra*, estrelado pelo ator Cuba Goonding Jr. e tendo no elenco Robert De Niro como o Chefe Billy Sunday. Felizmente a notícia foi desmentida pois nosso herói encontra-se em plena saúde, com seus 91 anos.
 
A ele, o brasileiro “Homem de Honra”, Alberto José do Nascimento, a nossa melhor continência!