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Condomínios aeronáuticos: o avião está na garagem!!!

 

 

Cresce, no Brasil, a oferta de condomínios fly-in, empreendimentos com pista de pouso para operação de jatos executivos e casas luxuosas com hangares privativos

 

 

NOS ÚLTIMOS TEMPOS, UM FENÔMENO tem tomado conta das mostras de decoração e virado febre entre os endinheirados: estacionar carros esportivos ou antigos dentro de casa, quase como uma obra de arte. Algumas construtoras, inclusive, têm erguido prédios com elevador para os carros estacionarem nos apartamentos. Mas, se você acha que esse é o máximo da comodidade que o setor imobiliário pode proporcionar, acredite, o céu é o limite. Literalmente. No Brasil, já existem condomínios residenciais onde é possível parar um jato praticamente dentro de casa. Os chamados fly-in community, loteamentos com pista de pouso, começam a encher os olhos dos empresários brasileiros.

A ideia surgiu nos Estados Unidos – lá já são mais de 400 empreendimentos desse tipo – como uma alternativa para manter as inúmeras pistas de pouso abandonadas no pós-guerra. Os locais anteriormente usados para escoamento da produção das aeronaves de batalha estavam praticamente abandonados e rodeá-los de casas era uma forma de viabilizar sua revitalização. Atualmente, esses condomínios norte-americanos atraem famosos, milionários e até a classe média. Um dos maiores loteamentos temáticos do país é o Spruce Creek, em Daytona Beach. Com mais de 1.660 casas, porém, nem de longe esse é tão famoso quanto o luxuosíssimo Jumbolair, localizado em Ocala, também na Flórida. Lá está plantada a mansão do ator John Travolta que tem sua própria torre de controle e onde “residem” quatro jatos particulares e um Boeing 707, que pode ser visto de todos os cômodos da casa, enquanto repousa estacionado no quintal.

Mas se nos EUA os fly-ins surgiram ao redor das pistas, aqui o caminho foi oposto. Até pouco tempo atrás, esses recantos eram formados por grupos de amigos, em geral pilotos aposentados ou empresários colecionadores de aeronaves, que compravam grandes porções de terra para construir suas casas de campo com uma garagem de luxo para seus brinquedos. Um investimento relativamente baixo, considerando que a locação de um hangar em um aeroporto como o Campo de Marte, em São Paulo, pode custar até R$ 5 mil por mês. Agora, porém, isso está virando um negócio.

Com o aumento da frota de aviões particulares no Brasil – segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), já são 5.906 –, as construtoras identificaram o potencial desses condomínios, que estão cada vez mais completos e sofisticados para atender não apenas os amantes da aviação, mas suas famílias e também aqueles que precisam usar o deslocamento aéreo por questões profissionais. Até os empreendimentos mais antigos acabaram se rendendo à expansão.

“No início, éramos um grupo de amigos reunidos para a realização de um sonho. Mas, depois de um tempo, a coisa foi crescendo, construíram muitas residências em volta, asfaltaram a pista e virou um negócio, e acabei desistindo. Vendi minha casa”, conta o empresário Lucio Sallowicz, um dos fundadores do Condomínio Aeronáutico Vale Eldorado, na cidade de Bragança Paulista (SP).

Quanto ao barulho incômodo de ter uma pista de pouso praticamente no jardim, os moradores encaram como parte do charme de viver em um fly-in. “Não tem nada mais agradável do que acordar ouvindo barulho de avião. É música para os nossos ouvidos. Quem não pensa assim, não gosta de aviação”, afirma o piloto Marcos, um dos condôminos da Fazenda Bonanza. Se você se animou, é bom começar a procurar sua casa o mais depressa possível. Em geral, os residenciais são comercializados em tempo recorde. “Nem cheguei a fazer lançamento e vendi praticamente todos os lotes. Só tenho mais um terreno disponível”, conta Régis Campos, proprietário da construtora Emccamp, responsável pelo condomínio Quintas Ponta do Sol, no lago de Furnas (MG). Para ajudar na escolha, selecionamos algumas boas opções.

 

 

FLY VILLE | Santa Catarina

 

 

 

 

A 28 quilômetros de Florianópolis, em Governador Celso Ramos, o Condomínio Residencial e Aeronáutico Fly Ville, da construtora Locks, é outro empreendimento com dimensões de cidade. São mais de um milhão de metros quadrados com um total de 281 lotes e total estrutura de lazer, inclusive um shopping center com 24 lojas, ancorado por um supermercado e com estacionamento coberto para mais de 100 carros. As ruas e o sistema de esgoto são preparados para que as aeronaves possam ser rebocadas por entre as alamedas.

No lugar, além de dois heliportos, há uma pista de pouso com 1.100 metros de extensão, torre de controle, terminal de passageiros e todos os serviços como abastecimento e oficina. Nesse condomínio, você pode optar por comprar o lote e construir uma casa com hangar ou utilizar um dos 78 estacionamentos disponíveis para as aeronaves. “Nosso público não é formado apenas por donos de aviões, mas também por pessoas que utilizam taxi aéreo como forma de locomoção e podem ter a comodidade de pousar dentro do condomínio”, explica Pedro Meller, gerente comercial da Locks.

 

 

 

 

FAZENDA BONANZA | São Paulo

 

 

 

Fundada há 20 anos, tem a privacidade de suas propriedades mantida com afinco pelos diretores, que evitam qualquer tipo de exposição. Lá não há uma estrutura de resort, como nos loteamentos mais modernos, apenas segurança 24 horas, lago, baias para cavalos, churrasqueira, um playground e cerca de 30 belas e confortáveis residências com aviões estacionados nas garagens. “Nada daqueles mastodontes metálicos e frios que são os hangares coletivos. Lá o avião fica na sala de casa”, elogia Lucio Sallowicz.

Um dos diferenciais da Bonanza é que o proprietário não pode construir apenas um hangar em seu lote. Além disso, por estar fora do Terminal SP, a pista – de uso exclusivo dos moradores – não está sujeita ao controle de tráfego aéreo e, por isso, não tem torre de controle, o que ajuda a manter a descontração de quem voa por esporte. Além disso, isenta os pilotos da taxa ao Departamento de Controle de Tráfego Aéreo (Decea), que é cobrada nos pousos e decolagens quando a torre é acionada. Para comprar um lote de 4.000 m², não basta ter dinheiro, é preciso ter uma boa indicação. Avessos à propaganda, os administradores não informam se há lotes disponíveis ou quais seriam seus valores.

 

 

 

 

TERRAVISTA GOLF | Bahia

 

 

 

 

Em alguns empreendimentos, a pista de pouso é apenas coadjuvante, para dar suporte ao tema principal do condomínio, como no Complexo Terravista Golf Course. Localizado sobre as falésias de Trancoso, na cidade de Porto Seguro, o resort reúne hotéis, condomínios residenciais, casas para locação e um dos melhores campos de golfe da América Latina. “É sem dúvida um dos mais bonitos que já visitei. O Terravista está no mesmo nível de famosos campos de golfe internacionais”, afirmou Álvaro Almeida, então presidente da Confederação Brasileira de Golfe, após ter participado de um torneio no local.

Por isso, é comum o local receber a visita de atletas de outras regiões do País e até mesmo de outras partes do mundo. Todos podem pousar seus jatos executivos com total conforto no residencial. A pista de 1.500 metros de extensão totalmente pavimentados tem controle de tráfego e exige pedido de autorização prévia e apresentação de plano de voo. O aeroporto conta com lounge para passageiros, hangar para aeronave e estação de reabastecimento.

 

 

 

 

RESERVA REAL – FLY-IN | Minas Gerais

 

 

 

Um dos mais sofisticados fly-in em construção no Brasil fica dentro do empreendimento Reserva Real, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). “É uma minicidade de luxo”, afirma Braulio Quintino, diretor comercial da empresa Design Resorts, responsável pelo local. Além de um hotel de nível internacional, os moradores contarão com clube social, Open Mall com mercado, lojas, bancos, conveniências, cinema, escola e escritórios comerciais. As residências ficarão espalhadas em quatro condomínios temáticos: golfe, tênis, hipismo e aviação.

O fly-in terá 37 casas e uma pista de 1.600 metros de extensão que comporta aviões de até 20 toneladas “Isso abrange quase toda a gama de jatos executivos. Apenas os transatlânticos ficam de fora”, explica o piloto José Pauliello, assessor da Design Resort e também consultor de outros aeródromos em formação no País. Haverá torre e todos os serviços de rampa, como comissaria e abastecimento. Inicialmente, a pista será destinada apenas aos moradores, mas os condôminos poderão optar se querem explorá-la comercialmente, diminuindo seu custo mensal.