GERAL

Comandante Niltinho: Prisioneiro dos índios !!!

Antes de começar a história de minha prisão em uma aldeia indígena, eu tenho de contar como cheguei lá, portanto se preparem para fazer a viagem comigo, apertem o cinto e me desculpem se não gostarem do vôo!
 
Por acaso, algum de vocês já esteve em uma cela? Em alguma prisão por aí? Quem já passou por isto sabe o quanto é ruim. Perder a liberdade é triste, o direito de ir e vir e tão sagrado para mim, que hoje renuncio a qualquer ato de violência, somente para não passar o que passei, quando fui preso por indígenas em uma aldeia no Amazonas!

 

 
Índio para mim, sempre foi sinônimo de problema: cada vôo feito para os mesmos,  resultou em prejuízo, a não ser aqueles de responsabilidade da FUNAI. Dizer que você é amigo de um índio, tudo bem, eu quero saber se ele é seu amigo? Aí a coisa muda de figura!  Foi por acreditar nesta amizade, que eu e um garimpeiro que se dizia “amigo” de um determinado Cacique no meio da Amazônia, acabamos por levar uma “cana”, das mais difíceis de escapar!
 
Esta historia começou por conta de meu espírito aventureiro, sempre em busca de garimpo, de ouro, é isto é que colocou-me em mais uma enrascada pois quase perdi a vida e, pior, meu avião! Este sim, seria lamentável perder. Grande companheiro, ainda o compro de volta, somente para ser enterrado comigo quando morrer!
 
Estava voando na Bahia, uns voozinhos mamão com açúcar, ganhando meu dinheirinho numa boa mas faltava alguma coisa dentro de mim, sentia saudade dos garimpos, da vida dura, dos voos piores ainda, porém, com a possibilidade de se  fazer ouro! Nunca vi mercadoria tão atrativa como o ouro, tanto para os pilotos como para os garimpeiros! Somente quem conheceu Serra Pelada, Itaituba, Roraima, é que vai compreender como esta “febre” é contagiante! Uma “fofoca” é capaz de juntar milhares de pessoas em pouquíssimo tempo, que acaba assustando!
 
Sonhava que alguma coisa relacionada ao garimpo aparecesse, quando topo com o  Araujo, um piloto que havia voado em Roraima, que estava justamente precisando de um avião para voar em Rondônia, num garimpo que ele havia descoberto!
 
 
Não deu outra, foi a mesma coisa de juntar a tampa com a caçarola, e lá fui eu para Rondônia, sem saber ao menos  quem era o Araujo e o que realmente ele estava fazendo por lá. Irmãos, fiquei cego, só mais tarde é fui lamentar o meu erro!
 
Ele vinha trazendo uma nova “esposa” que havia conhecido lá pelas bandas do Nordeste e partimos, os três, rumo ao desconhecido! Isto para mim era o máximo, eu virava uma criança, aposto que eu rejuvenescia uns dez anos pelo menos, hoje com a minha idade, eu vejo que sem dúvida me faltava um parafuso!
 
Decolamos de Goiânia com o propósito de abastecer em Rondonópolis no estado do Mato Grosso, a viagem foi uma maravilha, pilotando o avião, foi meu novo “amigo”, e  senti que, sem dúvida, ele tinha o avião na mão! Realmente voar em garimpo faz com que qualquer piloto adquira uma sensibilidade muito grande, se não ele quebra quando vai para pouso, e isto é que separa um piloto de garimpo dos demais!
 
A região que sobrevoamos é muito linda, aquelas chapadas, com aqueles morros nunca me saíram da mente. Talvez a falta de voar rumo ao desconhecido, visitar regiões que eu nunca havia visto fosse a causa de ser um homem irrequieto, sentia-me feliz em voar por onde nunca havia voado.
 
Quando estávamos abastecendo, o Araujo encontrou um amigo piloto, de minha idade, muito simpático, que também ficou muito interessado em conhecer o garimpo, e prometeu que não demoraria em aparecer no local! Infelizmente não me recordo seu nome, mas até hoje não esqueço seus conselhos, que muito me ajudaram nas horas difíceis que passamos juntos.
 
Até aí, não havia encontrado ninguém que falasse mal do meu novo “amigo” , e quando vi este colega querendo ir voar no garimpo dele, senti mais confiança, acreditei que realmente tinha tudo para dar certo esta nova parceria, afinal, tudo que o Araujo me dizia era de se acreditar, em nenhum momento ele transmitiu a ilusão de que iríamos fazer toneladas de ouro e sim um tanto que recompensaria o sacrifício!
 
Esta realidade é que me fazia acreditar nele sem desconfiar de nada. Geralmente a ambição é a principal isca para se pegar otário! De Rondonópolis iríamos direto para Ariquemes no estado de Rondônia, porem o mau tempo nos obrigou a pousar em Ji-paraná, e somente voltamos a decolar no outro dia cedo, e aí sim, é que a coisa ficou feia, pois tivemos que fazer um pouso forçado numa pista meio abandonada! No local, foi preciso deixar o Araujo e sua esposa, em razão de não ser possível decolar com nós três, de tão curta que era a pista e, assim sendo,  segui sozinho até Ariquemes, e meus companheiros seguiram de ônibus.
 
Devo dizer que quando entramos em Rondônia, vi o quanto que este nosso país é rico! Pobre? Somente o povo, que o habita e isto é o que não entendo, pois tantas são as terras boas que vi, que cheguei a prometer que ficaria para sempre!
 
Em minhas andanças na região, sempre procurava um bom lugar para viver, afinal sempre fui um apaixonado pela Amazônia! Sinto, porém, que a única possibilidade de se ganhar dinheiro por ali, só ocorrerá em função de mudanças políticas, obrigando  governantes a encontrar um modo viável de exploração da floresta, que possibilite a sobrevivência do homem local, sem prejuízos ao meio ambiente,caso contrário, se verá ocorrerá uma grande invasão, afinal, por aqui, ninguém respeita  o espaço do outro, muito menos do estado!.
 
Ariquemes, bela cidade! Bem entendido, para os padrões da Amazônia, pois ali você respirava aquele ar do sertão, de coisa nova, tudo por acontecer, você enxergava que ali tinha futuro, sem falar da existência do maior garimpo a céu aberto do mundo, o  Bom Futuro, que extraia milhares de toneladas de cassiterita, para abastecimento das indústrias de São Paulo, nunca vi coisa igual!
 
Aquilo gerava um bom movimento para a cidade! Os hotéis e restaurantes viviam sempre lotados, aquilo sim que era lugar de se viver! Já me sentia rico, mal sabendo porém, o que o destino me reservava! Araujo tinha uma casa alugada na cidade e lá ficamos por uns três dias! Já estava impaciente, queria chegar logo ao garimpo, não via a hora de botar uns ourinho na  boróca, só que, o garimpo se localizava a quase uma hora de vôo, em Machadinho do Oeste, ainda no estado de Rondônia, quase na divisa de Mato Grosso e Amazonas! Já sentia que estava muito próximo do fim do mundo!
 
Machadinho do “Oeste”, como o próprio nome diz, era como aquelas cidades do velho oeste americano: tiro para todo lado, matavam uns dois por noite e deixavam amarrados mais uns dois para o dia seguinte (?), uma barbaridade!
Situada numa região de mata, com terras boas, muita madeira e minérios como o ouro e a cassiterita, além de muitas terras devolutas para quem quisessem arriscar  ser dono! E isto sempre foi a razão de eu andar por aquelas bandas, jurei para mim mesmo, que não morreria sem antes possuir uma fazenda de gado!
 
Graças a Deus este sonho acabou, pois fico com pena de muitos companheiros que perderam suas fazendas e de sobra levaram uma baita multa do IBAMA, impagável, por sinal, só porque possuíam o mesmo sonho!
Não seria o suficiente para o Estado tomar tão somente a terra, porque a multa? Se quando ele tomou posse daquelas terras não existia nenhum decreto de reserva sobre ela? Estavam abandonadas pela União! E por que aquelas terras que ficaram fora das reservas que o proprietário desmatou na mesma época, não receberam nenhuma notificação? Quer dizer que aqueles “pobres coitados” que ficaram dentro da reserva recebem o castigo, e aqueles que ficaram na outra margem da divisa (por sorte apenas) estão isento da pena?

Na região do iriri foram criados mais de 5 milhões de hectares de reservas ecologicas indigenas e outras mais, justamente sob a qual existe a maior reserva de minérios do Brasil, que é a Serra dos Carajás, por acaso voces tem a noção exata do gigantismo desta areas?

 
Esta é a verdadeira lei da “desigualdade”, ao pensar que existia no tempo dos militares aquela célebre frase “INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR!”, quando pediam para o povo brasileiro vir morar na Amazônia, e hoje digo “Viva o Lula”, viva o Brasil dos estrangeiros! Para quem não entendeu, estou falando da região do Iriri, que também é conhecida como Terra do Meio porque fica entre os rios Xingu e Iriri, na região sudoeste do estado do Pará.
 
A coisa que mais me intrigou, foi a fria recepção quando chegamos a Machadinho, parecia que existia alguma coisa no ar, querendo dizer que éramos pessoas “non gratas”, afinal eu nunca tinha estado por ali antes, não conhecia ninguém dali, não entendia o porquê daquela frieza, não era comum tal atitude naquele meio de pessoas tão solidárias e boas e, em razão disto, comecei a me preocupar!
 
Passados uns três dias fui fazer o primeiro vôo para o garimpo, como vocês sabem, as pistas geralmente são uns desastres porque ficam no meio do mato e geralmente não são feitas por tratores e sim por enxadão e motosserras, você tem que conhecer o ponto de toque, o tamanho certo, qual a cabeceira que tem que usar, enfim, se você bobear, tchau mano, já quebrou!
 
Por isto resolvi dar o comando da aeronave (banco da esquerda) para o Araujo, afinal, ele já conhecia bem a região e pelas informações dos outros pilotos, e a pista era “caixão” (termo usado para definir uma pista perigosa)!
 
Quando lá chegamos, vi que afinal não existia pista nenhuma e sim uma simples abertura no meio dos morros que a cercava! Na verdade, isto era de assustar até defunto, porque mal dava para pousar vazio, e imagine então pilotando uma pequena aeronave com quinhentos quilos! Naquele momento, bateu-me aquele arrependimento, e comecei a me questionar, afinal o que fui fazer lá, se na Bahia  estava tranqüilo, sem risco nenhum e agora estava eu naquela “bocada”, meu Deus, o que eu ia fazer?
 
Naquela pista eu não pousaria nem morto meus irmãos, tenho que dizer a verdade, “amarelei” e sem dúvida nenhuma, recuar foi a melhor coisa que eu fiz para não quebrar meu rico aviãozinho, então voltei para a base e tratei de arrumar um piloto melhor que eu, e assim acho que salvei meu “calanguinho”. Feliz é o piloto que conhece suas limitações!
 
Lembram-se daquele piloto que encontramos na nossa vinda em Rondonópolis? Pois é, ele veio irmãos, estava no garimpo e, quando girou base e veio para pouso, pensei comigo mesmo “Vamos ver se o velhote é bom mesmo!” No local existia um rancho a uns cem metros do final da pista, de onde eu estava espiando o pouso! Levei um susto quando ele passou por mim numa velocidade tão alta, que coloquei as mãos na cabeça e cheguei a fechar os olhos, para não ver a bagaceira (acidente)! Tinha certeza que ele ia vazar (ultrapassar o limite da pista de pouso), mas por sorte  conseguiu parar a tempo, já com o focinho dentro do mato, graça a quem?
 
Aos famosos freios Birigui (freios brasileiros irmãos), fabricados em nossa terra que anos mais tarde, foram copiados pela Cessna pois, se estivesse usando os freios do fabricante, ele já teria ido, teria partido dessa vida para a outra! Quando ele saiu do avião estava branquinho, parecia que estava com malaria! Não deixei de cumprimentá-lo afinal, ele deu conta. E eu? Nem havia tentado!
 
E a vida continuou, Araujo desceu o pau a voar, logo já tinha umas quinhentas gramas de ouro na mão, só que quando fui falar em receber, lá veio o cano: arrumou-me umas poucas graminhas e me empurrou com a barriga! Não gostei nada da conversa dele!
 
Como tinha alguns pilotos no local, resolvi me enturmar, coisa que o Araujo não gostava, e graças às minhas novas amizades, consegui descobrir quem realmente era o meu “amigo”. Pois o homem era perigoso, seu garimpo, na verdade, havia tomado na marra, ele estava se tornando o novo “Rambo”, (o Rambo ficou famoso no garimpo Castelo dos Sonhos, pela sua violência e acabou morto pela policia), este sim, era seu ídolo, ele gostava de contar suas proezas e esperava ficar rico seguindo os mesmos passos, invadindo garimpos, matando, saqueando, sem saber que o destino lhe reservava o mesmo destino. Coitado! Ainda volto para contar como foi sua morte, aguardem!
 
Como havia chegado o piloto de Rondonópolis, eu tratei logo de passar o abacaxi para ele, e tratei de sair de mansinho daquela fria, só que nesta altura eu não tinha dinheiro nem para voltar para Goiânia, imaginem em que situação eu fiquei? Pelado mano!
 
Dizem que quando se fecham as portas, Deus abre uma janela, e ai então entrei no ramo de compra e venda de cassiterita, num garimpo ao lado, só que não tinha dinheiro, só me restando a simpatia e aquele jeito amigo que sempre me acompanhou, e, partindo daí, mandei brasa a comprar fiado, levava para Machadinho de avião, quinhentos quilos por vôo, saía espantando macaco, a sorte era um rio que tinha no final da pista! Quando chegava a Machadinho, embarcava o minério nos caminhões de retorno para Ariquemes e lá vendia, e depois voltava para pagar e comprar mais, e assim minha vida começou a melhorar!

 

Garimpo de Cassiterita
 
É aí que começa a historia da prisão.
 
Nessa altura eu já tinha adquirido os conhecimentos básicos sobre a cassiterita, tinha aprendido a comprar e vender, já tinha a clientela, e dentre estes, um que ficou muito amigo, infelizmente não recordo seu nome! Um dia ele veio com uma conversa que existia uma tribo de índios no Amazonas, não muito longe dali, em que o cacique da aldeia era seu “amigo” desde os tempos em que ele tinha um barco e cansou de negociar castanha do Pará com eles, por isso ele tinha se tornado um “amigão” da aldeia, e agora ele tinha conhecimento que estes índios estavam tirando cassiterita, e me convenceu a ir negociar com o Cacique! Ele disse que eu ia “matar de pau”, afinal todo índio é ignorante, não sabe matemática, mais um mamão com açúcar para meu lado (doce engano, irmão)!
 
Antes porém, tive uma conversinha com meu amigo:
“ – Bicho, eu não estou gostando dessa idéia de ir à Aldeia, eu nunca tive sorte com índios, para mim este povo não tem amigo! Vá que dê zebra, quem vai tirar-nos de lá? Nem Jesus Cristo dar jeito, isto esta me cheirando “caixão” (de defunto)!
– Que nada Niltinho, e os meus longos anos negociando com eles? Eu já não te disse que eu e o cacique somos “irmãos”? Você vai ver só, te juro que vai ter uma festa quando eu chegar lá, você vai ver, sem falar que quase ficamos cunhados!
– Tá bom! E você por sinal sabe como vamos chegar nessa aldeia? (Naquele tempo não existia o GPS que hoje possibilita uma navegação precisa.)
– Deixa comigo, eu levo você até lá, é fácil, nós vamos montar neste rio que passa perto da divisa do Amazonas com Mato Grosso até encontrar outro rio que sobe, procurando o rumo da Transamazônica! De lá vamos encontrar uma região de campo cerrado, a pista está nas margens de um riozinho, não é fácil comandante?
– É, respondi!” Com cara de babaca! Imagine se isto lá serviria de orientação para coisa alguma? A vontade de aumentar meus “negócios” com cassiterita era tanta, que não coloquei nenhum obstáculo. E no outro dia cedinho decolamos, e não é que o desgraçado me levou certinho para a aldeia? Demos tantas voltas que quase fiquei tonto, só pensei como seria o retorno!
 
Engraçado, no meio de tanta floresta deparei com uma região de campo, plana, que pensei logo nos gaúchos, se algum deles descobrisse aquelas terras, logo iria ser transformada em lavoura de soja (o que de fato aconteceu, anos mais tarde!).
 
A aldeia ficava distante da pista uns dois mil metros, sobrevoei a aldeia fiz sinal que ia pousar, e fui para pouso, a pista era boa, como todas da FUNAI, descemos amarrei o avião e tive a feliz idéia de trancá-lo, e nisto meu amigo sugeriu:
“ – Vamos cortar caminho seguindo por aqui, que não demora muito, estaremos na aldeia.”
 
Notei que por onde ele queria ir não existia nenhum caminho, pequeno que fosse. Achei aquilo estranho, porém estava tudo dando tão certo que não quis questionar, afinal, estava nas mãos de um grande “mateiro” (pessoa que anda bem dentro das matas), pensei eu! E lá fomos, por aqui, dizia ele, por ali! Nisto eu já estava cansado e a bendita da aldeia nada! Num dado momento, vendo que não chegávamos a lugar nenhum, explodi:
“ – Cabra, eu acho que você esta “perdidinho da silva”, não vou mais pelo seu rumo, agora quem vai mandar sou eu, afinal quem era o comandante? Quem entendia de rumo? Pensei eu!
 
Tratei de me posicionar em relação à aldeia com a pista, afinal, tinha na memória qual era ao grau da pista, olhei para o sol, fiz minha matemática e disse:
“ – É por aqui, e indiquei o rumo com a mão! Aí bicho, ele se assustou, pois minha direção era totalmente contrária a dele!
– Niltinho ,você não está louco não?
– Não! É que você ficou variado com as voltas que fizemos ao pousar, e está confuso, agora deixa comigo!”
 
E lá vamos nós, sem facão, sem nada, era tudo no braço! Não andamos muito e nos deparamos com um riozinho, justamente aquele que passava perto da aldeia! E aí, deveríamos voltar? Negativo, tiramos a roupa, amarramos na cabeça, atravessemos o rio e seguimos no rumo que indiquei!
 
O que não sabia é que os índios, ao chegarem à pista e não nos encontrando,  estranharam e colocaram os guerreiros à nossa procura, a ordem era pegar os intrusos de qualquer jeito! Afinal, onde já se viu uma coisa destas, invasão na aldeia? Amigos, passamos a ser caçados vivos ou mortos e, sem saber de nada, vagávamos perdidos pelo mato! E digo mais, começaram a pintar o avião com as cores da aldeia, e diziam, este não sai dali nunca mais!
 
Já cansados e arrependidos de ter saído de perto do avião, conseguimos alcançar a estrada que dava para a aldeia, (que alívio!), só nos restava agora, seguir em frente!
 
Andando devagar, ouvimos o barulho de uma camionete e, surpresa, quando olhei para aquele bando de índios mau encarados, fiquei arrepiado (sempre acontece quando eu entro numa fria)! Não deu nem tempo para correr, pois um bando de índios caiu em cima de nós, nos agarraram, fomos jogados na carroceria, sem tempo de abrir a boca, vejam só que situação? De comprador de cassiterita me tornei em prisioneiro!  Que roubada! Meu amigo com os olhos arregalados não dava um pio! Perguntei-lhe:
“ – Onde está o seu amigo?
– Rapaz, não estou reconhecendo nenhum destes índios, acredite!
-Mas que merda é esta? Você não disse que era amigo do Cacique? Como vamos sair dessa, bicho?”
O problema era que os índios não queriam conversa, não nos deixavam falar ou mexer as sobrancelhas! Prenderam-nos dentro de uma palhoça e colocaram dois guardas a nos vigiar!
 
Caí em profunda tristeza, abandonado, sem ninguém para explicar o que estava acontecendo, me senti o mais idiota dos homens, tratei de colocar a imaginação para funcionar, pois teria que sair dali o mais breve possível!
 
Cara, nunca gostei de baixinho, nunca vi um que não fosse encrenqueiro, imagine um índio baixinho? (tinha que ter um!). Havia um que, de vez em quando, entrava na cela e vinha com o dedo no meu nariz e falava um monte de besteira que não conseguia entender, só percebendo que ele estava muito irritado, certamente por termos invadido a aldeia!
 
Sentei no chão e fiquei pensando no que tínhamos feito! Estávamos no fim do mundo, sem um branco para tentar explicar o que viemos fazer, os índios não queria conversa, e o tempo passando! O pior era que o índio baixinho de vez enquanto aparecia e botava o dedo no meu nariz, fiquei imaginando que daqui a pouco ele não serviria mais para nada, de tanto ele esfregar!
 
Lá pelas quatro horas da tarde, enfim, apareceu na cela um branco, que alivio, enfim eu poderia me explicar! Ele chegou calado, olhou bem dentro dos meus olhos, me analisou de cima a baixo, olhou para meu amigo como ele era o mais alto, manteve certa distancia, e falou:
“ – O que vocês vieram fazer aqui? Até que enfim alguém fez a “grande” pergunta, e pelo sotaque, concluí que era boliviano! E o que aquele hermano ” estaria fazendo em uma aldeia de índios no Brasil? Achei aquilo estranho!
“ – Fiquei sabendo que os índios estão tirando cassiterita e vim negociar! Somente isto, e nada mais! Respondi.
– Ah é? Quer dizer que você mexe com isto também? Quando ele falou “também” entendi tudo! Ele já estava dando umas matadinhas em cima dos índios! O hermano  estava na minha frente! E há tempos!
“ – Olha aqui “seu piloto”, vou fazer um trato com você, é pegar ou largar: vou negociar  sua liberdade com os índios, o que não será fácil, mas tenho meios mas para conseguir sua libertação! Você vai prometer que nunca mais põe os pés por aqui e não vai me denunciar para a FUNAI, caso contrário mando matar vocês! O que acha da minha proposta?
 – Excelente e de minha parte, vou cumpri-la à risca, prometo! Ele voltou a olhar bem nos meus olhos, talvez para saber se eu estava falando a verdade, deu meia volta e antes que desaparecesse, fiz um pedido:
“ – Pede para aquele índio baixiinho não aparecer mais por aqui, porque o meu pobre nariz não aquenta mais uma esfregada de seu dedo!
-Tudo bem.” respondeu.
 
As horas foram se passando e nada do boliviano aparecer, olhei no relógio, já estava ficando tarde para decola! Para piorar, como é que conseguiria voltar para a cidade, sem saber a rota?
 
Quando o hermano voltou, estava acompanhado de um bando de índios, todos mau encarados, que nos colocaram, de novo, na carroceria da velha camionete Willys, e nos levaram para a pista! Lá estava meu avião estava todo lambuzado de tinta, mas  inteiro, graças a Deus! Na despedida o hermano disse:
“ – Vão embora agora, amanhã não sei se vou dar conta de soltá-los, já foi difícil convencê-los! Eles queriam ficar com o avião e entregá-los para a FUNAI, e ai? Nem Brasília seria o suficiente para resolver este impasse! Sei que já está tarde, porem,  não posso fazer mais nada. Daqui para frente a sorte é de vocês, vão embora e não voltem mais!
 
Nunca senti tanta vontade de dar um beijo de despedida em alguém, porém juro que me veio a estranha vontade, só pela sua camaradagem do hermano! Viva a Bolívia! Pensei! 
 
Enfim decolamos! O rumo? Nem sei qual seria, tracei mentalmente a rota de volta e pedi a Deus que me ajudasse, pois já estava no lusco-fusco, e quando enxerguei a pista do garimpo, foi a conta de colocar o avião no chão e não deu para enxergar mais nada!
 
Fomos para o único boteco do garimpo, eu pedi um litro de cachaça e entornamos tudo! Antes porém, quis saber se de fato meu amigo conhecia o cacique, ele deu uma gargalhada e disse:
“ – Deixe isto para lá, afinal não estamos vivos?”
 
Juro que tive vontade de meter aquela garrafa de cachaça em sua cabeça, mas o que iria adiantar? Afinal, estávamos vivos, como ele disse e o que interessa é MANTER SE VIVO, naquele fim de mundo!
 
E esta foi a história da minha curta prisão em uma aldeia indígena, e o engraçado é que fui salvo por um estrangeiro, e agora pergunto:
“ – O que ele estava fazendo lá? E a FUNAI? Saberia de sua presença em terras indígenas? 
Finalizo com a frase: “Negócios que envolvam índios, nunca mais!”.

 

 

 

 

Um comentário sobre “Comandante Niltinho: Prisioneiro dos índios !!!

  • EU PENSO QUE A FUNAI DEVERIA PASSAR POR UMA COMPLETA MUDANÇA DE DE FILOSOFIA A RESPEITO DO INDIO NO BRASIL

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