Comandante Niltinho: O castigo !!!
Gilmarzinho e Felipe amarrando as barras de canos no montante e fuselagem!
Acredito eu, vocês devem estar pensando que existe um pouco de conversa de pescador nestas histórias que conto, porém afirmo que são verdadeiras, tão verdadeiras que eu vou contar uma e vou dar nomes ao boi , mas pelo amor de Deus vocês não vão atormentar meu amigo pois corro o risco de ficar sem credito no seu supermercado e minha conta já está na estratosfera (altitude em que um monomotor não atinge), e eu tenho dois barrigudinhos para alimentar!
Esta história começou por causa do descuido de um piloto que eu vou omitir nome, pois corro o risco dele ficar com raiva de mim, pela tamanha sacanagem que lhe fiz e com os demais, porém, o que vocês acham que eu deveria fazer? Afinal no amor, na guerra e mais ainda nos garimpos que é uma terra sem lei, vale tudo! Vocês não acha que estou certo? Só que o castigo não demorou a chegar.
Estava eu no aeroporto, quando vi uma bela morena com uns lindos óculos escuros, que não olhava para ninguém, juntamente com uma criança.
Imaginei, então, fazer amizade com a criança, acreditando que assim iria atingir a tia, e, rapaz, não é que deu certo mesmo?
Não demorou muito para iniciarmos uma conversa e vocês não imaginem o que ela me contou: estavam muito contrariados com o piloto que havia prometido levá-los para o garimpo logo cedo e até aquela hora, não havia aparecido!
Quando ouvi a palavra garimpo gelei, vocês não imaginam o que significa ter um garimpo para voar! Meu amigo você sai do blefo (põe dinheiro no bolso) rapidinho e justamente era isto que eu precisava naquele momento!
Tratei logo de saber onde era o bendito garimpo, e não é que havia surgido um na fazenda Paraná e poucos sabiam disso e os que sabiam não diziam a ninguém, pois estavam tratando de “comer na manha”.
Tratei de saber também por onde estava o piloto e não é que ele havia pego um vôo para Palmas e dificilmente chegaria em tempo para levá-los!
E naquele momento tive uma grande idéia e foi aí que esta historia realmente começou: chamei o piloto Espanha (que Deus o tenha, caiu voando nuns garimpos do Amapá) e perguntei-lhe se conhecia a pista!
– Claro ó meu!
Era assim que ele gostava de iniciar a frase. Pedi-lhe que fosse abastecer o avião rapidinho, pois já estava ficando tarde para voar, e voltei a conversar com a bonitona, quando me ofereci para mandar levá-la, o que foi aceito na hora!
Coloquei sua bagagem no avião e pedi ao Espanha que não voltasse neste mesmo dia, que dormisse lá e como o dono do garimpo era paraguaio e falavam a mesma língua, mandei que oferecesse para ele os vôos que necessitasse, de graça, em troca da preferência dos voos dos outros garimpeiros, indicando que viesse para Tucumã para acertarmos maiores detalhes, caso ele interessasse pela oferta.
Não deu outra, o peixe havia mordido a isca e no outro dia, logo cedo ouvi o ronco do CZC passando por cima da cidade e tratando logo de ir para a pista, vocês não imaginem a minha surpresa quando vi pela primeira vez aquela mistura de brasileiro com paraguaio com um baita sorriso na boca, que foi logo dizendo:
– Você é o Niltinho piloto?
– Sou eu sim, senhor Altameu!
– Pois é, vim pela oferta que me foi feita, mas antes, trate de arrumar umas gurias e uma loira bem gelada para que a conversa fique mais agradável, não é irmano?
É! Não sabia eu que naquele momento estava começando uma grande amizade que iria terminar um dia, quando o levei deitado no chão do avião, todo quebrado após ter levado uma baita surra da Polícia Federal, porém esta é uma outra história.
Não preciso dizer, que aquele resto do dia e pela noite adentro a pauleira foi feia! Para mim ele não via mulher e cachaça havia muito tempo! O cara parecia um doidão, se tivesse trazido seu trinta e oito, teria dado muito tiro para cima , como gostava de fazer no garimpo! Nesta noite ele ficou conhecendo uma amiga que mais tarde se tornaria sua amante!
No outro dia cedo ele já estaria normal, pensei ! Agora, é a hora de conversar!
“- Altameu, o que você acha de eu simular uma venda da metade do meu avião para você, e com isto tirarmos todos os outros aviões da jogada? Você ficaria com o CZC à disposição para ir onde quiser!”
Moço! Esta proposta deixou o paraguaio muito importante: imagine você morando num lugar tão longe que até pelo pensamento é difícil chegar e de um momento para outro, passa a ter um avião com piloto e que em apenas 45 minutos você estaria em Tucumã?
Aceitou na hora e logo começamos a esparramar o boato da compra da metade do avião na praça!
Não preciso dizer que aquela notícia caiu como uma bomba no meio da rapaziada, uns acreditando e outros não, porém, como o garimpo era dele e era ele que dava as ordens, comecei a voar adoidado!
Tinha dia que eram dois voos e aí meu amigo, comecei a colocar umas graminhas de ouro na capanga e comecei a ficar bonito na foto!
Porem, vocês não pensem que a coisa foi tão fácil assim, tive que enfrentar muita resistência e uma delas foi com o Felipe, que não queria engolir aquela farsa de jeito nenhum, e queria furar o bloqueio para voar com quem quisesse!
O cabra era esperto, porém com meu jeitinho acabei resolvendo o problema e ele continuou a voar comigo e acabamos ficando tão amigos, que hoje somos compadres!
No entanto o que é bom dura pouco e logo cai na desgraça de novo! Vocês nem imaginem que um garimpeiro chamado Devanir, que tinha uma cantina lá dentro do garimpo, queria que levasse umas 20 barras de cano do tamanho do avião e nem pensar de serrar os canos! Simplesmente queria que eu os levasse inteiros!
Cara, será que alguém tem alguma idéia de como levar aqueles malditos canos? Pela falta de idéia e coragem acabei perdendo a preferência de voar para o garimpo do senhor Altameu!
Eu já não disse para vocês que aqueles pilotos que voavam nos garimpos, eram todos doidos? Pois é, logo apareceu um que topou de levar os canos e ai quem “entrou pelos canos” fui eu!
De manhã cedo vou para o aeroporto e não é que vejo o piloto Gilmarzinho, junto com o Felipe, meu compadre, amarrando os canos todos pelo lado de fora do avião, passando entre os montantes e a fuselagem, indo até passar pelo profundor!
Quando vi aquilo não acreditei! Juro que temi pela vida dele, que não estava nem aí, sorria e ia passando os olhos pela amarração que meu compadre fazia muito bem, e de vez em quando dizia: – arrocha aqui! Arrocha mais ali !
Ótima postagem! Vc. também não esteve naquela região, JC?
Esta história do garimpo é fantástica! Só mesmo alguém que viveu por lá é que pode contar direitinho, como era a vida e a luta pelo ouro!
Parabéns ao JC e ao Comandante Niltinho! Quero ver outras histórias!
São “doidos” mesmos