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Churrasco no hangar !!!

O primeiro destino internacional da Varig foi Montevidéu. O voo inaugural foi em 1942, feito em um De Havilland Dragon Rapide, avião inglês para oito passageiros, numa viagem de três horas e meia saindo de Porto Alegre.

Nos anos em que voei na Varig, o voo era realizado de Boeing 737-300, e havia uma programação que era para lá de especial – um simples bate-volta do Rio de Janeiro para Montevidéu – em que havia um longo tempo de espera em solo Uruguaio.
Neste caso, apesar de haver quase quatro horas entre a chegada e a saída, a tripulação, ao invés de seguir para o hotel para um breve descanso, ficava aguardando no aeroporto. Para passar o tempo, os tripulantes se reuniam para o famoso “churrasco no hangar”.

Este churrasco era organizado pelo Lanzzini, um brasileiro apaixonado pelo Uruguai que por anos foi o mecânico responsável por receber e atender os voos da Varig. Um senhor muito simpático, bom de prosa que além de receber bem os tripulantes, demonstrava muito prazer em preparar o churrasco.
O esquema funcionava da seguinte maneira: Ainda no Rio de Janeiro, quando a tripulação se reunia para o voo, pilotos e comissários conversavam e combinavam os detalhes para entrar no rateio necessário para o churrasco. Quase sempre os seis (comandante, copiloto e os quatro comissários) topavam, mas havia dias em que um ou outro vegetariano preferia ficar de fora.
Após a decolagem, quando os pilotos entravam em contato com a empresa para informar o estimado de chegada no destino, esta mensagem era acrescida da informação do número de tripulantes que iriam participar do churrasco.

Lá em Montevidéu, de posse da mensagem, o Lanzzini providenciava a compra das carnes, que eram maravilhosas, cortes que não encontramos nos supermercados brasileiros.
Em um canto do hangar o churrasco era preparado e acompanhado de refrigerantes, sucos, pães e outros aperitivos básicos. O Lanzi—ni era um grande contador de “causos”, e assim o tempo de espera passava rapidinho. O valor do rateio a ser pago para cobrir as despesas era irrisório diante da quantidade e qualidade do churrasco.
Faltando quarenta e cinco minutos para a saída do voo, a tripulação retornava ao avião e se preparavam para embarcar os passageiros e voar de volta ao Rio. Quase sempre a quantidade de carne comprada para o churrasco era tão generosa que os tripulantes levavam alguns cortes para suas casas .
O “velho” Lanzinzni faleceu há uns anos, o avião aopousar no Uruguai já não fica mais parado por horas, e o antigo aeroporto cedeu lugar a um novo terminal.
O pernoite em Montevideu continua muito agradável com ótimas opções de restaurantes para comer uma bela carne, mas o churrasco no hangar não tem mais, ficou apenas na lembrança daqueles que tiveram a sorte de participar!
Comandante Beto Carvalho é aviador e piloto dos grandes jatos