Foto anônima de febiano, é identificada e ganha história!!!
Aficionado pela Segunda Guerra Mundial, o colecionador Marcos Cidade sabe que nem todos compartilham do seu entusiasmo quando mostra aos conhecidos o seu precioso acervo, ainda mais quando se trata das mais de duas mil fotos do álbum sobre a Força Expedicionária Brasileira. Daí o espanto quando seu primo Geraldo Antônio Cidade, gritou ao ver o retrato do tenente George Antônio Fonseca, no meio de tantos outros rostos nas paginas do álbum que folheava sem demonstrar muito interesse:
— Doutor Fonseca! Eu conheço esta foto. Este é o Dr. Fonseca — afirmou ao lembrar de outra foto similar que havia em um dos móveis da sala da casa da melhor amiga de sua mulher Mônica.
Assim, a foto garimpada por Marcos anos antes na Feira de Antiguidades da Praça XV, por menos de R$ 10, ganhou um valor especial: ele acabou por conhecer a história por trás da imagem, que lhe foi contada por ninguém menos que os herdeiros daquele herói do Exército brasileiro. Até então, os únicos registros que o colecionador tinha do jovem oficial, além de uma dedicatória escrita pelo próprio no verso do retrato em preto e branco para a amada “Wandinha”, eram as datas de embarque para a Itália (08/02/1945) e retorno ao Brasil (17/09/1945). O encontro do colecionador com o advogado André Luiz Fonseca e a dentista Ruth Fonseca rendeu aos três uma nova amizade e a descoberta de cartas românticas trocadas pelo tenente e sua noiva durante a guerra que estavam guardadas em uma pasta de memórias do casal, falecido há mais de dez anos.
— Isto nunca tinha acontecido comigo. E não lembro de conhecer ninguém que tenha vivido algo assim — contou Marcos.
De acordo com os documentos, a foto com a declaração de amor eterno é datada de 26 de maio de 1945. Um mês antes, em 24 de abril de 1945, o tenente enviou a Wanda uma carta em que a pedia em noivado. Mas como os Correios, pelo menos naquela época, era um serviço demorado e nem sempre confiável, o tenente Fonseca pedia que a resposta viesse por telegrama:
“A fim de amenizar um pouco a minha ansiedade, queria pedir-lhe o favor de telegrafar-me o seguinte código, caso a resposta seja afirmativa: 56 32 62”, escreveu o George na carta.
— Devia ser o “WhatsApp” da época — comentou André, que não faz ideia até hoje do significado dos números:
— É certo que ela aceitou porque senão não estaríamos aqui agora conversando — acrescentou o advogado, para depois contar que nem o pai, tampouco a mãe gostavam de falar da época da guerra.
— Eu acho que isto mexia muito com ele, não gostava sequer de ver filmes de guerra. E quando eu assistia a algum, ele mandava baixar o volume — contou.
Já as razões da mãe, Ruth garante que eram ciúmes do marido:
— Nosso pai aproveitou a vinda para o Brasil de uma enfermeira para pedir a ela que trouxesse uma carta para minha mãe. Só que depois de entregar a carta a enfermeira comentou com ela que estava saindo dali para ir à casa da noiva do tenente Fonseca para entregar outra carta. Até aquele momento, para minha mãe a noiva era ela, né? Mamãe simplesmente silenciou e não retornou mais nenhuma carta ao nosso pai até o retorno dele ao Brasil. E foi preciso um esforço muito grande das duas famílias para que ela aceitasse participar da festa do desembarque que aconteceu em outubro — contou Ruth.
Se foi um engano da enfermeira ou indiscrição, isto ninguém saberá. Refeitos da crise, o certo é que os dois se casaram, tiveram André e Ruth e viveram juntos por 60 anos.
— Quando minha mãe morreu, meu pai não durou seis meses. Mas até o fim, ele não falava da guerra, mas adorava a Itália. Mas minha mãe, por ciúmes, detestava tanto a guerra, quanto a Itália.
Ao final do encontro, Marcos Cidade ofereceu a foto aos filhos do tenente, que agradeceram mas preferiram devolvê-la ao acervo:
— Nós temos nossas fotos em casa e esta faz parte de um acervo sobre heróis de guerra. É lá que ela deve ficar — concluiu André, com total apoio da irmã.