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O Lapinha e o Batman !!!

Na ultima década, com a melhora e a estabilidade da economia no Brasil, as cidades cresceram muito. Um exemplo é a cidade de São Luiz do Maranhão, onde estive recentemente, e fiquei surpreso com a mudança.
 
Eu não pernoitava por lá há quase 15 anos, e só conhecia a região central, além da cidade histórica de Alcântara. Desta vez eu encontrei uma outra cidade, já que o hotel em que fiquei hospedado com a tripulação fica em um área totalmente nova. Um bairro próximo à praia do Calhau, cheio de prédios novos, onde é difícil achar alguma construção com mais de 10 anos.

Belém do Pará é outra cidade que cresceu bastante e ganhou novas atrações e áreas de lazer. Mas também perdeu, pois o antológico Lapinha não existe mais!
 
O Lapinha era um bar-restaurante-boate-casa de espetáculos onde no palco havia shows eróticos, strip-tease e até apresentações de sexo explícito. Ao contrário do que possa parecer, lá não era um ambiente de baixo nível, e embora houvesse também, não era um antro de prostituição. Era um espaço grande, frequentado por todo o tipo de gente, homens e mulheres incluindo a sociedade de Belém, empresários, políticos, turistas e tripulantes.
 
Era um grande programa quando os tripulantes se reuniam em turmas de seis ou mais pessoas e à noite seguiamos de taxi para o Lapinha. Na entrada havia sempre uma fila, onde nós tripulantes tínhamos entrada livre, sem pagar consumação mínima ou couvert artístico mediante a apresentação do crachá da empresa.
 
Até um certo horário da noite a casa era um bar-restaurante comum, com música tocando e espaço para dança. A partir de certa hora todos se sentavam, pois os shows iam começar! Sempre precedido do famoso bordão – LADIES AND GENTLEMENS, (assim mesmo, com um S no final, criando um plural na palavra cavalheiros) WELLCOME TO LAPINHA! – a sequência de shows eróticos começava.
 
Depois de quinze minutos de apresentações de strip-tease, sexo explícito e outros malabarismos, havia um intervalo onde retornava o clima de bar-restaurante, para algum tempo depois subir ao palco uma nova atração.  E assim seguia pelo restante da noite. Era divertidíssimo, dávamos muitas risadas.

Para mim, ir ao Lapinha só fazia sentido se fosse em turma, incluindo obrigatoriamente as comissárias, já que ir só em grupo de homens, era virar alvo fácil das garotas de programa. Certa vez estávamos em uma mesa com cerca de dez tripulantes, quando o comandante do meu voo me deu um dinheiro para pagar a parte dele na conta e saiu discretamente acompanhado de uma mulher.  
 
No dia seguinte perguntei a ele como havia sido a noitada. Ele se fez de desentendido até que eu fui mais específico, perguntando como tinha sido a noite com a garota que ele tinha “arrastado” e quanto tinha custado o programa. Ele disse que a moça era uma pessoa muito educada, de bem, e que não custou nada, mas que ele fez questão de pagar o taxi para ela na manhã seguinte.
 
Êta taxi caro!  Em outra ocasião encontrei no hotel um colega, copiloto na “velha” Varig, que me convidou para ir ao Lapinha. Quando ele disse que iria acompanhado do comandante e do mecânico de voo (lembram dos”gnomos”, que voavam o B 727 cargueiro?), eu recusei o convite, preferi não ir.

Ao sair do Lapinha no fim da noite, ainda havia ânimo para uma “saideira” no boteco em frente ao hotel Hilton. Situado na Praça da República, junto ao Teatro Municipal, este bar é frequentado pelos mais diversos tipos de gente, e por ter as mesas e cadeiras situadas em um terraço alguns degraus acima do bar, ganhou dos tripulantes o apelido de “Upper Deck”, em alusão à cabine superior  no segundo andar do Jumbo 747.

Fui ao Lapinha umas cinco vezes e em todas elas eu cumpri com o que  combinei comigo mesmo: me comportar, voltar para o quarto sozinho, dormir e acordar sozinho! O Lapinha fechou há uns anos atrás. Dizem que uma outra boate tentou assumir a lacuna deixada, mas nunca será  a mesma coisa.

Mas e o que tem o Batman a ver com o Lapinha? Bem, esta estória eu conto na semana que vem.
 
Comandante Beto Carvalho é aviador e piloto dos grandes jatos

Um comentário sobre “O Lapinha e o Batman !!!

  • Parabéns ao Carvalhinho pelo brilhante registro. Eu também frequentava o Lapinha de Belém do Pará e o bar em frente ao Hilton Hotel (onde morei alguns meses), de onde a gente fica observando o vai vém das moças na Praça. Uma pena o fechamento do Lapinha pois era o único lugar onde ainda tínhamos para assistir um belo show com as “mulatas” nacionais, e ainda arrumar companhia para o fim de noite.

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