Comandante Niltinho: O voo Goiânia/Boa Vista – parte I
Estava eu em um leito de um hospital, restabelecendo-me de uma hemorragia duodenal, quando vejo à minha frente meu amigo e piloto Odilon (que mais tarde veio a falecer em acidente de avião lá pelas bandas do Paraguai!).
Disse-me ele, que após completar o I A M (Inspeção Anual de Manutenção) de seu avião, estaria partindo para Roraima afim de voar nos garimpos que por lá tinham surgido!
Na mesma hora me deu uma vontade louca de ir com ele. Eu tinha que sair de Goiânia pois, aquela vida que eu estava levando iria me levar a morte. Mais uma daquela, longe de um hospital, e eu poderia até mesmo morrer pois, o sangue jorrava por todos os lados e quando cheguei ao hospital, estava desmaiado com a pressão quase a zero.
A úlcera já estava bem avançada e de acordo com os médicos, se não mudasse de estilo de vida, para que a ulcera cicatrizasse, Adeus!
O avião de meu compadre Odilon era um Cessna 210 recém importado dos Estados Unidos, muito lindo, a pintura era um vermelho bordeaux com branco e, se não me engano, o prefixo era PT-LRY, sempre fui ruim de gravar na memória os prefixos dos aviões!
O Cessna 210 do Odilon era igual ao da foto! |
Para quem não esta familiarizado, os Cessnas 210 representam o sonho de todos os pilotos pois ele cruza a quase 300 km por hora, gasta apenas 65 litros por hora e carrega seis pessoas!
Imaginem vocês o sucesso que este avião não iria fazer em Boa Vista? Como fez! Não é que meu compadre me deu um lugarzinho no avião? Tratei de dar uma melhorada no cadáver, juntei meus panos, não esquecendo dos remédios que o doutor me recomendou e partimos rumo a Boa Vista.
A primeira etapa foi Goiânia – Conceição do Araguaia. Lá meu compadre foi visitar uma de suas namoradas pois, aquele provérbio que diz que “em cada porto o marinheiro tem uma mulher, vale também para os pilotos, que me desculpem os colegas, mas eu também era assim, uai!
Ficamos hospedados em um belo hotel na beira do rio Araguaia e, enquanto estávamos pescando um tucunaré meu compadre alisava a barriga de sua namorada, pensando como iria sair daquela, pois a barriguinha já dava sinal da chegada de mais um pilotinho!
A segunda etapa foi Conceição do Araguaia – Altamira e essa já não foi tão fácil, pois logo de cara encontramos umas formações pesadas, forçando meu compadre, e eu também, a apertar o cinto! Tinha hora que eu olhava para a asa do 210 e via ela balançar tanto que eu pensava que iria arrancar (os primeiros 210 que chegaram ao Brasil, andaram arrancando as asas).
Mais aquilo para meu compadre era pura diversão ele vibrava muito! Pois foi nesta hora que olhei bem nos seus olhos e vi o que não gostei: vi algo de imprudência e nestes meus muitos anos de piloto aprendi que é a imprudência que leva a maioria dos pilotos à morte, como levou a dele, alguns anos mais tarde.
Como naquela época não tinha o GPS, apenas alguns NDB e VOR (equipamentos de apoio à navegação) e para nossa infelicidade estes equipamentos estavam fora do ar, íamos mais ou menos no rumo de Altamira só que para menos, pois se não fosse meu amigo ter avistado o rio Xingu, teríamos deixado Altamira bem à Direita.
Descemos para pouso meio instrumento meio no visual mais enfim pousamos! Eu nunca vi um piloto de garimpo saber voar direitinho por instrumento, nós fazíamos uma mistura e muitas vezes isto foi a morte de muitos deles!
Eu também voava assim e só não morri porque Deus estava me protegendo talvez para fazer o hotel mais lindo de Ourilandia (me desculpem pela propaganda) duvidam?
Eu os convido para daqui um ano vocês virem me visitar porém não pensem que não vou cobrá-los, pois ate lá estarei no maior blefo (duro) em que já me meti.
Em Altamira eu fiquei na casa do maior garimpeiro vivo que tive a honra de conhecer, o senhor MUCA ou Mucuin, na realidade não sei seu nome verdadeiro, mas como dizia meu amigo gringo de Miami the king of jungle (o rei da selva), ele ficou tão doido pela sua historia que queria escreve-la. Na pessoa deste meu amigo presto minhas homenagens a todos aqueles garimpeiros que conheci e que participaram comigo das experiências na Amazônia.
Continua
Comandante Niltinho
é piloto de garimpo
Amigo Paco Rabane, oque você acha desta nova historia, ainda contem aqueles erros terriveis que cometemos na anterior? Obrigado pela sua crítica,”gostei”