Comandante Niltinho: O voo Goiânia/Boa Vista – parte 2
O avião utilizado na viagem, de propriedade de meu compadre Odilon, era igual a este Cessna 210!
Na historia passada contei a viagem do trecho Goiânia a Altamira e hoje vou contar o restante do vôo, de Altamira a Boa Vista.
Este percurso deu-me a confirmação que meu compadre Odilon tinha algum desvio de conduta, porque neste vôo teríamos que fazê-lo passando por Manaus, que era muito mais lógico, e como estávamos em um monomotor com apenas cinco horas de autonomia, naquele tempo não existia GPS e em nossa rota, mão havia nenhum apoio de radio comunicação, cidade, pistas, etc.
Só iríamos ter, na chegada a Boa Vista, o VOR e o NDB, isto é, se estivessem no ar e em rota não existia nenhuma referencia, a não ser uma ou outra aldeia indígena, cuja localização só caberia a Deus!
E por Manaus não teríamos toda a rodovia Manaus – Boa Vista como apoio, além da cidadezinha de Caracaraí, que fica as margens do rio Branco.
Como não havia urgência em nossa chegada a Boa Vista, encontramos mais uma razão para passar por Manaus, para umas comprinhas na Zona Franca, que naquela época era bem farta de produtos estrangeiros.
Entretanto, só percebi que algo estava fora dos planos, quando percebi que Manaus estava ficando à minha esquerda e perguntei ao compadre se ele não estava fora de rota,pois estávamos cruzando o rio Amazonas no rumo norte, e assustei-me com a resposta:
– Niltinho, nós vamos direto a Boa Vista! Falei que não era uma boa idéia e ele nem respondeu!
Que eu soubesse, até aquela data, não havia ninguém que tivesse ousado fazer aquela rota, mas era isto mesmo que ele queria! Ser o primeiro!
Tratei de pegar o mapa e tracei a rota, meu Deus, iríamos sair do Brasil entrar no espaço aéreo das guianas e muito lá na frente iríamos voltar a voar no espaço aéreo do Brasil !
Calculei o tempo, e pedi a Deus que não pegássemos um mau tempo, pois ai o azar estaria feito!
Vocês acreditam que, em todo o percurso não avistei nada a não ser floresta? A única coisa que me tranqüilizava era o ronco daquele 210 semi-novo que meu amigo Mucuin havia comprado por uns bons quilos de ouro retirado de seu garimpo no Pará (que bons tempos eram aqueles, heim Mucuin?)
O tempo de vôo foi passando, com momentos em que parecia que o clima iria se arruinar de vez , melhorando em seguida e voces nem imaginam nossa alegria, quando saímos em cima daqueles campos que eles chamam de lavrados, o que era um indicio que estávamos não muito longe de Boa Vista e, por coincidência o NDB começou a entrar, ocasião em que verifiquei estarmos bem fora do rumo! Os ventos havia feito seu trabalho muito bem feito pois acho que, naquele rumo, iríamos entrar na Venezuela passado por Santa Helena (cidade na fronteira com Venezuela)! Fiquei imaginando o quanto éramos doidos de fazer um vôo destes, apenas com uma bússola.
Meu compadre tratou de corrigir a rota e não demorou muito estávamos pousando no aeroporto mais movimentado do Brasil naquela época, por causa dos garimpos na região dos índios Yanomanis!
Finalizo deixando para meu compadre piloto, o reconhecimento de ter sido um bom piloto, embora não me servisse de modelo pois era muito destemido e eu sempre fui mais cauteloso, talvez em decorrência de ter brevetado muito jovem (arrojado e sem medo), diferente de mim, que o fiz já um tanto amadurecido!
Dedico, ao compadre Odilon, a minha admiração como piloto e ofereço-lhe uma especial homenagem, dedicada há muito poucos, por ter O DOM DE VOAR !