Comandante Niltinho: O pouso de barriga !!!
Nunca estive tão apreensivo em escrever um conto como agora, pois piloto nenhum gosta de contar as suas “atrapalhadas”! Como escondem meu Deus! Quando você ouve um piloto contar como ocorreu seu acidente, fica impressionado como ele joga toda a culpa no avião (coitados!). Ele é sempre o herói, o mocinho da historia!
Se os aviões pudessem se defender, vocês veriam uma outra historia, provavelmente bem diferente da contada pelo piloto, para quem “a culpa é sempre do avião, nunca é do piloto”. Isto é regra geral!
Sempre digo que não tenham medo de voar, o avião é seguro! Tem que ter cuidado com aquela peça que fica logo atrás do manche, pois aí sim, é que mora o perigo, e digo mais, quando se juntam alguns pilotos então, fuja, corra para bem longe, pois é aí que aparecem as “atrapalhadas”!
Você conhece aquela “deixa comigo!”, ou “tá comigo!, ou ainda “ fique frio!”? Pois aí sim, é que você esta correndo riscos! Posso ficar aqui por horas contando as “atrapalhadas” que aconteceram, quando se juntaram dois ou mais pilotos, para voarem juntos!
Comigo foi à mesma coisa, acabei fazendo um pouso de barriga, tudo porque estava fazendo um vôo duplo num Cessna 210 com meu amigo piloto Maracaipe, e ele falou a célebre frase “deixa comigo! Eu comando o trem de pouso!” E eu deixei, e foi aquela água!
O Cessna 210 do garimpeiro Olímpio era igual a este!
Tudo começou quando meu amigo garimpeiro Olímpio, dono de um belíssimo Cessna 210, (quem conhece aviões, sabe muito bem que este é o sonho de todos os pilotos), e pediu-me para levá-lo a Araguaína, naquela época ainda no estado de Goiás!
Nunca tinha voado neste modelo de avião, e logo fiquei entusiasmado com a possibilidade afinal, imagine só, voar num Cessna 210 seria um sonho que eu estava aguardando há muito tempo!
Minha dúvida em relação ao avião, seria apenas o trem de pouso, retrátil (no meu avião era fixo!) e naturalmente eu teria que ter um parceiro, para, em caso de pane, poder administrá-la com eficiência!
Solicitei, então, a ajuda do meu amigo piloto Maracaipe, com muitas horas de vôo no seu curriculum, sem duvida um “ás” da aviação, com quem eu já tinha efetuado vários vôos! Não poderia estar melhor assistido, vocês não acham?
Quando chegamos ao aeroporto, ainda bem que era à tardinha, não tinha vento, a sustentação estava ótima, tudo indicava que seria um vôo tranqüilo!
Eu estava calmo, curioso em ver as diferenças entre os dois melhores monomotores do mundo (o meu 182 e o 210!), sem dúvida os campeões de venda! Infelizmente o Cessna 210, deixou de ser fabricado! Uma pena!
Quando sentei, na esquerda, senti um grande prazer, o 210 é confortável, a posição dos comandos, o manche, as manetes, tudo perfeito!
O único item desfavorável, para os baixinhos como eu, era a necessidade de incrementar o banco, com algumas almofadas, para melhorar a visibilidade, caso contrário, não se dá conta!
No Cessna 182 eu sempre voei na ponta dos pés, e olha lá, tive que mandar fazer um banco especial em Anápolis, com meu amigo Batista, que acabou ganhando uma boa nota, fazendo bancos para outros baixinhos! Até hoje continua me devendo a cerveja, o danado!
Talvez a média de altura dos gringos seja maior do que a nossa, o que já é uma diferença considerável! Tem a ver, certamente, com a nossa descendência, não é?
Depois de bem acomodado no banco, partimos para a cabeceira. Enquanto isto, o piloto Maracaípe enchia-me de informações: isto aqui é assim, isto aqui é assado, metade do que ele falava, não conseguia memorizar! Minha preocupação era outra: queria “voar” o avião!
Na verdade, eu não via grande diferença do 182, tanto que lhe disse:
“ – Não vejo necessidade de fazer um vôo longo, portanto vou logo para pouso, ok?”
Mantive a subida até atingir a altura necessária, iniciei uma curva para esquerda e entrei na perna do vento. Até aí meus amigos, tudo ia bem, eu procurando me adaptar com aquela máquina maravilhosa que é o 210.
Como disse antes, não havia grande diferença, somente senti que ele era mais pesado. Maracaípe, com aquele ar professoral, continuava tentando me passar seus valiosos conhecimentos. Não suspeitava da tamanha atrapalhada em que íamos entrar! Quando íamos girar base, ele disse:
“ – Deixe que o trem de pouso eu comando, preocupe-se apenas em pousar.” E comandou o trem.
“ – Ok! “ respondi
“ – Niltinho, você esta vendo aquele espelhinho debaixo da asa? Mostra se o trem de pouso está abaixado ou não!
– Estou!” respondi, mas na verdade minha atenção estava toda dispensada ao pouso! Já estava com vontade de mandá-lo à merda, pois já estava tirando a minha atenção quando, de repente, ele olhou para o bendito espelhinho e exclamou:
“ – Uai, o trem não esta abaixado!” E aí meu amigo, ele cometeu o maior erro de sua vida: ao invés de mandar-me arremeter, simplesmente comandou o trem de pouso para cima e em seguida para baixo, e aguardou! E nisso eu já estava arredondando o bicho e, sentindo alguma coisa estranha, pois já era hora das rodas começarem a rolar no asfalto, e nada!Aí dei um grito:
“ – Vamos pousar de barriga! Vamos pousar de barriga!” repeti.
Vi o tamanho do susto que ele levou, seus olhos estavam arregalados, seu rosto refletia o tamanho da besteira que havia feito porém, observando que não tínhamos mais nada a fazer, calou-se, totalmente paralisado!
Quando vi a atrapalhada feita, tratei de levantar o nariz do avião, com o pensamento na hélice e no motor! Só pensava em salvar os dois!
Vocês nem podem imaginar o barulho que fazia o arrasto pelo asfalto, espalhando faíscas, e com a aeronave querendo sair de lado!
Meus pés já não aquentavam mais segurar o avião no eixo da pista, senti uma inclinação muito violenta para a direita, e dei um grito:
“ – Ajude-me nos pedais, que ele vai sair de lado! Força, força!” E apertávamos os pedais com tamanha força, que não sei como não quebraram!
Uma coisa porém, havia acontecido, graças a Deus e a Santos Dumont, eu não havia percebido que a bequilha (roda da frente da aeronave), havia descido e travado, imaginem que sorte nossa!
E assim tocou o chão, sem bater a hélice, salvando também o motor pois a hélice é acoplada ao girabrequim, salvando-nos de um belo prejuízo pois, qualquer batida pequena na hélice, tem que abrir o motor, com custos proibitivos!
Mas não teve jeito, o avião acabou saindo do eixo e entramos no acostamento com tamanha violência que achei que ele ia pilonar (quando a aeronave levanta a cauda e encosta o nariz no chão).
Por sorte, não havia nada em que bater e acabamos parando com a cauda no chão e o nariz para cima, numa triste posição para um belo avião como aquele!
Quando desembarcamos e constatamos os estragos, ficamos muito tristes! Como foi acontecer aquilo? Tentava compreender onde tínhamos errado e cheguei à conclusão que a aeronave estava sendo comandada por dois pilotos, de forma independente, ou seja, cada um fazendo aquilo que achava que tinha que ser feito, sem dar ciência ao outro, quando, na verdade, só deve existir um comando e ele é quem determina os procedimentos!
Acredito que fato idêntico, deve ter sido a causa da maioria dos acidentes envolvendo colegas meus!
Como eu que estava no comando, coube-me a responsabilidade do acidente perante a todos, inclusive perante o dono do avião com me desculpei, resignado!
Deixo para vocês a oportunidade de fazerem o julkgamento próprio: Quem foi o principal responsável pelo acidente: o Maracaipe, eu ou o aviaõ? Escrevam-me!
Comandante Niltinho
é piloto de garimpo
Caro comandante, vc bem sabe, não existem culpados!
O que d fato existe; são dois tipos de piloto de Cessna 210,
O que “pousou de barriga” e o que “ainda vai pousar”
fOI VOCÊ SEU “OTARIO” QUEM MANDOU VOCÊ DAR OUVIDO AO SEU “COPILA”