GERAL

Comandante Niltinho: O Sequestro !!!

Eu já devo ter comentado que meu avião PT-CZC, foi seqüestrado pelos índios Apytereua, só que não contando os detalhes de como  consegui reavê-lo, e é o que passarei a fazê-lo agora, onde mostrarei como consegui recuperá-lo das mãos destes “hermanos” tão amigos e parceiros na época do mogno, quando foi preciso nos unirmos para comer do “bolo” juntos, (porque, caso houvesse atrito, a madeireira não comprava!).
O engraçado é que tomamos muita cerveja juntos (com o cacique), conhecia todos os líderes da aldeia, e eles tanto me conheciam como também meu avião! Piloto e avião, para os índios, sempre causaram muita curiosidade e estavam no foco deles.
E tudo isto não adiantou nada, fui para “paxiba”, (pau cheio de espinhos que eles passam no meio das pernas,de preferência atrás, das pessoas que não gostam, Niltinho, por exemplo). Dizem os que já levaram, que você passa dias sem poder andar!
Cacique Cururu, dos Apyterewa
Acredito que vocês já leram na história “Apytereua – os índios brancos”, que meu avião ficou muito perto da sede da fazenda,  onde estavam os índios acampados e onde ocorreu aquela sabotagem (quase cai por causa do açúcar que foi posto dentro do motor) e eu acredito que os índios tiveram tempo demais para memorizar muito bem como era o meu avião!
Nunca imaginei o que poderia acontecer após este episódio pois, gratidão, eu sempre soube que índio tem muito pouco e que se não fosse por mim e Ditão, teriam morridos todos, inclusive o povo da FUNAI e os agrimensores contratados para trabalharem na área, afinal, éramos mais de 200 pessoas e eles não passavam de 50!
A briga no tapa seria boa demais, sem dúvida que eles sairiam dali com as orelhas ardendo mas, nada disso aconteceu, pois conseguimos contornar aquela ação desastrosa da FUNAI sem uma gota de sangue derramado! Só ficamos no prejuízo dos vôos que fizemos para levar os índios de volta para sua aldeia, (abandonados pela FUNAI) e as vacas que matamos para dar de comer a tropa toda!
Certo dia, meus amigos Daniel Renes, e Paulo Botoli apareceram lá em casa, muito animados pelo fato de terem encontrado um índio aculturado, advogado, que residia em Brasília e tinha um transito muito bom na FUNAI e no congresso e se comprometia a ir na aldeia convencer os índios a dividir a área! 
“ – Niltinho, precisamos que você vá a Altamira, pegue o índio que vem de Brasília e leve ele à aldeia no seu avião, para que as despesas fiquem mais baratas, assim teremos de gastar apenas a gasolina, você vai?”
Tive vontade de dizer não, afinal a minha ida na aldeia era muito perigoso, eu era visto pelos índios como líder do movimento que os impedia, juntamente com a FUNAI, a terminarem o levantamento topográfico da área! Tive medo da “paxiba” pois, alguns amigos saíram da aldeia com o “rabo ardendo”.
Enfim eu era um dos líderes, e nunca deixei de medir esforço para ajudar na causa, e assim éramos todos nós, todos por um e um por todos! Éramos como irmãos brigando pelo mesmo osso!
“ – Vamos fazer o seguinte, eu arrumo o avião e vocês chamam o Junior (filho do Pereira, bom piloto) e tudo bem, eu mesmo ir pilotando acho que vai dar merda!
– Tudo bem Niltinho, vamos ver o que vai dar, disse o Renes! Estou muito confiante neste encontro, confio no índio, pois as informações que tive dele são as melhores!” Ainda respondi:

“ – Você não acha que ele ser da etnia dos Terenas (Mato Grosso), eles podem querer não iram ouvi-lo?
– Negativo, ele é cotado para ser o futuro presidente da FUNAI, caso os índios conseguirem se libertar dela, lá em Brasília ele é muito respeitado, é muito cotado!
– Vão com Deus então e seja o que ele quiser! Alguma coisa me dizia que iríamos precisar de muita ajuda.
E lá vai meu amigo Junior para mais uma aventura na Amazônia. Nunca gostei de pousar em aldeia de índios desde aquela vez que me prendaram no Amazonas, e só eu sei o quanto foi duro para me libertar das “garras do tamanduá”!
Aquela noite foi duro de passar, rolava na cama para lá e para cá, só pensando no CZC, não saia da minha mente o que tínhamos passado juntos naquela bendita aldeia no Amazonas! Quando saímos daquela encrenca, ele tinha ficado todo pintado, coitado, levei dias para limpá-lo direito, pois aquela tinta que os índios usaram, eram terríveis para se limpar, e só de pensar que estava colocando-o novamente em perigo, me apavorei, porém já era tarde, afinal ele era meu irmão, o mais querido de todos, e eu tinha que protegê-lo, e não era daquela maneira que eu estava fazendo! Imagine ele sozinho na aldeia? Afinal, não dormi nem por um momento!
Tinham se passados uns três dias, e nós aqui só imaginando o que estaria se passando na aldeia dos índios brancos, uma vez que não tínhamos nenhuma comunicação. Acreditávamos que, naquela altura do campeonato, o Terena já teria fumado o cachimbo da paz, dançado ao redor do fogo, talvez até mesmo feito amor com alguma índia, porque lindas elas eram e ele era muito culto, bonitão, cabelo bom, iria papar algumas delas sem duvida alguma e provavelmente seus discursos ficaria para a posteridade!
Seria lembrado como aquele que havia feito a grande paz entre os brancos e os apytereua e era só aguardá-lo para fazermos a grande festa de comemoração do início do mais longo período de paz na região do Xingu! Isto era o que estávamos esperando!
Qual foi nossa surpresa, quando chegou uma mensagem de radio de uma fazenda na beira do rio Xingu, para que o Pereira fosse buscar seu filho que havia aparecido por lá, todo estropiado, quase morto de tanto andar, com fome e acompanhado por um índio muito falante!
Caras, ficamos sem entender nada, foram de avião e agora estavam a pé, pedindo socorro?
Só poderia ter acontecido um acidente, ou uma pane mais grave no CZC, para que abandonassem o avião, Junior era cobra criada na aviação, tinha certeza que por pouca coisa ele não ficaria na aldeia!
Comecei a imaginar que alguma coisa estranha estava acontecendo, meu Deus, e nos reunimos para aguardar a chegada deles de avião. Aqueles arrepios na nuca havia se manifestado novamente, era sinal que vinha “merda” por ai.
Fiquei com as pernas bambas quando o Renes terminou de contar o que havia acontecido! É meus amigos, aquilo que eu não queria havia acontecido! Pela segunda vez, seqüestraram o CZC, que tinha ficado lá no final da aldeia, jogado num canto e com muito custo, liberaram o piloto e o índio, mas “o avião do Niltinho não sai daqui”, disseram para o piloto! Queremos ver aquele “cabritinho” vir pessoalmente pegar seu avião aqui, que vamos passar a “paxiba” nele!
Nessas alturas o grande cacique Terena, meteu o rabo pelo meio das pernas, murchou a orelha e tratou de acompanhar o piloto para fora da aldeia. Não o deixaram ficar na aldeia e, dizem, até mandaram apagar seus rastros.
E agora irmão? Sem avião para trabalhar, a coisa começou a ficar preta, ir na aldeia nem pensar, e meus amigos, nesta hora, não podiam fazer muita coisa! Um deles, na época do mogno, conviveu muito com os Apyterewa, ficaram muito amigos, sempre estava na aldeia, e foi por  ele que recebi a primeira, pancada:
“ – Niltínho, eles querem R$ 50.000,00 reais para liberar o avião!
– Estes índios não estão doidos, não? R$ 50.000,00, é quase o preço do avião!
– É Niltinho, foi o que mandaram dizer para você e eu não sei o que fazer, acredita?
– E eu sei, vou para Brasília, vou falar com o presidente da FUNAI, antes porém, vou me encontrar com aquele terena, já que o Renes me disse que ele tem o maior cartaz por lá, ele vai ter que ajudar agora! Imagine eu ter que comprar de novo o meu avião? E por este preço?
Arrumei minha mala,  peguei um ônibus da Transbrasiliana, e “deitei o cabelo” rumo à Brasília.
Chegando lá arrumei um hotel logo ali perto da FUNAI, sabia que a novela ia começar, e ia ter muitos capítulos, só não sabia como ia terminar, pedia a Deus que me ajudasse a salvar o CZC pois parecia que tinham tirado um pedaço de mim, já não dormia direito há dias, afinal era meu ganha pão, como eu poderia perdê-lo? E minha família? Como eu iria sustentá-la, se não sabia fazer outra coisa a não ser a voar?
Não passava pela minha cabeça a possibilidade de perder o meu “companheiro”, de muitos anos, um escorado no outro, mais eu nele que ele em mim, afinal, há muito tempo que eu não dava um descanso para ele era só cacete, voar, voar, e voar e eu embolsando o dinheiro que ele me ajudava a ganhar! Era só o que  fazia.
Engraçado, agora que eu estava para perdê-lo, é que fui notar o quanto eu era ingrato com meu avião! A minha ingratidão não estava muito longe daquela dos índios. Porém, se eu o perdesse, eu jurava, iria para aquela aldeia e matava todos aqueles índios, tamanho era meu ódio!
Não acreditava no que estava acontecendo, afinal, o que tanto eu havia feito contra eles? Salvando suas vidas, dando de comer, levando de volta para aldeia e de avião?
E agora, sem mais nem menos, seqüestram meu avião e me tratando daquela maneira? Ora, isto era pura ingratidão, por isto eu digo, e confirmo, índio não tem sentimento de gratidão! Engano de  quem pensa ao contrário. Porém, logo caia na razão, e acabava me arrependendo daqueles maus pensamentos!
Deus iria certamente, me ajudar a encontrar um meio para salvá-lo, só não queria ter aquela infelicidade de um colega, que teve seu avião foi seqüestrado da mesma maneira do meu, e jamais o viu de volta! Isto foi perto do rio Curuá, os índios eram da tribo dos Caiapós, e o avião, também era um skyline! Este não teve sorte, se acabou por lá, vi a foto dele uma vez na revista Veja. Foi muito comentado este seqüestro, na época!
Encontrei o índio Terena no congresso, e juro que quase não o reconheci tão elegante estava, trajando um terno com gravata, um pouco surrado, porém não deixava de ser um terno bonito, e como ele era de estatura alta e magra, lhe caia muito bem! Cara, nunca tinha visto um índio tão bem vestido, e acredito que se ele estivesse ido para aldeia vestido daquela maneira, iria arrumar um “harém”, iria “chover tanto em sua roça”, que ele não daria conta sozinho, sem dúvida que daria um bom presidente da FUNAI, porem, não sei se viverei para ver este dia!
“ – Como vai meu comandante? Já sei o que você veio fazer aqui, me visitar é que não foi, não é?
– Você não disse que o meu caso era um galho fraco  lá no mato? Quero ver aqui na cidade se você quebra este agora!
– O negócio é o seguinte:
Quando começou a falar, vi que Brasília já o havia contaminado, aquele vírus da malandragem, da gatunagem, já o tinha atingido, sem dúvidas! Somente com esta entrada “o negocio é o seguinte”, já vi tudo, era mais um “enrolador” entre os muitos que por lá habitam, pensei! Não vai ser por aí. Duvido que esta droga de índio tenha alguma força, porém vou dar linha para ver até onde vai.
“ – Vamos lá para a FUNAI que vou marcar uma audiência com o presidente.”
Subimos à sala do presidente da FUNAI e, lá chegando, uma secretária nos atendeu com aquele sorriso, quase dando um beijinho no índio Terena, de tanto salamaleque., Confesso que fiquei impressionado com o prestigio do índio, e pensei: estou enganado com este cabra, ele tem força mesmo, ela pediu para que sentássemos e foi para dentro da sala do presidente, demorando tanto, que já estava me deixando irritado. Afinal apareceu, toda sorridente, dizendo:
“ – Infelizmente ele foi chamado ao gabinete do presidente Lula, pede desculpas em não poder atendê-los, e que fique para a próxima vez! Ok?”
O índio virou disse:
“ – De fato, o presidente é muito ocupado mesmo, mas não desanime não comandante, que vamos encontrar um tempo para falar com ele!”
Dei um largo sorriso e um forte aperto de mão na secretaria, (viria a  precisar muito dela) e deu muito bem para perceber o quanto ela fora treinada para engrupir aqueles índios metidos a besta. A “baba do quiabo” perdia longe para ela, pensei!
E assim foi a semana toda, e não demos conta de falar com o presidente, já estava cansado de pagar almoço, coca-cola (como bebem)  para o índio, e a conta só aumentando, e eu não via nenhuma luz no fim do túnel, parecia voar por instrumentos!

Cansei daquela embromação e resolvi ir consultar meu sobrinho advogado, Sony, que estava trabalhando em um escritório de advocacia em Goiânia, sendo sócio de um do mais renomado advogado Dr. Edmar.
Passei uma semana, em Goiânia relatando os fatos, e voltei para Brasília a fim de tentar falar novamente com o presidente da FUNAI, queríamos evitar uma ação litigiosa. E põem gasto nisto, irmão, já estava no “vermelho” a esta altura, e o CZC ainda na “moita”.
Novamente em Brasília, La vai eu de novo me apresentar para aquela, a qual eu chamo de a “mulher quiabo” e lá eu implorei para que ela me ajudasse a ter um encontro com o presidente, e ela me jogando para o “escanteio”, tudo isto na maior “manha” tiro o chapéu para ela, em nenhum momento me tratou mal, porem nada de me por em contacto com ele parecia que ela já estava avisada que era para mim levar um chá de cadeira mesmo, queriam me matar com a unha, resolvi então a não redar o pé da porta do seu escritório e na primeira oportunidade que desse eu invadiria por conta própria, e foi que fiz, em um descuido dela, entrei e qual a minha surpresa, topo com ele saindo da sala, ai então se topamos. Pensei comigo mesmo, agora você vai me ouvir “cabritinho” só que ele dava dois de min., eu com o “pescoçinho” arrebitado para cima e ele me olhando de cima para baixo, logicamente, ele numa posição mais confortável que eu, e comecei a expor meu problema ali mesmo, o danado nem deixou eu entrar, ficou de guarda na porta e eu fiquei feito “besta” chorando a perda do meu avião.
Ele me deixou falar e em seguida me disse:
Vá falar com meu secretario ali naquela sala, e simplesmente fechou a porta.
Cara ai eu percebi que eu tinha perdido a guerra, a minha conversa com o “secreta” foi uma “pauleira” [ dura ]depois de muita troca de acusações olha sôo que ele me disse:
-Nos não gostamos de você, do Ditão, e de toda aquela turma que não nos deixa terminar mos a medição da área, e só falta 1800 metros, {aquilo ficou gravado em minha memória}, portanto se você quiser, tirar seu avião de lá, negocie com os índios, eu não vou me opor, de seu jeito, quem mandou você ir lá.
Se eu tivesse perto de uma cadeira teria sentado na hora, isto era tudo o que eu não queria ouvir.
-Como vou negociar com eles, como? Não é? A FUNAI que é a guarda deles? Eu não posso fazer isto. Se eu sou proibido de entrar na aldeia?
Só ele faltou falar, “de seus pulos cabritinho”.
– Eu vou voltar aqui com meus advogados, disse eu, para termos mais uma conversa, até La vão pensando numa forma de acabarmos isto numa boa para ambas as partes.

Aposto que “quando virei as costas, eles devem ter me dado uma “banana” de tão “puto” que ficaram comigo, uma coisa eu já tinha em mente, tinha que tratar de ir arrumando o dinheiro logo para  dar para aqueles índios, porque uma ação judicial ali, naquele momento eu só teria desvantagem isto porque a nossa justiça é casado com um tal de  bicho preguiça e é duro ela dar um passo rápida,e ai então quem ia pagar o pato seria o CZC eu só ia acabar matando ele, meu medo seria  eles [os índios] despertarem para a venda do avião aos pedaços, seriam muito mais vantajoso, como fizeram os caiapós com o avião do meu colega sem dúvida fariam muito mais dinheiro. E vocês acreditam que são os próprios colegas que vão La comprar, neste mundo é um “enrabando” o outro não tem jeito não, é o mundo cão.
Ainda voltei com o Sony e o Dr. Edmar, e ameaçamos com uma reintegração de posse, porem não senti preocupação nenhuma por parte deles, já estão acostumadas mesmo com estas ações, que mais uma menos uma, é a mesma coisa. Mandei o Sony rascar a petição, e me preparei para a grande negociação na qual eu não tinha a mínima noção como começar, se eu desse sinal de desespero eles me quebrariam, se eu demorasse muito o prejudicado seria o CZC , lá no sol quente ,sem duvida a primeira coisa a ir para o pau seria os tanques de borracha, já tinha conhecimento que haviam retirado toda a gasolina.
De volta a Tucumã, mandei chamar “aquele” que seria dali para frente o meu elo com a aldeia, e mandei um recado. Não pagaria os $50.000,00 nem que a “vaca tussa”, por este preço compraria outro avião, que ficassem com o CZC. Aquilo cortou meu coração, porem o que eu ia fazer? Senão tinha este dinheiro, e os meus amigos? Vocês perguntariam, cara, sumiram todos, me largaram na “chapada” sozinho, viraram a cara. É isto que você ganha em querer ser um líder, deixo um recado para aqueles que queiram ser “líderes” que tomem muito cuidado, não foi assim que morreu Jesus Cristo? E agora era eu que estava no “pau da goiaba”.
Após uns dias veio a resposta. Queremos então $ 40.000,00 a vista. Dei risada, mandei outro recado. Eu não aceitaria, estava muito alto ainda. E o tempo foi passando, e eu cada vez mais no vermelho, engraçado como a sua “desgraça” corre, sem meu avião que era o meu “ganha pão” um meu visinho da minha fazenda no Irirí resolveu invadi-la, imaginando que eu já estava quebrado, e não era que estava mesmo? E novamente tive que enfrentar este problema sozinho, até meu irmão que é advogado [justamente o que eu precisava] me abandonou, e eu que tinha dado a ele 300alqueires desta mesma gleba, para que ele começasse sua vida no Para. Assim é a vida, irmão.
E o tempo foi passando, [já decorria mais de quarenta dias] menos para mim, que sofria com a ausência do meu avião, e a coisa para meu lado só “arrochava”, e eu mantendo a calma, rezando para aqueles malditos índios não danificassem o avião e resolvessem logo aquela peleja. cada dia que se passava mais difícil ficava para arrumar dinheiro.
Daí uns dias veio outra proposta,$30.000,00, pensei, se eu vender minha casa já da para tirar o avião, porem aonde eu ia morar? La no fundo do meu coração alguma coisa me dizia, calma bicho, estes índios não vão aquentar, são todos blefados, FUNAI só da uma “balinha doce” de vês em quando, segura nos dez mil. Pensava eu. Tinha um amigo que estava acompanhando o meu sufoco, que dizia, não sei como você aquenta, Niltinho, se você quiser eu vou com você raptar este avião, e começava formar uns planos “mirabolante” como entrar na aldeia, dar muita pinga misturado com sonífero e de madrugada, decolava e assim por diante. E eu respondia, para de sonhar bicho, ai sim que vamos “entornar o caldo” de vez.
Cara, tem hora que você tem que ter sangue frio, ter nervos de aço para aquentar as porradas da vida , parece que ao enfrentar todos os dias estas pistas ruim, voando pesado demais, chuva demais me tornei uma pessoa com um bom controle emocional, senão já teria morrido, de tanto sufoco que passei, por isto que no meu blog aparece “A vida é dura para quem é mole”meu amigo, sem saber eu já tinha sido preparado para mais essa, graças a Deus a vida na Amazônia tinha me tornado “duro” como todos nós que habitamos nela. Somos uma nova raça, forjado no suor e no sofrimento, aqui tudo é difícil até para se morrer é difícil e nossos governos não enxergam isto, como o Supremo tribunal federal em Brasília [ caso Roraima ].
Enfim, entrou na jogada um piloto amigo meu de Redenção que queria comprar o CZC.
-Mais como eu vou vender? Se não é mais meu? É dos índios.
-Eu quero saber se você vende mesmo, e quanto você quer, o resto é comigo.
-Quero $80.000,00.
– Você esta louco? Niltinho, eu dou $60.000,00, e garanto ti ralo de lá, tenho amigos em Altamira de dentro da Funai. Isto você não tem e para mim é “galho fraco”. Vou negociar com os índios e passo para você as condições deles, pode crer que vai sair muito mais barato para você. Aceita? Pensei, é chegado à hora de eu separar do CZC, não tem outro jeito, que vão os anéis e fiquem os dedos, nem que eu o compre de volta mais tarde. Esta feito, respondi.
Daí uns dias ele me liga de Altamira,dizendo,fechei em $ 10.000,00 em dinheiro, mais uma lista de compra equivalendo 500 quilos, topas Niltinho?
Esta feito, segunda feira pode passar aqui que o dinheiro estará pronto, traga a lista da mercadoria que vou providenciar.
No dia marcado ele passou em Tucumã entreguei o dinheiro, fiz as compras e ele partiu rumo a aldeia, com um mecânico, outro piloto e as mercadorias, o 210 saiu “bufando” da pista.
Não posso negar que estava contente e triste ao mesmo tempo, alegre por ter posto um fim naquela novela que já durava quase noventa dias, e triste por ter que me apartar do meu tão querido avião.
Aquela noite eu não dormi, foi uma das noites mais difícil que eu já passei, imaginem se os índios dessem uma “quiabada” como eu iria aquentar? E tudo seria possível porque índio não tem palavra mesmo.
Daqui para diante eu vou transcrever o que o piloto me contou.
Chegando na aldeia, trataram logo de abastecer, trocar a bateria, e tratar de sair logo dali o mais ligeiro possível, como já estava de tarde, não havia tempo a perder se quisessem chegar a São Felix. Não é que na primeira partida o avião pegou? E funcionou bonito, tão bonito, que o piloto já decolou para uma pista do outro lado do rio Xingu, como havia sido combinado, e meu amigo ficou com o 210 para traz acertando com os índios, quase não deram conta de contar dez mil reais em dinheiro, começavam e paravam , se perdiam na conta e isto deixando meu amigo irritado, na hora da partida o danado do avião não queria pegar de nenhuma maneira, ai sim que meu amigo temeu pela sua segurança, já haviam seqüestrado um, não seria difícil seqüestrar outro, porem naquele dia Deus estava de meu lado e o avião pegou e meu amigo saiu de lá rumo a São Felix, pousaram na boquinha da noite, foram para o hotel e  comemoraram o sucesso do regaste, por minha conta, lógico, parecia um sonho.Diziam eles.
No outro dia passaram por Tucumã, e o encontro com o CZC foi uma das maiores alegria que DEUS ME DEU, eu o abraçava, beijava, fazia carinho nele como ele fosse um filho perdido, e ai meus amigos é que eu digo, tem coisas materiais que tem alma, tem espírito e quando ele é do “bem” ele só trará alegria para seu dono, porem não duvidem que tem aqueles que é do “mal”, como o avião que meu irmão comprou. Ha muitos anos atrás eu o conheci quebrado e só o via ele quebrando, e ate hoje só vive caindo. Quer dizer, ele é do “mal” e que nunca vai trazer alegria para seu dono, somente tristeza, olha lá, se não matá-lo. Pequei os documentos do avião e fui para Redenção no CZC, terminar o negocio. Engraçado, o avião havia ficado todo aquele tempo parado, no meio daquela aldeia, provavelmente alguém curioso mexendo nele e continuava voando como não tivesse acontecido nada, achei aquilo muito estranho, era para surgir algumas “panezinha” afinal aquilo não era normal para mim com muitos anos de aviação.
Bem, deixemos, isto para lá, que será contada em outra historia estas panes, que surgiram e vamos terminar esta, pelo motivo de estar se tornando um livro e na verdade é para ser  somente um conto.
Olha só o final desta historia, SE NÃO É INCRIVEL, chegando a Redenção com o avião vendido, só que não era para o piloto meu amigo e sim para outra pessoa, e eu não concordei com as condições de pagamento, o novo proprietário mudou as condições e  o negocio gorou, paguei todas as despesas que haviam feito e sai de lá como proprietário mais uma vez do tão querido CZC.
E assim salvei o CZC, das mãos daqueles tamanduás e paz voltou a reinar no reino do Niltinho piloto e continuamos felizes, a voar juntos novamente.
Comandante Niltinho
é piloto de garimpo