Comandante Niltinho: O sobrevivente !!!
Inúmeras vezes, eu e o CZC contribuímos para salvar muitas vidas humanas! Sem dúvida a aviação de pequeno porte foi a que mais contribuiu para isto, merecendo uma pagina especial, se um dia for contado à verdadeira historia da Amazônia pois, sem ela, muita gente teria morrido e não teria sido possível atingirmos o vertiginoso progresso da região do sul do estado do Pará de nossos dias, principalmente em razão de suas características regionais típicas, que tornava difícil seus acessos!
O CZC, no aeroporto de Ourilândia do Norte, PA
Como exemplo, cito a mata virgem, o relevo, o solo e as chuvas que, eventualmente, chegam a atingir 3000 milímetros anuais, faziam muitas vezes, um inverno se emendar com outro!
Era curioso observar a diferença quando cruzávamos o rio Araguaia rumo a Goiânia, pois ocorria grande e surpreendente diferença na vegetação, deixando-me a pensar: – onde é que existe uma região igual a esta? Para plantar, para criar? Meu Deus dos céus, em minhas andanças pelo Brasil afora, confesso, nunca vi igual, nem mesmo nas melhores regiões dos Estados Unidos, por onde andei e agora ela se revela como a mais rica do Brasil em minérios!
Aí vem o Lula e decreta, como reserva, quase 5000000 milhões de hectares, justamente sobre a maior reserva mineral do planeta, sem levar em conta o nosso futuro!
Que venham os investidores, os profissionais liberais, as prostitutas, os blefados, que aqui eles serão bem recebidos e terão grande chance de ganhar muito e muito dinheiro, eu prometo!
Nem mesmo, o vôo que fiz para o Paraguai para salvar meu amigo Altameu (e não pensem que enchi o avião de “bagulho” na volta, que não foi verdade!), de complicações causadas por uma injeção mal aplicada por uma enfermeira leiga de pai e mãe e parteira, (tinha levado um cacete da Polícia Federal!)!
Ou ainda aquele vôo de um garimpo em Machadinho do Oeste, Rondônia, onde fui obrigado a misturar uns gringos com um jovem maleitoso que estava à beira da morte, infelizmente morreu quando estava na ambulância, chegando a Porto Velho e na decolagem quase morremos também, devido ao excesso de peso, tudo isto para tentar salvar aquele “moribundo”!
Ou também aquele caso que contei em outra historia, do rapaz que estava com hemorragia, e na hora da decolagem sofri um acidente, quando um bezerro trombou comigo na hora que eu ia levantar vôo, e o susto dele foi tão grande que a hemorragia estancou sozinha!
Nenhuma destas histórias se iguala a esta que eu vou contar agora, pois nela existe um mistério, talvez um milagre e como diz o ditado: “não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!”
Deste dia em diante, comecei a acreditar que existe alguma coisa que determina a hora de nossa morte! Não sei quem ou o que tem o nosso destino em mãos! Mas que tem alguém, com certeza tem!”
Ele existe, só não sei ainda quem é! Será que é Deus? Ou é o próprio destino da pessoa que regula tudo?
Os árabes tem uma palavra, MAKTUB (assim está escrito!), que explica tudo isto! Então, como se explica isto que vou contar agora? Leiam com atenção, devagar, prestem atenção em tudo e depois me digam se não tem alguém ou algo por traz disto tudo, que diz:
“ – Você não vai morrer!” E você não morre mesmo, pode acontecer de tudo, que não adianta, você não morre pois este ALGUÉM não deixa, até parece que alguma coisa de importante esta reservado para aquela pessoa, e isto eu testemunhei neste dia!
Certo dia, estava descansando de uma semana de vôos diretos para uma madeireira, quando o telefone tocou. Era meu amigo Galvão:
“ – Comandante, tem um vôo para Araguaína, amanhã, só que tem que decolar de madrugada, ainda no escuro, para chegar logo cedo, pois o rapaz está entre a vida e a morte, a situação é muito crítica. Você vai?
– Vou, porém não posso decolar no escuro, você sabe que não temos iluminação na pista e além do mais, os faróis do meu avião, estão fracos e não iluminam nada! O CZC é quase da minha idade!
– Rapaz, a situação é gravíssima, tem que decolar muito cedo, temos dúvida que ele chegue vivo em Araguaína, pois já veio mal de São Felix e aqui piorou! A hemorragia não pára, ele se encontra em transfusão de sangue permanentemente, e este é o motivo, Niltinho, pelo qual estamos pedindo para você decolar logo!
– Vamos fazer o seguinte, amanhã, vou cedo para o aeroporto, como tenho que abastecer e tirar os bancos, vou enrolar um pouco, e acredito também que eles não chegarão tão cedo assim! E aí amanhece o dia e decolo numa boa, está bem assim?
– Está bom então! Levante cedo e não vai mancar não, heim? (Tinha tantos vôos naquela época, que cano era o que mais dávamos!)
– Fique frio, e boa noite!”
Que noite, quando soube quem era o rapaz, e quem era sua família, fiquei triste, e muito preocupado, imagine você, tinha acabado de comprar uma casa de seu tio, tinha uma consideração muito grande com aquela família e ainda mais, seu pai era um dos pastores da Igreja Batista, pessoa das mais queridas de Tucumã, senhor Nivaldo, passando por uma situação destas, logo com o seu primogênito, que tristeza meu Deus! Peço a Deus que ilumine nosso vôo amanhã, pensei! E fui rezar antes de dormir, e pedi a proteção divina, sem imaginar o quanto iria precisar da proteção Dele! Estava longe de saber o que iria acontecer neste vôo! Se soubesse, nunca teria ido!
Pulei da cama ainda no escuro e fui para o aeroporto, pensando que eu seria o primeiro a chegar mas, qual não foi a minha surpresa quando vi que todos já estavam me esperando.
“ – Vamos decolar Comandante, e rápido que o rapaz está mal, muito mal mesmo! Vão com você a enfermeira e o pai, disse o Galvão!”
Chamei o Galvão de lado e disse:
“ – Eu falei que no escuro não dá Galvão, não vou decolar numa situação destas, meu avião não é homologado para vôo IFR e muito menos eu! Não vamos brincar com coisa seria, não vou mesmo e pronto! Meu amigo botou a mão na cabeça:
“- Vou ajudá-lo a abastecer e, enquanto isto, vai pensando aí.”
Cara, que povo doido pensei com meus botões, vou quebrar a cara se fizer isto, além do que era uma noite escura. Se pelo menos fosse noite de lua cheia! E assim, fui até o pai do doente, para tentar explicar os motivos pelos quais deveríamos esperar o dia amanhecer.
Entretanto, quando chequei perto do rapaz e olhei bem para ele, no fundo de seus olhos, senti uma coisa estranha, como que um calafrio! Alguma coisa mexeu comigo, não sabia exatamente o que era mas, senti-me na obrigação de tirá-lo dali urgente, não importando os motivos que estavam nos atrasando, se estava escuro ou não, nada mais interessava!
Tinha que decolar, e me veio uma coragem que nunca havia sentido antes! Logo eu que sempre fui cauteloso, para não dizer medroso, nunca arriscava tanto, agora estava ali de frente àquela alma, e já havia decidido a partir de qualquer maneira, meu Deus o que estava acontecendo comigo? Desisti de falar com o pai do doente e fui logo gritando:
“ – Vamos logo arrumar um carro para ficar no final da pista, e que fique só com luz baixa e vamos embora!” Tenho dúvidas se, naquele momento, era mesmo eu que estava falando! De onde teria vindo toda aquela coragem?
Meu amigo Galvão arregalou os olhos:
“- Já vou!” Pegou o carro e se mandou para o final da pista tão rápido, que parecia que era ele que iria decolar!
Embarcamos primeiro a enfermeira, Dona Conceição (mãe de Bruna, minha afilhada!), arrumei um banquinho bem atrás, arrumamos o colchão e deitamos o rapaz, com a cabeça para frente, bem abaixo do manche do co-piloto, meio apertado pois o rapaz era bem alto, muito forte e bonito, porém já se notava que não estava aguentando mais aquele sofrimento todo!
Embarquei seu pai, que ficou ao lado do filho, tentando acalmá-lo pois sempre estava se mexendo, dando a impressão que não queria deixar sua alma partir!
Dei partida no CZC, ainda bem que o velho avião necessitava apenas um toquezinho, liguei a luz do painel e vi o quanto não clareava nada! Avião velho demais, nunca dei a ele nenhuma mordomia, era só “cacete”! Imaginem só, ano 63, a única coisa bacana é que era tudo original, porém eu nunca voava a noite, para que preocupar com luz de painel? E além do mais a trepidação das pistas acabava com tudo! Gritei para o vigia da noite que estava ao lado do avião:
“ – Dê-me sua lanterna!” Grande idéia, irmãos, acreditem, seria a nossa salvação.
Ele me entregou, sem antes me pedir:
“ –Traga-a de volta!
-Fique frio” respondi.
E lá estava eu, checando o avião, quando notei a manete da potência quebrar! Logo agora, Meu Deus? O que fazer? Irmãos, tive vontade de abortar a decolagem na última hora mas, como iria voar sem a marcação da potencia? Como iria ajustar a potencia?
AH, deixa isto pra lá, pensei eu, quantas vezes ouvi meus colegas dizerem:
“ – Comigo, podem tirar todos os instrumentos do avião, que sou capaz se voar!” diziam os mais doidinhos, especialmente quando tinha algum manicaca por perto.
E ai veio aquele desafio: se aqueles babacas conseguem voar sem os manetes eu também consigo! Eles não são melhores do que eu! Vou decolar assim mesmo e seja o que Deus quiser! E arrochei as “periquitas”!
Irmãos, sai procurando o rumo da luz no final da pista, parecendo uma ema, e foi aí que vi que a coisa não era bem fácil assim, acreditem era a primeira vez que estava fazendo um vôo noturno, e isto, no aero clube, a gente faz em uma pista toda balizada com um instrutor ao seu lado, te dando aquela força e eu não, estava no meu primeiro vôo cego, sem nenhuma ajuda, e com aquela confusão toda, nem o avião ajudava, muito menos a pista, porém, o que eu iria fazer agora?
Não era mais hora de se lamentar e sim de tratar de voar, não fui eu quem quis assim, ou foi Deus! Se foi Ele, tinha que me ajudar a sair daquela enroscada!
Consegui decolar, na marra e, quando olho para bussola, não vi nada, pois de dia já era um sufoco enxergar alguma coisa, há tempos vinha pensando em mandar limpá-la, pena que só ficou no pensamento, agora o jeito era manter em linha reta, pois sabia que este era o rumo certo! Havia decolado muitas vezes para Araguaína, e notava que o rumo coincidia com o eixo da pista.
Lá fui naquele sufoco, porém no fundo estava calmo, sentia aquele algo estranho que me havia invadido e ainda permanecia, parecia que alguma coisa me guiava e tranqüilizava, dando-me uma certeza de que tudo que estava fazendo era o correto, afinal estava tentando salvar uma vida, não é isso que é religião prega e deseja?
De repente escuto um estalo, e fiquei totalmente no escuro,( deu um curto) e aí a coisa ficou preta mesmo! Gelei mas, voltar? Não dava mais, senti novamente os cabelos da nuca se arrepiarem e quando acontece isto comigo é porque a coisa é seria mesmo!
Fiquei com medo, a marcação do GPS foi pro pau, e ai mano só restou a lanterna que havia emprestado do guarda da noite do aeroporto.
Nisto senti a grande preocupação dos meus passageiros, não davam um pio, porém acho que a vontade deles era de gritar e, eu não podia dar nenhum sinal de desespero! Tinha que passar confiança, mantendo-me calmo, sem ao menos alterar o timbre de minha voz! Esta é a hora, irmãos, onde se separa o verdadeiro piloto do clone, porque não é nada fácil !
Virei para o pai do rapaz, e disse calmamente:
“ – Acenda esta lanterna e me ajude, foque no painel. No painel, gritava! (coitado, naquele sufoco iria saber o que seria painel?).
– Bem aqui moço!” E tentava mostrar-lhe onde ficava o velocímetro, e o sufoco só aumentando! Eu notava que aquela ajuda dele, o forçava a tirar atenção ao filho (e não era isso que ele queria, afinal quem lhe era mais importante?). Que se danasse o piloto, eu agiria desta mesma forma, sem dúvidas! E o filho que não parava de se mexer, e de botar sangue pela boca! Ele não sabia se me ajudava ou ajudava o filho, hoje eu imagino o quanto aqueles momentos foram difíceis para ele!
A minha sorte, é que não existia mau tempo! Ainda…! Aquela noite deveria ser a “noite do brigadeiro”, tão bonita que estava.
E o tempo foi passando, olhava para baixo não via nada, pra frente nada também, de vez em quando entrava numa camada e aí sim, a coisa ficava difícil para meu amigo e para mim também, pois ele não tinha noção nenhuma de aviação e não sabia onde era mais importante para mim! Desviava o foco da lanterna, uma hora era no horizonte outra hora no velocímetro e eu gritando em sua orelha: “ – Prá cá, pra lá! Cara, que confusão virou!
Ao consertar o meu rumo, avistei Xinguara, e aí então, meu companheiro queria descer, sugerindo que um carro seria muito mais seguro para eles ou talvez até mesmo um caminhão:
“ – Comandante, vamos descer aí, por favor!
Havia muita insegurança em seu olhar porém, como iria explicar que seria impossível fazer aquilo que tanto desejava, que era simplesmente sair daquele avião! Aquilo já não dava mais segurança para si e para o rapaz, ele tinha que salvar seu filho, tinha que levá-lo, e não era mais de avião, tinha deixado de ser seguro e eu compreendia isto muito bem, pois acontece com todos aqueles que não conhecem nada de aviação, o primeiro desejo é pular, sair daquele negócio do qual ele não entende nada e está ficando perigoso!
Somente muitos anos mais tarde é que fui compreender que o mais seguro é ficar dentro do avião e nunca abandoná-lo, ai então, e entendendo sua preocupação, disse-lhe calmamente:
“ – Não se preocupe, companheiro, vou salvar seu filho, ele não vai morrer, disto tenho certeza, quero apenas que se mantenha calmo e me ajude como você vem me ajudando até agora!”
Ele olhou-me bem dentro dos olhos e parecendo sentir firmeza em minhas palavras, se acalmou e prosseguimos nosso vôo rumo a Araguaína! Rumo à esperança!
Até ali fomos até bem, só que com a aproximação do rio Araguaia, foi se formando uma bruma muito comum na região dos grandes rios e, quando vi, estava voando por “instrumento”! Baixar o nível de vôo jamais, já vi muitos colegas quebrarem a cara com esse negócio de “ciscar”! Mantive o nível e aí irmão, vi a coisa feder! Meu ajudante quase louco, não sabia mais onde focar com a lanterna, tantos eram meus gritos! O gozado era que eu tinha funcionando os rádios e o GPS, mas luz de painel “néca”!
Virei para ele e disse:
“ – Pegue este livro aqui (o Rotaer) e procure a freqüência de radio de Araguaina, e passe para mim!” Meu Deus, quanto falta faz um piloto automático, pensei !
Depois de muita demora ele me passou, e eu sintonizei no ADF.
E o tempo foi passando e nós naquela peleja, tinha hora que eu ia recuperar o avião já quase fazendo um tunô (rolamento lateral em torno do eixo da aeronave). E nada da emissora entrar no ar, e eu imaginando: O que estaria acontecendo, meu Deus, se já havia distancia para que o ADF alcançasse? (ADF, é um aparelho que indica a direção da estação) e nada de captar a estação!
Pensei comigo, tem alguma coisa de errado nisto, então:
“ – Senhor Nivaldo, dê-me este livro aqui.”
Vi então, porque que o radio não entrava: ele havia me passado a freqüência de Araguari – Minas Gerais, não tinha nada que ver. Consertei o erro, e aí sim, Araguaina entrou rachando!
Consertei meu desvio e segui em frente. A sorte me ajudou, pois a bruma não era tão grande e voltamos a voar visual.
Estávamos quase a cruzar o rio Araguaia quando o dia começou a clarear, irmão, que alegria sentimos, e acreditem, aquele sol no rosto, nos trouxe uma confiança, uma esperança tão grande, que, no fundo, pensava, “este aí não morre mais”!
Nós pilotos, acostumado a transportar doente para Araguaina, sabíamos que se lá chegasse, o doente estaria a salvo, tamanha nossa confiança na medicina. Parabéns Araguaina a cidade merece mesmo estar em meus escritos! Quase saímos aos gritos, agradecendo a Deus por termos conseguido chegar até ali, cara, que alegria!
Ai, ao dar atenção ao doente, vi aquele sangue, que deixou escapar da sua boca, no assoalho do avião, e me assustei! Pensei que, não tendo mais pressão arterial, a morte é certa, meu Deus! É triste nadar e morrer na praia! Desta ele não escapa! Se pudesse, aceleraria o avião, colocando-o a voar a 500 km por hora, tanto era a vontade de salvar aquele jovem, porém avião não é carro!
Entrei no tráfego e já avistei a ambulância nos esperando lá em baixo, menos mal, alguém está ajudando este cara! Só pode ser isto pois, toda vez a danada da ambulância levava um tempão para chegar!
Quando parei o avião junto à ambulância, fui abrir a porta do passageiro e levei o maior susto de minha vida: o sangue era tanto, que quando não tinha mais para aonde escorrer, começou a vazar pela porta e, acreditem, formou uma faixa de sangue que começava da porta e ia acabar no final do avião, justamente naquele cone que existe na cauda do avião (quem é piloto sabe bem aonde é) e não era uma faixa pequena não, pois começava bem larga e ia estreitando até o final do avião! Gastei um tempão danado para limpar aquela sujeira, juntamente com a enfermeira!
Ajudei a transportá-lo para ambulância e observei seu rosto, todo branco, respiração difícil, inerte, nem se debatia mais, muito diferente de quando o peguei no aeroporto! Abaixei a cabeça e concluí que já estava quase morto! Coitado do pastor Nivaldo, lamentei, com profundidade!
Abasteci o avião, tomamos um café na lanchonete, e voltamos para Tucumã! Eu e a enfermeira.
“ – Digue-me Conceição, será que ele sobrevive?
– Niltinho, acho muito difícil, casos como este, somente um milagre!”
É, e acho então que vai acontecer um! Tudo foi muito estranho esta noite para mim.
Estava sentindo paz, não somente uma paz, mas um sentimento de dever cumprido! Tinha impressão que estava em uma corrida de revezamento e tinha feito a parte com louvor, e restava-me apenas aguardar, que alguém mais iria fazer cumprir a tarefa afinal, tinha feito tudo aquilo que as regras de vôo proíbem, tinha infringido a lei da aviação, e caso fosse denunciado, talvez pudesse ter perdido minha licença para voar e, engraçado, não estava nem aí, afinal estava participando de uma corrida entre a vida e a morte e isto me deixava feliz!
Deixei de pensar no rapaz e fui prestar atenção no vôo. Após uma hora e meia chegamos a Tucumã, e fui para casa descansar e tentar dormir!
Vocês agora devem estar pensando, afinal o rapaz morreu ou não, como é fica o final da historia?
Daqui por diante, vou narrar o que o pai do rapaz, muito tempo depois, me contou.
“ – Senhor Niltinho, o difícil foi em Araguaina. Fomos para o hospital e nada do menino melhorar, trouxeram até umas plaquetas de sangue, e eu só ouvia gente dizer:
“ – Ele vai morrer, ele vai morrer!” E me apeguei em Deus, e resolvi levá-lo para Goiânia.
Só que aí não seria possível um avião pequeno como o seu, teria que ser daqueles que tem um hospital dentro dele, senhor Niltinho só que, quando vi o preço do vôo, quase caí de costas! Resolvi então, que iria salvar meu filho de qualquer maneira e não seria por causa de dinheiro que ele iria morrer! Mandei vir o avião, e a conta foi subindo!
Embarcamos, e muita gente não acreditava em mais nada, só se pensava que ele não iria aguentar chegar em Goiânia, e olha seu Niltinho, quase não chegou! Esteve morto em várias ocasiões e, se não fosse pelos médicos, e a cima de tudo Deus, teria morrido!
Em Goiânia, enfrentou semanas de UTI, até que um dia, acendeu uma pequena luz no fim do túnel, que foi aumentando, até acender a esperança de voltar a ver nosso filho com vida, e a vida dele voltou, que alegria senhor Niltinho! Foi a maior graça que Deus me concedeu!
Hoje você não o conhece mais, está um lindo rapaz!
“ – Desculpe-me perguntar mas, quanto custou todo o tratamento?
– Mais de cem mil reais!”
Credo pensei, o que dinheiro e fé não fazem?
E pensar o quanto está longe a nossa medicina pública, fico com pena dos muitos que levei para Araguaina, que não tiveram como seguir em frente, na busca de um socorro melhor, porque o Estado não paga, e acabam morrendo, ficando no meio da estrada! É lamentável, irmão!
Aí eu digo, era para este jovem morrer? Acho que não. Acredito que o destino reserva a ele, um brilhante futuro, vocês ainda vão ouvir falar dele, sem dúvida nenhuma!
MAKTUB !
Comandante Niltinho
é piloto de garimpo
Muito bacana a historia! Felizes sao os aviadores, ate mesmo na tristeza e aflicao ainda se sentem entusiasmados a voar!