Texto produzido pelo Prof. João Damas Nogueira, escritor e membro da Academia Caçapavense de Letras!
Do mesmo modo como se fez um Resumo Histórico de Caçapava, a Velha cuidemos aqui, complementando o esboço anterior, de sintetizar agora a história de Caçapava atual, de nossa “Cidade Simpatia”, da “Pérola do Vale”, que se estende pela região do Vale Médio do Rio Paraíba do Sul.
Singularmente podemos dizer que Caçapava nasceu em duas vezes distintas: em 1705, com o Capitão Jorge Dias Velho e filhos, em terras suas, recebidas em sesmaria, administrativamente ligadas à Vila de São Francisco das Chagas, de Taubaté e, em 1841/ 42, na localidade atual, quando um grupo de fundadores veio para as terras da “Fazen da Velha”, pertencentes ao Coronel João Dias da Cruz Guimarães.
Na Caçapava-Mãe produzia-se a cana-de-açúcar, o ca fé, exportado em ótimas quantidades de mais de 180.000 arrobas anuais, além de gado vacum e agricultura incipiente.
Quando, em 1841/42, o grupo de fundadores citado saiu de Caçapava Velha, motivado, entre outros indícios, pelas brigas políticas entre liberais e conservadores, vindo se estabelecer na região de Caçapava, a Nova, produziu-se, logo a seguir, uma fuga de mais habitantes, ocasionando a decadência do antigo arraial, ficando a região esquecida e em abandono.
Aqui, em Caçapava atual, de férteis terras, bom clima, com mais calma para se viver, iniciou-se uma nova vila e os habitantes, em crescente número, dedicaram-se à produção cafeeira, à pecuária de corte e criação de suínos. As recentes casas construídas aumentavam em número e as primeiras ruas e “caminhos” foram surgindo, a partir do espaço de uma gleba de terra que, desde 1842, fora doada verbalmente pelo Cel.João Dias Guimarães para a formação do patrimônio do orago São João Batista, o protetor da humilde capela, então existente ao lado da “estrada geral ou real”.
Dessa data e até 1850 foi construída a primeira Ig reja Matriz, pelos esforços dos primeiros povoadores, que era indispensável para abrigar o culto religioso e, mais ainda, porque se sabia que a transferência da sede da freguesia e do distrito da antiga ermida de Caçapava Velha, sob a proteção de Nossa Senhora da Ajuda, era esperada brevemente. Realmente, a Lei Provincial número 1, de 13/05/185 o transferiu tudo para nossa “Capela Nova” e aqui se iniciou a Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, Igreja Matriz de São João Batista, de Caçapava. Também nesta data já havia o Largo de São Benedito, com sua capela do mesmo Santo e o primeiro cemitério, no interior do espaço do mesmo largo.
O arraial tinha quatro excelentes fontes da boa água potável, vários bairros, alguns até bem antigos, estradas vicinais pelos quatro pontos cardeais e até além dos limites do futuro município. Nossos primeiros edis, integrando a Câmara Municipal de Taubaté, trabalhavam no sentido de se conseguir a elevação do povoado à categoria de Vila.
E, realmente e até de modo inopinado, a Lei Provincial número 20, de 14/04/1855, criou a Vila de Nossa Senhora da Ajuda, de Caçapava, com todas as prerrogativas de município.
Em Portaria, incluída na Lei acima citada, determinava-se que se procedesse à eleição de sete (7) vereadores para a nova e Primeira Câmara Municipal de Caçapava, do Período Monárquico, o que foi feito.
Em 1860, num muito pouco citado censo demográfico, estipulou-se o total de “7.000 almas” em Caçapava, e, dois anos depois, foi criada uma segunda necrópole – o Cemitério dos Irmãos do Santíssimo – ao lado da Capela de São Roque, já existente no largo do mesmo nome. Desde 1871 e até 1877 foi construída a parte final da linha férrea, ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, realização de esperançoso desejo dos caçapavenses pelo progresso que disso adviria e foi em primeiro de outubro de 1876 que se deu a inauguração da nossa estação da E.F.C.B., com a chegada do primeiro trem a Caçapava, sob aplausos e júbilo do povo.
Por essa época já era crescente a procura por terras e, com a conclusão da linha férrea, houve um surto imobiliário que fez crescer bastante o valor das terras e o povo iniciou uma “invasão” pelos lad os do que seria “para lá da linha”. No ano de 1873 foi autorizada a construção da primeira ponte sobre o Rio Paraíba, antiga e desejada aspiração do povo, com o trabalho iniciado no ano seguinte e em 1880 a ponte foi entregue ao uso público. Em 1890 ela já precisava de urgentes reparos, porém a segunda ponte “Dr. Ademar de Barros” só ficou em condições de uso no ano de 1947, no governo do prefeito Dr. Aldhemar de Moura Resende e a terceira ponte só ficou pronta em 1991, no governo do prefeito José de Miranda Campos.
Foi o aumento do comércio em geral, o crescente volume de exportações (café, milho, açúcar, gado, suínos, aves, etc.), a existência de inúmeras pequenas indústrias, o maior valor da arrecadação municipal e o crescente número de habitantes que possibilitou, em conjunto, que se sancionasse a Lei Provincial número 20, de 08/04/1875, elevando Caçapava à categoria de CIDADE. Em 09/05/1876 uma comitiva formada pelo Bispo Diocesano de São Paulo e autoridades outras aqui aportou e, visitando a velha primeira Igreja Matriz (de 1850), guardaram desagradável impressão da precária construção e pobreza interna. No dia seguinte a comissão partiu, deixando aqui Frei Caetano de Messina para pregar as missões.
Cogitando de melhorar as condições materiais da Igreja Matriz, conversou e ouviu a opinião do engenheiro Dr.Martiniano da Fonseca Reis Brandão (engenheiro da via férrea aqui residente) e este o aconselhou a construir uma nova igreja, pois a velha era irreparável.
Foi até escolhido o local, em frente à antiga Matriz, (onde hoje é a E.E. “Ruy Barbosa”), ocasião em que foi feito e levantado um cruzeiro e o povo, entusiasmado, iniciou o transporte dos blocos de pedra para os alicerces da nova obra. Porém, logo em seguida, atendendo a ordens superiores, o missionário teve que se deslocar para Taubaté imediatamente. E, tudo se acabou, restando ali, por muitos anos, os alicerces esquecidos, pois não havia condições e dinheiro para a continuação da pretensão almejada.
Desde 1868 era vigário local o Padre Francisco Mar condes do Amaral Rodovalho (Padre Chiquinho), que resolveu cuidar do assunto de modo diferente. Como precisaria de um outro local para a celebração do culto, cuidou de ampliar e remodelar, entre os anos de 1876 e 1877, a capela devotada a São Benedito, transformando-a em uma nova Igreja Matriz provisória, para substituir a velha, que precisava ser reconstruída. Ele conseguiu com grandes esforços e ajuda do povo, desde 1877 e até 1885, fazer substanciais reformas na primeira Matriz, ampliando-a e a embelezando, entregando à população um novo templo muito bonito, que atenderia à necessidade da paróquia por muitos anos. S
ua magistral obra foi reconhecida por seus superiores, que aquilataram sua operosidade e dedicado trabalho, distingüindo-o, em 1885, como Cônego.
Foi em 1883 que aconteceu a revelação da existência no subsolo de nossas terras da Bacia do Bonfim de alguns veios carboníferos, ocasionando enormes expectativas pelo aumento de fontes de nossa riqueza. Mas foi só por volta de 1915/20 que no Bairro do Bonfim, exatamente em terras da Fazenda do Bonfim, de propriedade dos herdeiros do Cel. Antônio Moreira de Alcântara, que existiu um início da nossa “Mina de Carvão”, que começou com a extração do carvão mineral na vasta extensão de terra preta ali existente. A demora da prospecção se deveu à necessidade de se ter certeza sobre a rentabilidade da produção, em quantidade, qualidade e retorno monetário certo, além da necessidade da contratação de máquinas e pessoal especializado.
Em 1915, a Companhia Norte Paulista de Combustíveis iniciou as tarefas exploratórias de produção do carvão mineral, importantíssimo no abastecimento do mercado consumidor. Em resumo, diremos que a produção cresceu bem e transportada em carros de boi, carroças e, mais tarde, em caminhões, o carvão extraído deu trabalho a centenas de caçapavenses, durante muitos anos.
Em fins de 1916 foi solicitada às autoridades federais a construção de um ramal ferroviário ligandodiretamente a mina à E.F.C. do Brasil, que se concluiu em 1918, tendo sido mestre de linha, por algum tempo, o Sr. Manoel Miranda Barreto. Desde 1917 já se produziam mais de 300 toneladas m ensais de carvão transportadas para São Paulo e Rio de Janeiro e pelo ramal ferroviário muito carvão foi rapidamente trazido da mina, com os vagões conduzidos por uma poderosa “máquina-trator”, comprada em Diamantina – MG.
E a produção se firmou, por anos seguidos, só declinando por volta de 1930/35, mas em virtude da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1938/40 tudo voltou à plena força produtiva, então sob controle de uma nova firmaa Companhia Carbonífera de Caçapava. Agora era produzido o “coque” com a maquinaria comprada para a prensagem do produto, onde o carvão era antes processado em alta temperatura, moído e lubrificado com óleo adquirido nos Estados Unidos, ficando em seu formato ovalado, cor cinza escuro, com pontos brilhantes, prensado em duas partes.
Durante a Segunda Guerra Mundial não havia mais o ramal férreo e o transporte do coque era feito por dezenas de caminhões, funcionando dia e noite, produzindo transporte de mais de 4.000 toneladas mensais, depositados em enormes caixões de madeira, ao lado da estrada de ferro (de frente para as fábricas de Tênis e de Papelão). A mina diminuiu muito sua produção após o fim da guerra e, em definitivo, encerrou suas atividades em 1946/48. Mas, sabe-se que suas reservas carboníferas ultrapassam um milhão de toneladas, que talvez algum dia sejam necessárias…
Continua…
Parabéns, Prof. João Damas Nogueira!
Fui seu aluno na Escola Técnica de Comércio de Caçapava, na disciplina de Matemática.
Obrigado!