“Eu me considero um curioso sobre a morte, mas não tenho pressa para morrer”. É assim que o aposentado Ruy Macedo, morador de Caçapava, no interior de São Paulo, descreve a relação dele com a morte. Entusiasta do tema, o homem de 70 anos simulou o próprio velório e agora planeja o enterro. (veja vídeo abaixo)
Ruy conta que ele sempre teve o hábito de escrever durante as madrugadas, momento em que acredita que sua criatividade fica aguçada. Em uma dessas noites, em 2005, ele começou a refletir sobre a morte e que iria partir algum dia.
“Comecei a escrever sobre a morte e pensei em chamar 15 amigos para um velório, em vida, na garagem da minha casa para que eu também pudesse aproveitar. Mas conheço muita gente e fiz o convite para todos os amigos”, contou.
No convite, ele faz referências a morte e diz que se o convidado não for ‘ele vai morrer de raiva’. (veja imagem abaixo)
Com mais gente convidada, ele precisou fazer o velório em um clube na cidade. Uma funerária gostou da ideia e emprestou um caixão de R$ 35 mil e ainda pagou Ruy pela ‘propaganda’.
“Acabou que ainda rendeu um dinheiro, porque além da funerária, ganhei dois celulares de uma loja porque falei que meu projeto era deixar um celular dentro do caixão e um com um amigo que mora perto do cemitério. Se eu acordar, ligo para ele. E também uma escola de inglês me pagou porque eu estava falando que aprendi o inglês lá e é a língua universal. Deve ser a língua do céu”, brincou.
“Foi deslumbrante a festa, chamou atenção de todo mundo, houve muita divulgação na época e até minha cunhada que mora em Brasília me ligou para saber da história que estava rolando. Foi uma festa muito louca, teve samba porque o Ruy prometeu que não ia ter música ‘ao vivo’, mas ‘música ao morto’ “, brincou.
Ruy conta que as pessoas têm medo de morrer, mas não é preciso porque ninguém tem certeza sobre o que vai acontecer. “Acho que a religião que mais me mostrou de maneira real do que eu acredito ser a morte é o espiritismo. Mas as outras religiões também têm muita lógica. Acho que Deus não faria uma máquina tão complexa como o homem para depois acabar tudo. Só acaba o corpo”, contou.
Como o velório já aconteceu (veja aqui), o aposentado planeja agora ensaiar o enterro para que saia exatamente do jeito que ele espera. A ideia é que duas caixas de som sejam colocadas próximo ao túmulo para que os convidados escutem um texto que ele escreveu. Quando terminar, vai começar a tocar um samba inédito chamado ‘Ruy’ feito por amigos dele.
“Minha última fala vai ser: ‘Coveiro, fecha a caixa, passa a régua. Fui!’ Ainda não escrevi todo o texto porque tenho medo de Deus gostar e me chamar para escrever no céu. Eu gosto de brincar com a vida”, conta. O CD com o texto e o samba poderá ser comprado pelas pessoas que participarem do velório “para ajudar a viúva”.
Os familiares do aposentado dizem que levam o tema na brincadeira. “É uma loucura tudo isso, ele sempre falou sobre morte e diz ainda que não quer ver ninguém chorando no velório. Vai ter o samba para a gente comemorar. Ele fala tanto que a gente nem associa mais que é um tema sério”, disse a neta Luana Pereira.
Convite foi entregue para os convidados do velório