GERAL

Comandante Niltinho: Os erros que levaram à destruição do PT-CZC !!!

Quando ocorre um acidente aeronáutico, todo mundo quer saber de quem é a culpa, eis que o DAC demora em suas respostas, visto o entendimento e a compreensão dos indícios, perícia, análise do tempo na hora do acidente e uma série de outras alternativas, impeditivas de respostas rápidas. E isto também acontecerá com o PT CZC: sua destruição demandará meses de estudos, para o completo entendimento do ocorrido.

Muito difícil de se escrever esta nova história, mas vou contá-la de acordo com a minha experiência e meu entendimento dentro da aviação, situação que vivenciei por longos anos, ajudou a criar os meus filhos e me deu tudo aquilo que hoje tenho de patrimônio,  situação que torna ainda mais dificil e penoso falar deste amigo, o PT-CZC, que me acompanhou por todos estes anos.

Não estranhem eu chamá-lo de amigo eis que representou, de fato, laços fortes de uma amizade que ainda hoje me deixa emocionado, por tudo que passamos juntos, em nossas andanças Brasil afora. Não é fácil portanto, falar dele esta última vez.

Quando foi comprado, contando com a minha ajuda, o PT-CZC foi para Roraima, onde passou a voar na integração dos serviços das empresas do Roberto de Uberaba, transportando malotes, passageiros etc., acabei ficando satisfeito, visto que meu amigo de longa data, ficaria por perto, abrindo possibilidade de vê-lo esporadicamente e até mesmo voar nele!

Assim sendo, fui dos primeiros a tomar conhecimento da destruição dele, na TY – Terra Yanomami em Roraima, situação imediatamente informada ao blogueiro paulista jcflores, que a publicou no https://www.taiadaweb.com.br/yanomamis-destruiram-aeronave-lendaria-cessna-pt-czc-em-roraima/ , oportunidade em que a história passou a tomar conta do meio aeronáutico e dos admiradores do PT-CZC, estrela das várias histórias publicadas no blog acima citado.

Interessante é que toda a destruição da aeronave, aconteceu com registro vídeo e fotográfico feito através de celular, situação que potencializou nossa tristeza, ao escutar o som da borduna quebrando a fuselagem e o índio ajudando a separar a cabine em duas partes, situação à qual não se tem notícia, em toda a Amazônia, de destruição semelhante.

Vi vários amigos perderem seus aviões em diferentes áreas indígenas mas, geralmente, os próprios índios vendiam as peças e componentes do avião e mesmo com preço barato, acabavam ganhando alguma coisinha aqui e acolá. Mas no caso do PT-CZC não aconteceu esta preocupação pois ele foi inteiramente destruído, aviônicos quebrados e danificados irreversivelmente, vidros e bancos perfurados, além de ter a fuselagem separada em duas partes a golpes de borduna. Uma bestial destruição que não rendeu nenhum centavo e só fez crescer o ego de índios sem o registro de quaisquer sinais de cultura, ainda que em pequena escala.

Da forma em que foi feita, a destruição do PT-CZC parece carregar em seu corpo, uma mensagem, um recado duríssimo dos índios da região, para os pilotos que por ali voam, para que pensem duas vezes, antes de pousar em uma pista indígena dos interiores de Roraima, pois lá, serão recebidos por índios violentos e descompromissados com as nossas leis.

Pois bem, depois de receber o meu sócio Roberto, recém chegado de Boa Vista, e de um breve descanso em Ourilândia do Norte, o mesmo percebendo meu interesse em saber todos os detalhes da destruição do PT-CZC na Terra Yanomami, convidou-me a ir ao aeroporto, preparar uma outra aeronave, que seguiria para Roraima, ocasião em que fui inteirado de tudo que aconteceu que levou o CZC à destruição.

Agora, ciente de tudo que aconteceu, e analisando os erros cometidos tanto pelo proprietário da aeronave (que também tem culpa no ocorrido) quanto pelo piloto, que não tem toda a autonomia nas operações. No garimpo não se respeita regras nenhuma e tudo parte da cabeça do piloto e do administrador da aeronave, o que facilitou a série de erros que culminaram com a destruição do PT-CZC.

No primeiro erro, não se pode decolar fora de hora, muito tarde, para fazer voo longo, ainda mais com tempo chuvoso, sabendo que em Roraima, na época do acidente, enfrentava período chuvoso. Melhor seria ter deixado a decolagem para o dia seguinte.

No segundo erro, a aeronave estava sem GPS. Tudo bem que tempos atrás voávamos sem ele, mas tínhamos um bom mapa, geralmente americano, régua, transferidor, caneta e tudo mais necessário para calcular uma rota, tempo de voo e alternativas, e também as altitudes mínimas pois nos mapas americanos estas informações eram facilmente encontradas. Só que o piloto do CZC, na ocasião, não tinha nada disso.

No terceiro erro, foi não ter ficado na pista de garimpo que ele encontrou, onde poderia ter dormido, mas como não tinha acomodações, só podendo dormir no avião, aceitou a sugestão de voar mais um pouco que ele iria encontrar uma nova pista aonde teria mais conforto, inclusive meios de comunicação via celular, que o colocaria em contato com o proprietário da empresa. O problema foi que, quando o informaram da citada pista, esqueceram de o informar que seria a segunda pista que ele iria encontrar no caminho pois, a primeira, era a dos Yanomamis.

O quarto erro, dos mais graves, é que o piloto deveria ter consciência do perigo em pousar em pista indígena pois, o local de onde ele veio, na região de Castelo dos Sonhos, no Mato Grosso, sabemos de vários pilotos que foram presos pousando em pistas indígenas.

O quinto erro, fatal, foi não ter notado que aquela pista não era de garimpo e sim uma pista da Funai, que são muito bem feitas e algumas até homologadas, percebendo-se por fotos, que obedecem os requisitos que as legalizam. Estas, são pistas bem diferentes das pistas de garimpo, em sua maioria, pequenas, esburacadas, mato fechando e tal.

Só que o piloto, vendo a gasolina acabar, a chuva forte no local e o desespero para salvar sua vida, acabou não atentando para os detalhes da pista e deu no que deu: pousou na pista da Terra Yanomami, onde foi preso pelos índios, escapando de morrer por um triz, salvo por um agente de saúde que o protegeu até a chegada da polícia, e a lendária aeronave PT-CZC  destruída, selvagemente, a golpes de borduna!

Neste quinto erro, estaria também situada a responsabilidade de meu sócio Roberto, que deixou de observar aquela regrinha tão importante na aviação, à qual, desde que foi do meu conhecimento, nada de grave aconteceu a mim nem à minha aeronave.

A regra é: em primeiro lugar, a segurança. Em segundo lugar, a segurança. Em terceiro lugar, a segurança e em último lugar, o lucro!