GERAL

Comandante Niltinho: O PT-CZC em Roraima !!!

Nunca poderia imaginar que meu ex-avião fosse passar tanto sufoco como passou, neste conturbado início dos anos 2020, nas mãos de seu novo proprietário, o Robertinho de Uberaba, meu sócio em outro empreendimento.

Depois que o vendi o PT-CZC, ele sofreu uma reforma integral, que já contei em outra das histórias (veja em https://www.taiadaweb.com.br/comandante-niltinho-meu-ultimo-voo-com-o-pt-czc/),  ocasião em que deixou de voar nas esburacadas pistas de garimpo e corrutelas da Amazônia, quase sempre com excesso de peso e problemas de pequeno porte na manutenção, para voar as elegantes pistas pavimentadas do Aeroclube de Goiânia, Brasília e São Paulo, nas hábeis mãos seu então proprietário Ricardo Salzano de Oliveira, dentista morador de Brasília.

Depois de alguns anos de propriedade do PT-CZC, o Comandante Salzano ligou-me, dizendo estar vendendo a aeronave, por problemas particulares, e oferecendo-a para mim. Coincidentemente, naquela época, meu sócio Roberto estava procurando uma aeronave como aquela e aí foi fácil para mim, juntar as partes e concluir a compra, com o CZC sendo levado para voar em Roraima.

O estado de Roraima, àquela época, encontrava-se repleto de “caçadores de oportunidades”, empresários e garimpeiros interessados em melhorar a qualidade de vida, submetendo-se às condições de extrema dureza, na busca de uma nova condição de vida. E, claro, isto acabava por gerar o endurecimento das relações pessoais chegando, quase sempre, a brigas e animosidades razoavelmente controladas pelas autoridades.

Para se ter uma ideia, por conta de uma destas disputas internas, certamente vindas de negociações não resolvidas, um garimpeiro endoidecido investiu contra três aviões, que estavam estacionados numa pista em Roraima, quebrando para-brisas, janelas e perfurando com facas e machado, toda a fuselagem dos aviões, danificando seriamente os tanques de combustível do PT-CZC.

Um absurdo que, em toda a minha vida nos interiores amazônicos, jamais tinha ouvido falar!

Já disse uma vez, que este avião, é abençoado por Deus e por Santos Dumont pois, em duas oportunidades diferentes, já havia sido capturado pelos índios, sendo uma vez perto da divisa do Mato Grosso com Amazonas e ao lado da rodovia Transamazônica, (veja a história em  https://www.taiadaweb.com.br/comandante-niltinho-prisioneiro-dos-indios/) , quando fui salvo por um boliviano que, como eu, ali estava para comprar cassiterita e, da outra vez, com os Apiterewa da região de São Felix do Xingu, estado do Pará, (veja a história em  https://www.taiadaweb.com.br/comandante-niltinho-o-sequestro/), quando o CZC ficou nas mãos dos índios por mais de 90 dias, antes de eu compra-lo de novo!

Depois de tudo que passou nos garimpos e pistas de pouso inacreditáveis de garimpos da Amazônia, ainda superou o ataque do garimpeiro endoidecido, provando que o PT-CZC era um gato e como tal, tinha sete vidas úteis.  

Só não sabia, na ocasião, que era a sua penúltima vida, após o que seria inteiramente destruído, como contarei agora.

Andava preocupadíssimo tanto pelo avião, quanto e principalmente pela vida de meu amigo Roberto eis que o local em que estavam, era bastante violento, como foi constatado, depois do ataque sofrido pelo CZC e mais dois aviões, situação que, além do custo para manutenção e troca de alguns equipamentos, deixou no ar visíveis ameaças quanto à segurança física de bens e vidas.

Exatamente dentro deste quadro de expectativas, recebi a notícia, vinda diretamente de Roberto, na sexta feira dia 19 de Junho de que algo grave havia acontecido, ocasião em que indígenas yanomamis simplesmente destruíram por completo o PT-CZC, pousado na Terra Yanomamis, na região do Alto Mucajaí, em Roraima.

Inadvertidamente, o piloto, não muito experiente, fugindo do mau tempo e procurando uma pista onde pudesse passar a noite que chegava, inicialmente havia aterrado, numa área de garimpo onde lhe foi recomendado uma outra pista, em condições de recebe-lo para passar a noite. Esta pista estaria localizada a cerca de dois minutos de voo de onde estavam só que o piloto equivocou-se e acabou pousando na pista dentro da Terra Yanomami, ocasião em que foi aprisionado pelos índios, que estavam prestes a matá-lo, quando apareceram autoridades militares da área, que acabaram por resgatá-lo, transportando-o em segurança para fora da reserva.

Quanto ao CZC, foi completamente destruído pelos indígenas, a golpes de borduna, que o separaram em duas partes, quebrando todos os aviônicos, hélice e motor, além dos vidros, bancos e forração. Uma situação lastimável, difícil de se imaginar acontecer, dado à tamanha selvageria, certamente advinda do conturbado histórico da convivência entre os acima citados, que já produziram muitas mortes e destruição na região.

Para quem vive há muitos anos na Amazônia como eu, sempre no meio de indígenas, garimpeiros e fazendeiros, o tripé das discórdias, cada um sempre em defesa de seu próprio lado, dificilmente teria minha voz reconhecida pelos políticos e formadores das leis, em contribuição à harmonia e à convivência pacífica.

Infelizmente os políticos não vivem na Amazônia e, por falta de conhecimento, acabam criando legislação absurda, descomprometida com as necessidades de apaziguamento dos ânimos, e regulação, com segurança e paz, das atividades que provocaram tamanho desencontro, além de prejuízos incomensuráveis para a região e para o país. Até quando viveremos para ver esta situação regularizada e compromissada com o ideal dos povos da Amazônia?

Quanto ao CZC, pergunto:

  • De quem é a culpa ?????
  • Quem acabou com o lendário PT-CZC que salvou muitas vidas, matou a fome de muitos brasileiros, índios, garimpeiros, fazendeiros, instalados nos interiores Amazônicos?
  • Quem? Por acaso, foram os proprietários de avião que estava fazendo socorro ou foram os índios, coitados, vivendo na extrema pobreza, assistindo os brancos de avião pra cima e pra baixo?

Certamente existia uma pitada de inveja e ódio, que faziam os índigenas  irracionais, cegos a ponto de não avaliar, com esperteza, o preço das peças do avião no mercado negro, preferindo destruir tudo!

Este mesmo desequilíbrio, existente entre o personagens tão díspares dos interiores amazônicos, levaram os índios Apiterewa, nos anos 80, a sequestrarem o PT-CZC, mantendo-o na aldeia durante mais de três meses, obrigando-me a comprá-lo de volta, na época, pela bagatela de R$ 10 mil reais e um lote de mercadorias embarcado numa aeronave Cessna 210, com preço também aproximado de R$ 10 mil reais.

Na época, com a intenção de pedir ajuda para resgatar o PT-CZC das mãos dos índios, procurei o presidente da FUNAI em Brasília que, em seu luxuoso gabinete refrigerado perguntou-me:

  • Você, por acaso, pediu autorização para pousar na aldeia?
  • Não, respondi, ignorando que só pousei naquela aldeia, para deixar três índios que ali moravam.
  • Então o problema é seu, se vire com os índios!

Não havia cometido nenhum crime, para ter meu avião sequestrado, muito pelo contrário, fiz inúmeras viagens transportando doentes, comida e passageiros, e nunca precisei de autorização de qualquer espécie.

Obrigando-me a pagar para ter de volta o CZC, ficou constatado que, estes índios sim, é que levaram vantagem, pois acabaram recebendo uma boa quantia, em troca da devolução do avião.

Agora, quanto aos índios da Terra Yanomamis, coitados, afastados dos centros urbanos, vivem na idade da pedra. Não perceberam a oportunidade de ganhar um bom dinheiro com a venda das peças do PT-CZC, preferindo destruir a histórica aeronave, para alimentar o ódio ocasionado pelas irracionais disputas geradas pelo antagonismo dos citados grupos. Perderam, com isto, a oportunidade de fazer um bom dinheiro, vendendo peças e aviônicos no mercado negro.

A criação da reserva yanomamis Raposa Serra do Sol, em Roraima, foi um dos maiores equívocos geopolíticos já ocorridos no país, criada pelo governo de Fernando Collor de Melo, demarcada durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso e homologada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, simplesmente detonaram fazendeiros plantadores de arroz irrigado, numa área de aproximadamente 100 mil hectares, na borda sul da reserva Raposa Serra do Sol, às margens do Rio Surumu, dedicando, aos indígenas, uma área maior que vários países da Europa, onde se situam grandes jazidas minerais de interesse estratégico ao país!

Foi esta área, dotada de uma das maiores jazidas de nióbio do país, ainda em fase de mapeamento, que despertou a atenção do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, em busca de minimizar o impacto da decisão dos presidentes anteriores, certamente direcionados para o atendimento de interesses estrangeiros não revelados, sem quaisquer benefícios diretos aos indígenas ali assentados!

E agora? Com os garimpeiros e os fazendeiros, entrando nestas áreas da Terra Yanomamis, querendo formar mais uma fazenda e contribuir para o crescimento de Roraima? Os índios vão ficar de braços cruzados?

É claro que não vão! Hoje destroem aviões, amanhã serão as PC (Pás-Carregadeiras, equipamentos que têm o preço de um avião!), exatamente como acontece aqui em Ourilândia do Norte, estado do Pará, situação de pé-de-guerra que irá continuar, até que as autoridades federais consigam reequilibrar a designação daquela área, colocando cada qual no seu lugar e amenizando ou eliminando de vez, as atuais disputas, que só prejuízo trazem ao setor, ao estado de Roraima e ao país! Que venha a PAZ!

Finalizando, triste destino mesmo, teve o PT-CZC, que me acompanhou durante a vida, repleta de fortes emoções de pousos e decolagens em pistas curtas, esburacadas, e em locais inóspitos, em muitas ocasiões com peso acima do limite, sem acidentes comprometedores, vir agora, em Roraima, sofrer primeiro, um atentado com danos à fuselagem, nas mãos de um garimpeiro endoidecido e agora, pelas mãos dos Yanomamis, ser completamente destruído à golpes de borduna, como assisti em um triste vídeo e fotos!

Triste sina, teve meu companheiro dos ares, que deixou registrada uma importante participação na integração das várias regiões do estado do Pará, a exemplo dos bandeirantes mineiros e paulistas que, em suas épocas, eram tratados como heróis, bem diferentes da atual situação de hoje aqui na região!

Esperemos que o sangue dos bandeirantes continue a correr nas veias dos brasileiros porque, caso contrário, daqui há pouco tempo, os donos da Amazônia deverão ser os chineses!