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Uma guerra desconhecida: a Revolta de 1924!!!

Incêndio dos armazéns Narareth Teixeira e Cia, na Mooca

Vinte e três dias de batalha, 503 mortos, 4.846 feridos (na maioria civis) e mais de 20 mil desabrigados. Os números representam o saldo de um episódio pouco conhecido pelos paulistanos, mas de importância histórica para a cidade de São Paulo: a Revolta de 1924, que completa neste mês 95 anos.

Ocorrido entre 5 e 28 de julho daquele ano, o levante armado terminou com o bombardeio simultâneo de bairros como a Mooca, Belenzinho, Ipiranga e o Brás por aviões de combate do governo federal.

“O bombardeio foi terrificante, espalhando o terror. É muito incomum um exército atacar seu próprio povo daquela maneira. A revolução de 1924 é considerada a maior batalha urbana da América Latina”, disse o jornalista e historiador Moacir Assunção, autor do livro “São Paulo deve ser destruída – a história do bombardeio à capital na revolta de 1924”.

Motivação da revolta

Para compreender a razão da revolta, é preciso lembrar do contexto social que o país vivia naquela década. A economia brasileira passava por uma grave crise econômica, muito motivada pela queda nas exportações, tendo em vista que o mundo acabara de sair do período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Além disso, o país vivia um momento político conturbado, em especial pela insatisfação de vários estados com a chamada “política do café com leite”, que alternava presidentes entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. O protecionismo econômico nacional ao café também gerava descontentamentos.

Dessa maneira, vários opositores ao Partido Republicano (paulista e mineiro) se uniram para formar a Reação Republicana, que contou com a ajuda de outros estados, como Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. A maior bandeira dos integrantes da Reação Republicana era que o país protegesse todos os produtos que eram produzidos aqui, e não só o café.

Após uma série de articulações políticas, o país chegou às eleições de 1922 com dois candidatos à Presidência: Nilo Peçanha, da Reação Republicana, e Artur Bernardes, representante do Partido Republicano. Bernardes saiu vencedor da votação, e isso gerou alguns problemas, como a vontade dos militares de “não autorizar” que ele assumisse o cargo, demonstrando um descontentamento com o resultado do pleito.

Primeiro conflito atinge o Rio

Embora o presidente Artur Bernardes tenha conseguido assumir o cargo no Executivo nacional, sua gestão foi recheada de instabilidades. Logo no começo do mandato, em 5 de julho de 1922, ele teve que lidar com um conflito no Forte de Copacabana. Na ocasião, parte das Forças Armadas resolveu pegar em armas para demonstrar seu descontentamento com o novo presidente.

O movimento durou dois dias e acabou sendo dispersado com uso de força bruta, inclusive com bombardeios ao local. Alguns historiadores destacam que esse episódio foi um dos disseminadores do tenentismo pelo Brasil (movimento liderado por militares de baixa patente que buscava derrubar Bernardes).

Após sufocar a revolta no Forte de Copacabana, o governo continuou em outro conflito com os militares, em especial após editar mudanças na Constituição Federal. Parte das Forças Armadas considerou essa atitude um desequilíbrio dos três poderes, e a tensão continuou. A influência desse pensamento na revolta de São Paulo foi tamanha que os revoltosos paulistanos escolheram a mesma data para dar início ao movimento: 5 de julho de 1924.

Tanque de guerra das tropas legalistas

Revolução em SP

A revolta foi comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes e contou com a participação de vários tenentes, como Joaquim Távora, Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes e João Cabanas.

Entre as reivindicações dos militares estavam uma independência maior dos poderes Legislativo e Judiciário, a limitação do poder Executivo, fim do voto de cabresto e a instauração do ensino público obrigatório.

Liceu Coração de Jesus atingido por uma granada revoltosa

Segundo documentos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), foram destruídos, pelos bombardeios e ataques a granadas, o Liceu Coração de Jesus, que serviu de refúgio para a população desabrigada, a Igreja Nossa Senhora da Glória, no Lavapés, ocupada pelos rebeldes, além das instalações das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, do Armazém Matarazzo e da tipografia Oficina Duprat.

O historiador Moacir Assunção ressalta que restam poucas marcas da revolução na cidade, o que pode contribuir para o esquecimento da revolta. “Existem poucas marcas da cidade, uma delas é a chaminé da usina de luz ao lado do quartel da Rota, e marcas de bala na igreja Santa Ifigênia, além de algumas marcas de bombas no antigo Cotonifício Crespo, na Mooca”, afirmou.

Justiça obriga governo de SP a restaurar Chaminé da Luz

“As regiões que mais sofreram foram a Mooca, o Brás e o Cambuci. Esses bairros tiveram um severo bombardeio. A Penha também foi atingida, assim como parte do Centro. Vale dizer que os canhões ficavam postados na Penha e na Vila Matilde atirando o tempo todo”, destacou o especialista.

Vale o destaque histórico de que, durante a revolta, o presidente do estado (cargo equivalente ao de governador nos dias de hoje) Carlos de Campos foi obrigado a fugir, e a sede do Executivo estadual chegou a mudar para a Penha, na Zona Leste da cidade.

Outra curiosidade fica por conta de o prefeito da época, Firmiano Morais Pinto, ter pego em armas para lutar ao lado dos rebeldes e ter proferido a seguinte frase: “Serei o último habitante a abandonar São Paulo, aconteça o que acontecer”.

A revolta teve pouco tempo de duração, sendo encerrada em 28 de julho. Naquela data, os rebelados, que fugiram da capital para escapar do Exército legalista, foram interceptados e derrotados por forças federais na cidade de Três Lagoas, no atual Mato Grosso do Sul.

Soldado rebelde manejando uma metralhadora pesada no bairro do Cambuci