SEPSE: pai inventa robô que identifica a infecção!!!
O analista de sistemas Jacson Fressatto, 37, vendeu casa, carro e tirou dinheiro do bolso para criar um robô que identifica pacientes com perfil para desenvolver sepse, uma infecção generalizada que mata mais de 600 brasileiros por dia, de acordo com dados do Instituto Latino Americano da Sepse (Ilas).
O robô foi batizado de Laura, homenagem à filha de Fressatto que morreu aos 18 dias de vida de sepse. “Eu sempre me imaginei com esposa, filhos, casa, o pacote completo. Não pude ter nada disso. Mas, se eu só me lamentasse, estaria perdido.”
A sepse acontece quando o corpo tem uma reação exagerada a uma infecção. Sem a identificação rápida dos sintomas, a inflamação se alastra e compromete o funcionamento dos órgãos até o ponto de o paciente não resistir.
Qualquer pessoa internada tem que passar por checagem periódica de seus sinais vitais. Se há alguma alteração, como no caso da infecção, a orientação é iniciar tratamento com antibiótico para a situação não evoluir.
“Estudos mostram que, a cada hora sem tratamento, o paciente com sepse tem 8% a mais de chance de morrer”, diz a infectologista Viviane Dias.
Laura morreu em 2010 e Fressatto fez uma promessa de fazer algo para evitar outras mortes. Estudou a doença e foi voluntário em hospitais. Por quatro anos enclausurou-se para desenvolver o sistema, que custou quase R$ 1 milhão –valor dividido entre ele e um investidor-anjo.
O robô é um programa de computador que reconhece sinais de alerta (como alterações na temperatura e em parâmetros sanguíneos). Então, identifica os quadros de risco e avisa a equipe médica por meio de televisões em postos de enfermagem.
“Eu senti um chamado quase espiritual. Lembrei de um ditado que diz que caridade não é doar metade do que você tem, mas sim doar metade da sua respiração”, diz Fressatto.
Se alguém está sob perigo, a tela fica alaranjada e exibe o quarto e o leito do paciente. Caso as equipes demorem a responder, o robô envia alertas para o celular delas.
Usando inteligência artificial, o programa “aprendeu” a identificar sinais da doença cruzando normas de protocolos internacionais e os históricos de 7.000 pacientes internados no hospital em 2016. Desses, 2.500 apresentaram sintomas de sepse e cerca de 300 morreram.
Com mais pacientes, a tendência é o diagnóstico ficar mais preciso. A partir desses dados, Laura também monitora as bactérias que circulam pelo hospital, o volume do banco de sangue e também o risco de epidemias.
Há dois meses no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, o robô provocou queda nos casos de sepse grave. Em 2016, até setembro, a média foi de 1,5 caso ao mês. Depois de Laura, o escore caiu para 0,5 caso ao mês. O tempo para o atendimento médico foi reduzido em 60%.
André Policiano foi um dos primeiros a ser diagnosticado pelo robô. Ele teve uma fratura exposta após um acidente de moto em outubro. Foi só depois de o robô avisar é que os médicos perceberam que ele já estava com a infecção, que não havia se manifestado antes por causa de remédios que cortavam a febre.
O custo de aplicação do sistema é baixo: R$ 42 mil por hospital, incluindo a instalação do software, treinamento das equipes e acompanhamento por cinco anos. Dois hospitais filantrópicos de Curitiba serão os próximos a receber o programa até março de 2017.