GERAL

A Catástrofe de Caraguatatuba em 1967!!!

 

 

 

No próximo dia 18, comemora-se os 50 anos da maior tragédia ocorrida no litoral norte, em Caraguatatuba para ser mais exato, ocasião em que grandes deslizamentos de terras ocorreram, em decorrência das fortes chuvas que caíram sobre a serra.

Trazemos de volta fotos e textos da época, como forma de marcar, de forma indelével, a tragédia que vitimou a população da cidade de Caraguatatuba, onde ocorreram mortes estimadas em números que ainda hoje desafiam as autoridades.

Vejam:

 

 

24No dia 18 de março de 1967, a cidade localizada no Litoral Norte foi arrasada por um deslizamento da Serra do Mar. Número de mortos pode ter passado de 500.

” Onde está Caraguá? – perguntei a um grupo de bombeiros sobre um mar de lama.
– Aqui embaixo, sob seus pés – um deles respondeu.
Era sábado, tarde da noite, 18 de março de 1967. O repórter Hamilton de Almeida foi enviado a Caraguá pelo mar. E eu, por terra, as estradas da Serra do Mar sepultadas.O Diretor de Redação do Diário do Comércio, Moisés Rabinovici, que em 1967 trabalhava como repórter do JT, lembra as primeiras cenas daquela que era considerada, até anteontem, a maior tragédia da História do Brasil provocada por chuvas, em apenas um dia.

Após dois dias de chuvas constantes, a manhã daquele sábado ficaria marcada para sempre na história de Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo, quando uma avalanche de pedras, árvores e lama desceu da Serra do Mar e destruiu a cidade.

O episódio, conhecido na época como hecatombe, provocou muitas mortes. Segundo as autoridades, teriam passado de 500, embora nunca tenha sido contabilizado um número oficial.

A cidade ficou isolada e 3 mil dos 15 mil moradores perderam suas casas. Um balanço feito em 21 de março apontava que 30 mil árvores haviam descido as encostas e se espalhado pela cidade. O rio Santo Antonio, que corta a cidade, passou de 40 para 200 metros de largura. Para qualquer lado que se olhasse, a Serra do Mar apresentava deslizamentos como os que afetaram Angra dos Reis e Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, no ano passado.

Mesmo que a enchente de 1967 tivesse levado as últimas construções históricas de Caraguatatuba, a documentação sobre chuvas na cidade é bastante farta. Um ofício do então presidente da província de São Paulo José Joaquim Fernandes Torres, datado de 21 de fevereiro de 1859, já alertava que “devido aos repetidos temporais de pesadas chuvas, que há mais de um mês desaba em todo o município, em especial um que houve no dia 20 de janeiro, por um pouco não arrasa Caraguatatuba.”

O “por um pouco”, citado no livro Santo Antonio de Caraguatatuba – Memória e Tradições de Um Povo, do historiador Jurandyr Ferraz de Campos, acabou acontecendo 108 anos depois e apenas 20 anos após a elevação da cidade a estância balneária, em 30 de novembro de 1947.

A tragédia foi tão impactante que o governo decidiu criar a Defesa Civil Estadual, uma resposta à falta de coordenação dos órgãos públicos para tratar de catástrofes como aquela, que também é lembrada como o dia em que a serra caiu.
Diário do Comércio.

Os deslizamentos em Caraguatatuba 1967

O verão 1966/67 foi bastante chuvoso em várias áreas do Sudeste. Caraguatatuba teve chuvas acima da média em todos os meses da estação (Dados do posto pluviométrico do Bairro Rio do Ouro, médias entre parênteses). Dezembro/1966: 440,7 mm (265), 29 dias de chuva – Janeiro/1967: 541,2 mm (280), 31 dias de chuva – Fevereiro: 268,6 mm (260) 28 dias de chuva – Março (Até dia 18. Sem dados o resto do mês): 415,7 mm (230), 18 dias de chuva. Como se pode ver, contando as precipitações fracas, choveu praticamente todos os dias. No dia 17/03 o posto em questão registrou 50,4 mm, sobre um solo já totalmente encharcado.

Do dia 17 para o dia 18, mais 195,5 mm. No dia 18, um sábado, no início da tarde, segundo relatos da época, uma avalanche de lama, pedras, milhares de árvores inteiras e troncos desceu das encostas da Serra do Mar, pelo vale do Rio Santo Antônio (Que nasce na serra e deságua no mar, atravessando a cidade), arrastando tudo que havia pela frente, inclusive a ponte. A maior parte do trecho de serra da SP-99 (Rodovia dos Tamoios, que liga São José dos Campos a Caraguatatuba) desapareceu serra baixo, junto com as encostas.

Cerca de 400 casas sumiram debaixo da lama e a cidade ficou com mais de 3.000 desabrigados (20% da população na época), pelo menos um ônibus lotado e alguns veículos, que trafegavam na estrada, desapareceram. Fala-se em 200 mortos mas nunca se soube o total exato; dezenas de desaparecidos jamais foram encontrados, possivelmente arrastados para o mar. A cidade ficou dias sem telefone e energia elétrica e meses sem acesso a São José dos Campos. O trecho de serra da rodovia SP-99 teve de ser totalmente reconstruído e hoje quase não há vestígios da estrada antiga. É o maior deslizamento de encostas que se tem notícia no Brasil. – Banco de Dados Pluviométricos do Estado de S. Paulo.

AGORA, MORTOS E LAMA

Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 21 de março de 1967
(Neste texto foi mantida a grafia original )
Caraguatatuba está sob a lama, Sábado à tarde, depois de três dias de chuva, começou o deslizamento dos morros. Arvores foram arrancadas e arrastadas pela enxurrada, levando pessoas, animais e casas. Toda Caraguatatuba, desde a praia Martim de Sá – onde se sai para Ubatuba – até a Santa Casa, do outro lado da cidade, foi varrida. Oitenta corpos já foram recolhidos muitos deles ainda não identificados e por ora não se pode prever o numero de mortos: muitos lugares populosos não podem ser atingidos.

Por terra não se chega ao litoral Norte. Na estrada Paraibana-Caraguatatuba a partir do Mirante, no quilometro 194, até o quilometro 199, trinta barreiras caíram, obstruindo a estrada. E no quilometro 202 a estrada desapareceu, levada pelas aguas, em quase dois mil metros. Aí, no sapé de um morro, isoladas de tudo e de todos, pessoas acenam desesperadamente para os helicópteros que passam ao longe.
Outra família está ilhada num precipício, na estrada. Caiu tudo ao redor e eles ficaram presos numa Kombi. Estão lá desde sábado, homens, mulheres e crianças. Hoje de manhã um helicóptero do Centro Técnico de Aeronáutica, de São José dos Campos, tentará a salvamento.
A primeira turma de salvamento chegou a Caraguatatuba no domingo de manhã. O transporte foi feito em rebocador, de Santos a São Sebastião, de lá em barco de pesca até Caraguatatuba. Eram soldados, enfermeiros e médicos. Outra turma, formada pelo delegado de Ubatuba, saiu de madrugada, por rodovia, e só chegou às quatro da tarde.
Logo depois do rebocador “Sabre”, seguiu o navio oceanográfico “Almirante Saldanha”, levando equipamento de socorro de emergência e gêneros alimentícios. Era esperado de volta pela madrugada, trazendo para Santos 500 desabrigados e feridos. Também foi mobilizado o petroleiro “Mato Grosso”, da Fronape.
Ontem o navio “Rio das Contas” deixou o Colégio Naval, em Angra dos Reis, e foi para Caraguatatuba para retirar feridos e desabrigados. Também o rebocador “Tritão” partiu da Guanabara levando mil litros de gasolina para o reabastecimento dos helicópteros da Marinha.
Às 21 horas o QG da Força Publica recebeu pelo radio aviso do comando do 5º Batalhão Policial de Taubaté, informando que a tropa que seguiu por terra já alcançou Caraguatatuba. O sistema de energia elétrica foi restabelecido parcialmente.
Para os primeiros socorros, a Força Publica mobilizou 350 homens, entre oficiais e praças, pertencentes a oito unidades, de São Paulo, Taubaté e Santos.
A equipe que chegou ontem a Caraguatatuba levou emissora de rádio portátil, que transmitirá para o QG os dados que forem sendo colhidos.

A informação da Policia Rodoviária é de que a estrada de Paraibuna a Caraguatatuba poderá ficar interrompida por três meses. Uma variante deverá ser aberta, mas todos os homens e maquinas disponíveis foram deslocados para trabalhar na estrada entre Ubatuba e São Luís do Paraitinga, também interrompida, mas que está em condições de ser recuperada nos próximos dias.

Após catástrofe, governo estadual criou a Defesa Civil.

Reportagem: Evandro Félix (Rádio Web Caraguatatuba), enviada por nosso amigo Vitor Moreira de Santana